sexta-feira, 14 de março de 2014

A esterelidade ninfomaníaca

Não vá assistir Ninfomaníaca esperando um filme erótico. Lars von Trier, como de costume em seus últimos filmes, destila frieza e melancolia
Comecei pelo fim. O fim da ninfomaníaca. As citações a Anticristo estão lá, gritadas. A mãe agora já não goza mais em detrimento da vida do filho. Ela perdeu a capacidade prazerosa de seus orifícios.
"Preencha todos os meus buracos", diz Joe. Literalmente, diria você, afinal, trata-se da ninfomaníaca. Metaforicamente, diria eu. Um ser repleto de buracos, preenchidos pela solidão de seu vicio.
Ninfomaníaca, diz Joe. Nunca "viciada em sexo". E não há um único momento de prazer ou desejo. A esterilidade tomou conta de tudo. Preencheu todos os buracos de Joe
O mal está lá. David Bowie também. Assim como a árvore seca e retorcida.
Um ícone russo a observa contar infâmia ao velho virgem Seligman, um monge laico. O conteúdo religioso é sempre abundante em von Trier: uma experiência mística toma conta da pequena Joe aos 12 anos; na aparição que ela julgava ser a virgem Maria, se encontrava, realmente, com personagens apocalípticos.
Lars von Trier nunca aliviou o jugo. Não há espaço para o politicamente correto em sua câmera. Apenas ironia com pouca dose de lirismo e muita coerência. Sim, von Trier e sua ninfomaníaca são atenciosamente coerentes, afinal, o slogan é claro: forget about love.
Dessa vez nem a sacralidade de Tarkovski suportaria.