segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A ÁFRICA DE NAIPAUL - Pondé

QUER CONHECER um pouco sobre a África? Leia V. S. Naipaul. Recomendo. Aliás, o Nobel recomenda. Mas Nobel não basta. Saramago foi Nobel e sempre o achei um chato. Seu livro sobre Caim é um desfile de bobagens e desinformações sobre a Bíblia. Qualquer um que conheça um pouco desse clássico da literatura hebraica antiga perceberá que Saramago não entendia nada sobre o assunto.
Leia "A Máscara da África - Vislumbres das Crenças Africanas", publicado no Brasil pela Companhia das Letras. O livro traz a narrativa da recente visita de Naipaul a alguns países da África. O resultado é um jornalismo sofisticado em detalhes e reflexivo tanto na forma quanto no conteúdo.
O intrigante, hoje em dia, é que muito "inteligentinho" acha que combater o preconceito é inventar mitos de bondade e pureza sobre o "outro". Naipaul é um antídoto contra essa doença infantil.
Aliás, algo que surpreende Naipaul com relação à África é o fato de que muitos povos de lá não tinham alcançado a escrita antes de entrar em contato com muçulmanos e cristãos (ou seja, "ontem"), quase todo seu passado é mito e quase nada é história. É mais ou menos como viver em delírio constante quanto ao seu passado, sem saber o que de fato foi real e o que foi apenas devaneio.
É comum tratar Naipaul como "eurocêntrico", o que, por si só, já é uma boa recomendação, pois significa que a moçada politicamente correta, que exerce essa censura sem caráter, não gosta dele.
Não há nada no livro que nos remeta a "preconceitos", mas há, sim, muita coisa que revela a tristeza que ainda assola a África e que sempre existiu, mesmo antes dos absurdos que os brancos fizeram por lá. A grande mentira sobre a África é que os brancos tornaram-na violenta, pobre e infeliz. Não, ela é assim há muito tempo. Mas os europeus tampouco ajudaram.
Hoje em dia, é comum obrigar alunos a estudar a história da África. Pergunto-me como isso é feito. Temo que a África seja compreendida como um doce de coco que só não é melhor por culpa dos malvados brancos.
Não, todos os homens são maus, pouco importam cor, sexo, raça ou crença. Alguns poucos se destacam pelo bem. É verdade que esgotos, estradas e a recusa embutida nos sacrifícios humanos ajudem um pouco a você deixar de ser um bárbaro.
O livro de Naipaul dá atenção especial às crenças africanas. A catequese cristã e a islâmica destruíram o tecido das crenças ancestrais de muitos africanos, os deixando nem lá nem cá.
Por exemplo, queimar pessoas vivas foi um hábito dos povos africanos até "ontem". Ou melhor dizendo, até "hoje".
Matar, despedaçar, cortar órgãos e queimar pessoas por razões religiosas (e outras) sempre foi uma prática comum entre povos de Uganda, por exemplo. Em grandes quantidades.
Sim, eu sei que europeus também fizeram isso. Lembra o que eu disse acima sobre os homens serem maus? Mas a questão aqui não é essa, mas, sim, combater o "preconceito" de que a miséria material e moral africanas tenham sido criadas pelos europeus.
O encontro de culturas que não conheciam a roda até "ontem" (é isso aí...) com os colonizadores europeus (que nunca tiveram nada de bonzinhos) criou países à deriva.
Exemplos de tragédias cotidianas entre populações pobres numa mesma edição de um jornal ugandense:
1 - "Homem queima dez pessoas numa cabana". Um homem briga com sua mulher, joga gasolina e toca fogo. Entre as dez pessoas, sete eram crianças.
2 - "Meu marido foi cortado em pedaços com um machado na minha frente". Além de matar o marido, o assassino cortou uma mão da mulher; enquanto despedaçava a vítima, acusava-a de poligamia, daí a suspeita de que algo de cristianismo x "paganismo" estava em jogo na "disputa".
3 - "Acusada de queimar filho vivo". Esse parece ser um gosto da "cultura ugandense" mais "primitiva": queimar gente viva; o filho de 18 meses estava num saco com as pernas atadas.
Fora as manchetes, a bruxaria é comum até hoje. Diretores de escolas podem ser mortos por serem acusados de bruxaria e irmãos podem matar sua tia de 42 anos, além de arrancar sua mandíbula e sua língua com o intuito de fazer mágica. Até hoje, a bruxaria é "oficial" em muitos lugares da África.
Puro neolítico?

6 comentários:

George disse...

"Fora as manchetes, a bruxaria é comum até hoje."

Só acho que em qualquer jornaleco sensacionalista por aí, no mundo todo, aparece manchetes tão chocantes ou mais ...

"Bruxaria"?

Julio disse...

Sugiro que leiam Brasil Nunca Mais, poderão ter uma idéia de quanta "riqueza moral" os soldados americanos vinham ensinar para os soldados brasileiros.

Mas disso o Pondé nunca fala.

flávia disse...

Sugiro que leia qualquer manchete sobre a nossa política e vai entender o que a patetada marxista ensinou a nossos políticos.

Carlos disse...

Muitos países africanos, não só a Uganda, ainda vivem em disputas tribais e mantem sim suas culturas, nem precisa ler nenhum Nobel - de literatura de viagem - pra saber.
Usando a metáfora do futebol, Pondé parece aquele zagueiro que perde o tempo da bola e acaba atingindo o adversário, ou chutando a canela 'prá não perder a viagem', não entendi o que Saramago tem a ver com isso...

flávia disse...

Pondé ataca a mesmice que se fala todos os dias nas escolas e nas mídias. Quem é professor sabe que hoje é obrigatório ensianr "História da África" e que os livros estão cheios desse tipo de coisa. Quem aprofunda sabe do que ele tá falando e que isso realmente não é novidade, mas é pouco difundido, só para quem vai atrás.
Sobre o Saramago, leia de novo: ele só afirma que ter um Nobel não elimina as besteiras que alguns autores dizem. E só.

Mateus disse...

Pois devia ser ensinado história indígena também.

O livro Povo Brasileiro do Darci Ribeiro, deveria ser mais ocnhecido nas escolas.