sábado, 28 de janeiro de 2012

Sempre vale a pena ver de novo

E revi, mais uma vez, um dos mais belos filmes já feitos pelo cinema francês.
O Oitavo Dia, (1996), de Jaco Van Dormael, é sensível, delicado e divertido, misturando fantasia e realidade sem perder o fio da meada. A medida certa do bom cinema.
Esta deve ser a quarta ou quinta vez que o vejo. E certamente não será a última.




E semanas atrás, motivada por um certo artigo, também revi As Pontes de Madson (1995), de Clint Eastwood. Não me lembrava do porquê sempre ter na memória este como um dos mais tristes filmes já visto. E então me lembrei. Não foi a atuação de Eastwood ou de Streep, e nem tanto a história em si - que é belíssima - mas a sensação de uma cena em particular. A caminhonete. A chuva. O que quase foi.


O divã de von Trier


Europa
Lars von Trier
1991

Este filme faz parte de uma trilogia de von Trier (sendo os outros Epidemia (1987) e Elemento do crime (1984)) que marcou o início da carreira do diretor.
Baseando-se na Alemanha do pós-guerra e nos fantasmas que ainda circundavam a Europa do holocausto, von Trier consegue uma atmosfera noir não apenas pelas técnicas empregadas no filme mas principalmente pelo terror psicológico. O filme é narrado como se estivéssemos num divã, durante uma sessão de regressão ou hipnose. Tudo o que o personagem principal faz é previamente anunciado pela voz em off. As cenas em preto e branco dão lugar às cores em específicos momentos que podem demonstrar horror, lucidez ou libertação, como se, ainda no divã, nos deparássemos com nossos escorpiões e, após aberta a caixa do inconsciente, nada mais pudesse se esconder na penumbra.
E aqui já se percebe elementos que mais adiante, nos próximos filmes, são retomados de maneira sublime: a cena final de Dogville, a cena da grama em Anticristo, a própria melancolia de Melancolia.
A minha dedução é que Lars von Trier  nunca mudou: o germe do cinema fantástico que vemos nos últimos anos já estava aflorado desde os primeiros roteiros e filmagens. Um gênio (ainda que suspeito) do cinema atual.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Esclarecimento sobre Pinheirinho

Carta da Polícia Militar difundida por e-mail para esclarecer o caso Pinheirinho:


Entenda a Operação Pinheirinho.A ação de reintegração de posse na Comunidade de Pinheirinho é da Justiça Estadual. A atuação da Polícia Militar foi em apoio aos Oficiais de Justiça para que a área fosse desocupada, sempre dentro da legalidade e com respeito incondicional aos direitos humanos e às pessoas. Caso algum fato pontual tenha se desviado dessa orientação, será rigorosamente apurado.


Histórico: Desde o ano de 2004, a área se encontrava invadida e famílias ali se instalaram, dando início a uma demanda judicial de reintegração de posse que já se arrasta por mais de sete anos. Durante todo este tempo, muitas famílias foram se aglomerando na região e estimava-se em 700 famílias e 3.000 pessoas.
A reintegração deveria ocorrer no dia 17, contudo houve uma liminar da Justiça Federal e, na dúvida da competência, foi suspensa. Esse conflito foi afastado pela Corte Estadual que determinou a imediata reintegração, o que aconteceu no último dia 22.

O planejamento da ação:
Preocupada com a integridade física das famílias, a Polícia Militar planejou minuciosamente a ação com levantamento do serviço de Inteligência, comunicação prévia a todos os envolvidos por meio de ampla divulgação com uso de panfletos lançados de aeronave, comunicados à imprensa, além de contato direto estabelecido pelos policiais militares junto aos moradores.
O planejamento durou dois meses e meio, com todas as etapas comunicadas à autoridade judiciária estadual responsável pela a ação, envolvendo as necessidades de meios materiais para transporte e mudança do patrimônio das pessoas, assistência social, psicológica e tudo o que fosse necessário para o menor transtorno possível.

Sabia-se que a maioria das pessoas que lá residiam eram de bem, contudo havia também infratores da lei que perpetravam ações criminosas e prejudiciais à própria comunidade Pinheirinho, inclusive tráfico de drogas.
Outro ponto que causou preocupação da Polícia Militar foi os preparativos para o enfrentamento observado por alguns moradores, exibindo pontaletes, barricadas de madeiras e pneus, tudo para resistir à ordem judicial.

Preocupação comprovada, pois durante a ação foram detidas 32 pessoas, 9 ficaram presas e 13 carros, e uma padaria queimados.
Repercussão da ação:

Declarações falaciosas que têm sido propaladas por pessoas descomprometidas com os reais valores democráticos tentam macular a ação e legítima realizada pelos policiais militares, não obstante a disposição reativa, e até criminosa, demonstrada por manifestantes armados e preparados para o confronto, conforme se pode constatar nos links abaixo:
http://br.noticias.yahoo.com/fotos/reintegra%C3%A7%C3%A3o-de-posse-em-s%C3%A3o-jos%C3%A9-dos-campos-1326476916-slideshow/
http://br.noticias.yahoo.com/fotos/reintegra%C3%A7%C3%A3o-de-posse-em-s%C3%A3o-jos%C3%A9-dos-campos-1326476916-slideshow/pinheirinho-photo-1326476748.html
http://br.noticias.yahoo.com/fotos/reintegra%C3%A7%C3%A3o-de-posse-em-s%C3%A3o-jos%C3%A9-dos-campos-1326476916-slideshow/pinheirinho-photo-1326476749.html
http://br.noticias.yahoo.com/fotos/reintegra%C3%A7%C3%A3o-de-posse-em-s%C3%A3o-jos%C3%A9-dos-campos-1326476916-slideshow/pinheirinho-photo-1326476755.html


Por outro lado, instituições regularmente constituídas para defender os valores supremos, como direito à vida, à integridade física e à dignidade da pessoa humana, também se irmanam com a Polícia Militar na defesa da legalidade e nos apoiam no cumprimento dessa missão, conforme se observa em seus respectivos sites:http://www.oabsjc.org.br/site/boletim3.asp?codnot=100157
http://portal.tj.sp.gov.br/Institucional/CanaisComunicacao/Noticias/Noticia.aspx?Id=12936
http://www.jb.com.br/pais/noticias/2012/01/23/prefeitura-e-pm-negam-mortes-em-acao-no-pinheirinho/
http://oglobo.globo.com/pais/derrubada-de-casas-no-pinheirinho-termina-quarta-diz-pm-3748878


Mensagem final:
A Polícia Militar do Estado de São Paulo, instituição legalista que é, deixa claro que, em seus 180 anos de existência, sempre trabalhou em consonância com o ordenamento jurídico e balizada em três princípios básicos, que são: respeito integral aos direitos humanos, filosofia de polícia comunitária e gestão pela qualidade, sendo seu único escopo o respeito ao cidadão, ao povo brasileiro e às instituições democráticas. E assim sempre será.

Polícia Militar do Estado de São Paulo
Compromisso com o cidadão.


A imagem abaixo vem sendo divulgada pelo Facebook e só completa o conteúdo da carta:



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Seu Catacumba - Pondé



Conversava eu com um exu numa festa num terreiro de candomblé quando, de repente, ele começou a falar de mulher. Grande especialista. Para quem é "consumidor" do sexo frágil, exus são grandes mestres. Você já conversou com um exu?

Recomendo conversar. Pura sabedoria popular, daquelas que marxistas menos obcecados chamariam de espírito menos alienado porque mais "orgânico". No caso, a palavra "espírito" tem duplo sentido, e um deles é espírito como "fantasma incorporado".

Não, exus não são demônios, são mais uma espécie de orixá que media as relações entre nós e os deuses. Alguns os relacionam a Hermes (Grécia), Mercúrio (Roma) e Thot (Egito), todos os três deuses mensageiros entre os homens e os deuses.

Como ele está em meio ao nosso mundo, é "melado" com ele, claro. Ocupa-se de nossas demandas e, por isso, são famosos por "trancarem ou abrirem as encruzilhadas da vida".

Claro que existe aí um sincretismo, porque este exu também tem um nome próprio de "quando viveu na Terra", e orixá africano "puro" nunca "viveu na Terra" como um encarnado.

As parceiras dos exus são as "pombagiras", mulheres que gostam de falar de amor e sexo, que, quando vivas, tiveram muitos amantes e que representam, assim como os exus, a dimensão mais carnal e erótica da vida.

Quando elas "descem" e começam a dançar, é bonito de ver e de escutar suas músicas de lamento de amor e de desejo de sexo.
Incrível como também nessa religião de origem africana, as mulheres são especialistas em amor e sexo e só pensam "naquilo".

Ingenuidade masculina pensar que somos mais obcecados por sexo do que elas. Se um dia você, meu caro leitor, tiver a chance de ouvir um papinho entre mulheres, você provavelmente vai se sentir um santinho inexperiente.

Então me dizia "Seu Catatumba", o nome que ele escolheu para si mesmo depois de assumir sua função na "falange" dos exus: "Não dá para entender as mulheres!". Imagine só: o cara é um deus numa religião africana e me disse isso num papo em que ele e eu fumávamos charutos cubanos e bebíamos cerveja.

Até os deuses sabem disso, menos elas. As mulheres são incompreensíveis. Mas essa incompreensibilidade não as atinge prioritariamente quando atuam como profissionais, mas principalmente quando relações de afeto estão envolvidas.

Dizia "Seu Catatumba": "Quando você está dizendo a verdade, ela não acredita; quando você está mentindo, ela acredita; quando chora, é porque ri por dentro; quando ri, é porque está triste; quando você acha assim, ela acha assado, quando você acha assado, ela acha assim; quando você vai para cá, ela vai para lá; quando você vai para lá, ela vem para cá; quando diz sim, é não; quando diz não, é sim".

Ríamos juntos, o "sobrenatural" e eu. Uma delícia levar um papo sobre mulher com o "sobrenatural", fumando legítimos cubanos (presente meu para ele) e cerveja, e ver que nem ele sabe nada sobre o que as mulheres querem.

Meu caro Freud, você está perdoado: nem deuses africanos sabem o que a mulher quer.

"Seu Catatumba", pelo que me disse, "morreu de mulher" (por causa de mulher). Aliás, morte bem dramática e digna de ópera: esfaqueado pelas costas. Como se dizia antigamente, "crime passional", hoje seria apenas "crime de gênero".

Teoria de gênero é a teoria segundo a qual não existe mulher e homem, mas sim "construções sociais" a serviço da opressão, assim como o mito do Papai Noel está a serviço das lojas de brinquedos. Para os tarados da teoria de gênero, um exu é apenas mais um machista.

Continuava "Seu Catatumba": "Morri de mulher; passei a vida atrás delas; tentei sempre fazer o que elas queriam; sempre amei as mulheres; sempre no meio delas, atrás delas; coisa gostosa é mulher; a gente homem é bicho bobo por mulher, e sempre acaba morrendo por causa de uma".

Não é novo o que me disse o exu, mas é encantadora a ideia de que mesmo ele, meio homem, meio deus, aliás, como uma espécie de Eros platônico em versão africana, confirma: não dá para entender as mulheres.

Você pergunta se eu acredito em exus? "Yo no creo en las brujas pero que las hay las hay."