terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Cinema para adultos - J.P. Coutinho

Quentin Tarantino e Kathryn Bigelow são as polêmicas cinematográficas do momento. Tudo porque os dois assinaram filmes que não se ajustam à visão "liberal" (leia-se: politicamente correta) que reina nos Estados Unidos e nas cabeças ocas de Hollywood.

Comecemos por Tarantino:

"Django Livre" é, cinematograficamente falando, um dos seus melhores filmes.

Mas, na cabeça das patrulhas, a arte de Tarantino não deve ser consumida com critérios estéticos. Só com critérios éticos e historicamente estreitos: Tarantino desrespeitou o passado de sofrimento dos negros, acusou Spike Lee, antes mesmo de ter assistido ao filme.

E, depois de Spike Lee, vieram as brigadas dos direitos civis, que acusaram o diretor de fazer uma caricatura da escravidão.

Com Kathryn Bigelow, uma mulher que tem mais testosterona do que todos os machos liberais de Hollywood juntos, o problema foi outro: em "A Hora Mais Escura" (que estreia em 15 de fevereiro no Brasil), Bigelow faz uma apologia da tortura e das execuções extrajudiciais. No caso, a execução de
Osama Bin Laden.

Suspiros. Que dizer? Talvez o óbvio: nem Tarantino nem Bigelow são culpados dos crimes de que são acusados. E, para isso, é importante assistir aos filmes.

Em "Django Livre", Tarantino conta a história de um escravo que se transforma em anjo vingador no sul pré-revolucionário dos Estados Unidos. Django quer libertar a mulher, escrava como ele; mas quer também castigar violentamente os próprios escravocratas.

No fundo, Tarantino repete, em "Django Livre", o mesmo programa de "Bastardos Inglórios": o cinema como instrumento redentor da história, onde os carrascos são punidos pelas suas vítimas.

Em "Bastardos Inglórios", os carrascos eram os alemães em plena Segunda Guerra Mundial, rebentados às pauladas por um judeu com particular talento para esmagar crânios nazistas.

Em "Django", esse prazer infantil e extravagantemente visual pertence a um escravo. Onde está o crime?

O crime, é lógico, está no fato de Tarantino virar o jogo, concedendo às vítimas da história uma espécie de vingança póstuma e cinéfila. As patrulhas politicamente corretas perdoam tudo. Exceto que as suas vítimas de estimação tenham direito a usar paus, chicotes ou armas.

E se assim é no cinema, assim será na realidade: hoje, muitas das críticas à política de Israel são por simples compaixão frustrada. Como é possível que os judeus de ontem, dóceis como cordeirinhos, não estejam mais dispostos a marchar pacificamente para o gueto ou para o matadouro?

Finalmente, Kathryn Bigelow. No seu penúltimo filme, "Guerra ao Terror", Bigelow já tinha tocado em nervo sensível ao mostrar o gosto que existe nos homens pela adrenalina da destruição. Nada que Joseph de Maistre ou, posteriormente, Sigmund Freud não tenham explicado por escrito.

Dessa vez, em "A Hora Mais Escura", Bigelow vai mais longe --e faz uma vênia a Nietzsche para mostrar a verdade mais trágica da nossa civilização: o fato de ela se sustentar no trabalho sujo de terceiros.

O liberal progressista gosta de acreditar que o mundo é um jardim infantil, onde os homens são naturalmente bons e tudo se resolve pelo "diálogo" e pelo "respeito".

Bigelow mostra o outro lado da fantasia. Mostra como as nossas vidas de conforto e segurança são muitas vezes garantidas por "sangue, suor e lágrimas". De aliados, sem dúvida. Mas, sobretudo, de "inimigos".

E uma sequência do filme ilustra o ponto de forma brutal: quando vemos Sua Santidade Barack Obama, em entrevista televisiva, garantindo que os Estados Unidos não torturam -e os torturadores assistem à entrevista, sem esboçar um sorriso, na pausa de uma das torturas. Desconfortável?

Sem dúvida. Mas quem quer verdades confortáveis pode sempre assistir a "Argo", filme dirigido por Ben Affleck que, suspeita minha, vai levar o Oscar de melhor filme neste ano.

Em "Argo", um operacional da CIA entra no Irã revolucionário de 1979 para resgatar o pessoal diplomático da embaixada dos Estados Unidos. Entra sem disparar uma bala, sai sem disparar uma bala.

Honestamente: haverá coisa mais bonitinha?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Lincoln, Obama e Bono Vox

Obama não tem nada a ver com Lincoln. Ele quer se vender como o Lincoln negro, mas é festivo demais para sê-lo. Ele é um Carter que tem a sorte de ser negro.

Obama é um presidente fraco, demagogo e oportunista. O Chávez dos EUA (apesar de que Chávez tem mais "cojones" do que Obama). Compará-lo a Lincoln é uma piada.

Obama está mais para Bono Vox, que ganha muita grana com fotos de crianças da África, dizendo coisas "legais" para gente que tem uma visão de mundo de 12 anos de idade -coisa em voga hoje.

Lincoln foi um presidente que levou os Estados Unidos a uma guerra que matou cerca de 2 milhões de americanos, uma "sangueira patriótica", como dizia o crítico Edmund Wilson. A Guerra de Secessão, o Norte contra o Sul, não foi uma disputa ao redor da abolição da escravidão nos EUA.

O que estava em jogo não era a escravidão acima de tudo, era o Sul querer sair da União. Era o Sul querer ser livre para seguir seu modo de vida pré-moderno.

Mesmo se os confederados (o Sul) tivessem aberto mão dos escravos, Lincoln os teria devastado, porque o que estava em questão era o controle político e militar do território e a expansão do modo moderno de economia e sociedade.

Incrível como o pensamento público cai nesse papo de Lincoln "liberal". Ser abolicionista na época não era ser liberal; no Brasil, o conservador Joaquim Nabuco foi abolicionista. A "inteligência liberal" deve deixar Lênin, Stálin e Fidel, nada festivos, muito irritados.

Lincoln está mais para Bibi Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, do que para Obama. Lincoln invadiria os territórios palestinos e os anexaria.

A guerra foi o modo pelo qual o Norte, industrializado, capitalista, cético, materialista, portanto, moderno, invadiu e destruiu a civilização aristocrática, rural, tradicional, pré-moderna sulista. Os "ianques" (o Norte) conquistaram o Sul, assim como espanhóis, portugueses, ingleses e franceses conquistaram as Américas e a África. Os confederados queriam a independência. Lincoln disse "não, o Sul também é nosso", e levou os EUA à guerra que fez do país definitivamente uma nação moderna.

Lincoln era um cabra macho. Os "ianques" massacraram o Sul, roubaram suas terras, mataram seus homens, violentaram suas mulheres. Soldado sempre foi para guerra para ganhar dinheiro e violentar as mulheres dos vencidos. Foi nessa guerra que inventaram a metralhadora, para matar mais gente de modo mais eficaz.

Obama não seria capaz disso porque ele gosta de coquetel beneficente e falar para jovens sobre música afro-americana. Ele jamais tomaria uma decisão como essa, ele é fraco demais (paralisou os EUA no Oriente Médio), preocupado em agradar o marketing liberal americano ("liberal" é "progressista" nos EUA) e passar para a história como o cara mais legal da América.

O máximo que ele faria seria levar os americanos para um show do Bono Vox. Se Obama não fosse o primeiro presidente negro da história, não teria sido reeleito, e depois de 48 horas do término do seu mandato seria esquecido na lata de lixo da história.

Sua relação com Lincoln é a ideia de que ele seria um presidente a deixar uma América "liberal", assim como Lincoln. Mas Lincoln não era "liberal", ele não queria que os EUA perdessem território e grana.

Acho importante que as pessoas sejam iguais perante a lei, pouco importa se são héteros ou homos.

Minha crítica ao Obama não está em seu possível legado "progressista" (que não é dele, mas dos Kennedy) em termos políticos, mas sim a sua ideia errada de que os EUA devam seguir um modelo europeu centralizador.

Os EUA são o que são porque nunca foram centralizadores, e o governo nunca esmagou o cidadão comum fazendo dele um retardado mental econômico e moral como no Estado de bem-estar social europeu.

O problema com Obama é sua têmpera "liberal". Esta têmpera, cozida em campus acadêmico, gosta de festa, greves de estudantes e professores (ninguém está nem aí para esse tipo de greve porque a sociedade no seu dia-a-dia passa muito bem sem alunos e professores universitários) e boa vida.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Fechando as férias

Um filme politicamente incorreto; um bom filme tennager; um péssimo filme "cult". 

Django Livre

As Vantagens de Ser Invisível

Amores Imaginários


Django Livre é um típico Tarantino, ou seja: midiático, sangrento e engraçado. Destaque para a trilha sonora, como sempre impecável e muito pertinente. As quase três horas de filme são muito bem aproveitadas. 
As vantagens de ser invisível é um filme pouco pretensioso mas excelente para adolescentes: não é bobo, tem bons atores e aponta temas duros para a idade em questão (chega a ser um pouco exagerado nisso, mas afinal, qual adolescente não exagera em seus sentimentalismos?). E a trilha sonora: Bowie, Smiths e cia. Deliciosa. 
Tinha certa expectativa com a produção canadense Amores Imaginários, o que me deixou bastante frustrada. É um filme que abusa da câmera lenta - enjoa. Não há enredo. Os atores são lindos mas pouco expressivos. Não há nem como classificá-lo: independente ruim, cult frustrado (e o que é cinema cult afinal? Existe isso?). Pelo menos os ouvidos foram salvos: Vive la Fête e uma versão italiana de Bang, Bang