segunda-feira, 21 de julho de 2014

Não sou responsável por aquilo que cativo

Não, eu não sou eternamente responsável por aquilo que cativo.
Saint-Exupéry estava errado. 
Não é a toa que é a raposa quem fala. Animal astuto, sabe cortejar suas vítimas. Coitado do pequeno príncipe, ainda tão imaturo, não sabia que poderia contestá-la. 
Afirmar que se é responsável eternamente por aqueles que te amam é tragédia declarada. Não sou, não posso ser responsável por aqueles que cativei, afinal, para o ato de cativar são necessários dois seres, dois sentimentos recíprocos, duas almas desejantes de amor e carinho. 
Pequeno príncipe habitou toda minha infância e adolescência. Lia e relia o livro já todo desenhado e rasgado, mostras do tempo que me acompanhou. Eram tão lindos os diálogos. Melancolia sem fim. Imaginava passar os dedos pelos caracóis dourados dos cabelos do príncipe. Imaginava o deserto. Uma flor solitária. Um universo bastante pesado para o cotidiano de uma criança. E logo tomei por frase de cabeceira essa que hoje renego: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Virou marcador de livro. Escrito à mão, doei de presente à um amor pueril. Hoje nem sequer penso mais nesse amor. Desobedeci a raposa e fui irresponsável com meu cativo.
Hoje reafirmo: liberto todos meus cativos! Não quero mais responsabilidades dessa estatura. 
Estou, por fim, livre da sentença da raposa. 


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