quinta-feira, 19 de junho de 2014

Não é mais um filme gay.

"Eu, Mamãe e os meninos".

Assim define a sinopse do Festival de Cinema Varilux:

"A primeira lembrança que tenho da minha mãe foi quando tinha 4 ou 5 anos. Ela nos chamava, meus dois irmãos e eu, para o jantar dizendo : "Meninos e Guillaume, está na mesa !" e da última vez que falei com ela pelo telefone, ela desligou me dizendo: "Um beijo, minha querida"; pois é, digamos que entre essas duas frases, há alguns mal-entendidos".
Guillaume cresceu como menina: imitava a mãe - seu ídolo - e todas as mulheres à volta. O pai não aceita as frescuras de um filho que não serve par ao esporte. O envia para um reformatório católico. E para as férias merecidas na Espanha - no pior vilarejo do país - onde aprende a dançar a como uma espanhola. E por fim para um internato inglês, onde se apaixona por Jeremy. E então lhe chamaram de gay pela primeira vez. Guillaume contesta. Eis que seu mundo desmorona.
A vida de Guillaume se desenrola num palco de teatro, interpretadas por ele mesmo. Mesclam-se as cenas relatadas às cenas do monólogo de Guillaume. O menino se enxerga como um espelho da mãe - ambos interpretados pelo mesmo ator - Guillaume Gallienne, também diretor e roteirista. Isso mesmo: essa é uma história autobiográfica. Um acerto de contas com um passado mal resolvido e um bela descoberta.
Esqueça tudo que sabe sobre a "concepção de gênero" (ai, que horror!).
Esse não é mais um filme gay. Veja até o final - surpreendente, hilário, sensível e arrasador.

Les garçons et Guillaume, à table!
Gullaume Gallienne
2013



A segunda vez é sempre melhor

Fui rever "A Grande Beleza", dessa vez no cinema. 
Bauru não traz em sua disponibilidade cultural o gosto pelo cinema europeu. Como quase todo interior, aqui reinam os blockbusters e Hollywood shits. Mas às vezes escapam algumas pérolas, as quais recolho com carinho. 
Eis que o filme de Paolo Sorrentino caiu por aqui de paraquedas e, claro, durou menos que 15 dias. Fui com um amigo rever esse filme que julguei uma das poucas e boas homenagens ao cinema italiano - quase um plágio felliniano, e que fique claro, um excelente plágio. 
Péssima escolha do dia, fomos ao sábado a noite. Pensei comigo, "não terá público, ainda que sábado a noite, então estaremos livres da mastigação de pipocas e comentários imbecis". Logo me arrependi. A sala foi aos poucos se completando. Nem metade, mas além do esperado para um filme europeu. A cada casal que entrava, olhava para meu amigo e apontava, (com uma leve dose de veneno escorrendo da boca): "Aqueles alí não aguentarão nem metade do filme". Dos quatro casais apontados, nostradamicamente acertei três. Um casal miraculosamente resistiu. Para meu desespero, estavam eles numa diagonal perfeita entre a minha cabeça e o pé do macho alfa. 
E lá se foram 142 minutos de puras pérolas aos porcos - ou melhor dizendo, ao porco. O cidadão despejou um sem número de palavrões durante todo o filme. Não contente ao somente dizê-los à namorada, tinha o prazer em fazer com que todos da sala ouvissem. A cada comentário esdrúxulo dele, uma bufada minha. 
Quem me conhece sabe que fujo dos horários de pico do cinema exatamente para não viver esse tipo de experiência. Antes só do que mal acompanhada, como diria o sábio dito popular. 
O parvo falou durante as quase três horas de filme, incessantemente. Resistiu bravamente até o último minuto, quando bradou a última pérola: "que bosta foi essa?"
E lá se foi meu momento privilegiado de curtir o cinema europeu em minha cidade natal.  
Enfim, ainda com toda essa distração, minha primeira impressão se reafirmou: filme, lindo, sensível e genial. Apenas por ele (e não por Fellini!!!) tive vontade de visitar Roma pela primeira vez. 
Entrou para a lista de sets a serem visitados. 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Uma doença sem cura - J.P. Coutinho


Números aterradores no "The Wall Street Journal": nos primeiros três meses de 2014, o governo francês registrou 170 atos de violência antissemita no país. É muito?

Digamos apenas isso: com 650 mil judeus na França, os crimes racistas contra judeus constituem 50% de todos os ataques racistas. Repito: 50%. Como explicar essa cifra?

Sim, o ódio e a destruição de grupos islamitas que operam na Europa não favorecem o ecumenismo. Recentemente, na Bélgica, um jiadista matou quatro judeus no Museu Judaico de Bruxelas.

E, claro, a emergência da Frente Nacional, com a sua vetusta tradição de antissemitismo patriótico, não permite imaginar um futuro risonho para os judeus gauleses.

Mas a minha pergunta vai mais longe: como explicar a sobrevivência do antissemitismo na Europa quando todos sabemos que a Europa ofereceu ao mundo o capítulo antissemita mais grotesco de toda a história da humanidade?

Os débeis dirão que a culpa é de Israel. Se, por hipótese, Israel não existisse, não existiria antissemitismo. No limite, o antissemitismo seria uma curiosidade histórica, própria de Hitlers, Stálins ou de outras personagens sinistras.

Não pretendo perder muito tempo com os débeis. Até porque eles desconhecem a própria história do antissemitismo -que é anterior a Israel; anterior a Hitler; anterior à União Soviética; anterior às perseguições czaristas do século 19; anterior às perseguições na Península Ibérica nos séculos 15 e 16. A história do antissemitismo é, no essencial, a história da nossa civilização.

Foi Paul Johnson, curiosamente um historiador cristão, quem explicou esse fato com um simplicidade glacial.

Em ensaio antigo para a revista "Commentary" ("The Anti-Semitic Disease", 6/1/2005), Johnson definiu o antissemitismo exatamente como ele merece ser apresentado: como uma doença da mente, altamente infecciosa e destrutiva, que pode atacar indivíduos ou sociedades aparentemente "saudáveis".

E essa doença está documentada ao longo dos tempos e sempre com os mesmos sintomas paranoicos (e paradoxais).

Como escreve Paul Johnson, os judeus são apresentados como demasiado exibicionistas —ou demasiado reservados. Eles recusam assimilar-se —ou, então, assimilam-se bem demais. São excessivamente religiosos —ou excessivamente materialistas. Evitam o trabalho duro —ou trabalham mais do que os outros. São os agentes do capitalismo —ou os agentes do comunismo. São gente desconfiada —ou gente falsamente prestável. A lista não tem fim.

Mas se os sintomas são os mesmos —uma desconfiança alucinada que devora o cérebro do antissemita como um câncer intelectual —o antissemitismo foi ganhando diferentes vestimentas no tempo e no espaço.

Começou por ser um antissemitismo religioso (o judeu como assassino de Cristo) que banhou de sangue as páginas negras da Idade Média europeia.

Depois passou para um antissemitismo nacionalista (o judeu como traidor da pátria), acusação que teve o seu momento infame no julgamento de Alfred Dreyfus, o oficial francês (e judeu) acusado e condenado, injustamente, de passar informações militares secretas à Alemanha.

Ironicamente, foi a Alemanha que continuou a tocha olímpica do antissemitismo, exterminando 6 milhões com uma ferocidade nunca vista.

E a doença continua hoje, nas livrarias do Oriente Médio, onde os "Protocolos dos Sábios do Sião" (o documento forjado pela polícia czarista para justificar os "pogroms" antissemitas de finais do século 19) continuam a ser vendidos com sucesso. O que não admira: os "Protocolos" pretendem "provar" a conspiração judaica para dominar o mundo. Haverá coisa mais deliciosa para a cabeça doente de um antissemita?

Com as eleições europeias, a extrema-direita voltou a mostrar as suas garras. E o antissemitismo islamita, pelos vistos, gosta de mostrá-las com uma regularidade assombrosa.

Mas esses dois fenômenos são parte de um problema maior: os séculos passam, os cadáveres amontoam-se, o mundo jura que aprendeu a lição. Mas a doença antissemita continua latente. E sem perspectiva de cura.

U.B.S.S. - Pondé



União Brasileira Socialista Soviética. Piada de mau gosto mesmo, também acho, mas a pena mesmo é que a discussão política entre nós seja da idade da pedra e o socialismo ainda seja levado a sério. A piada de mau gosto mesmo é que estamos à beira de um golpe de Estado invisível no Brasil.

O leitor e a leitora já estão a par do decreto do governo que institui a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social? Trata-se de decreto para aparelhar movimentos como o MST (gente que quer tomar a terra alheia), o MTST (gente que discorda da ideia de que se deve pagar pelo teto em que mora) e outros movimentos que englobam gente "sem algo" e acham que a sociedade deve dar pra eles. Esses grupos darão um golpe de Estado invisível. Tudo fruto, é claro, de setores do PT radical e os raivosos ex-PT, hoje em pequenos partidos.

Esse decreto é um golpe de Estado sem dizer que é. Lentamente, os setores mais totalitários do país, amantes de ditaduras do proletariado (ou bolivarianas) voltam à cena no Brasil. Comitês como esses tornam os poderes da República reféns de gente que passa a vida sendo profissional militante. Quando você acordar, já era, leis serão passadas sem que você possa fazer algo porque estava ocupado ganhando a vida.

Pergunte a si mesmo uma coisa: você tem tempo de ficar parando a cidade todo dia, acampando em ruas todo dia, discutindo todo dia? Provavelmente não, porque tem que trabalhar, pagar contas, levar filhos na escola, no hospital, e, acima de tudo, pagar impostos que em parte vão para as mãos desses movimentos sociais que se dizem representantes da "sociedade".

Mas a verdade é que a maioria esmagadora de nós, a "sociedade", não pode participar desses comitês porque não é profissional da revolução.

Tais movimentos que se dizem sociais, que afirmam que as ruas são deles, mentem sobre representarem a sociedade. Mesmo greves como a do metrô, capitaneada por uma filial do PSTU, não visa apenas aumentar salários. Visa instaurar a desordem para que o Brasil vire o que eles acham que o Brasil deve ser.

Afinal, de onde vem a grana que sustenta essa moçada dos movimentos sociais? A dos sindicatos, sabemos, vem dos salários que são obrigatoriamente onerados para que quem trabalha sustente os profissionais dos sindicatos. Mas, até aí, estamos na legalidade de alguma forma. Mas e os "sem-Macs" ou "sem-iPhones", vivem do quê? Quando os vemos na rua, não parecem estar passando fome e frio como dizem que estão. Essa gente é motivada e sustentada de alguma forma.

Por que não se exige entrar nas contas do MST e MTST e descobrir de onde vem a grana deles? Quem banca toda essa estrutura militante? Temo, caro leitor e cara leitora, que sejamos nós, os mesmos que eles consideram inimigos, a menos que concordemos com eles.

Uma das grandes mentiras desses movimentos sociais é dizer que combatem a "elite econômica", que, aliás, em dia de greve, fica em casa porque não precisa de fato se virar pra ir trabalhar.

Quem sofre com esses movimentos que arrebentam o cotidiano é gente que perde o emprego, perde o negócio, perde a vida se fica parada no trânsito ou na fila. É gente que, quando muito, anda de carro 1.0, não gente que anda de helicóptero.

É diarista, empregada doméstica, porteiro de prédio, professor, estudante sem grana e que tem que pagar a faculdade, não riquinhos da zona oeste paulistana que fazem sociais para infernizar a vida dos colegas.

É médico que tem três empregos, é dona de casa que cuida de filhos e trabalha fora, é trabalhador da construção civil, é gente "mortal", comum, que não pode se defender dos caras que fecham a cidade dizendo que fazem isso em nome do "povo".

Os movimentos sociais têm demonstrado seu caráter autoritário. Pensam que as ruas são o quintal de seus comitês, que aparelharão os poderes da República.

Se não bastasse isso tudo, vem aí o controle social da mídia. Dizer que será apenas para evitar monopólios é achar que somos idiotas. Veja o que aconteceu na Argentina.