Nunca gostei do feminismo: acho-o grotesco, infundado, de mau gosto e burro. Há tempos que a luta feminista se tornou um machismo disfarçado de peitos de fora. Sempre que sou questionada em relação à luta das mulheres, respondo que tudo que consegui foi por mérito, estudo e força de vontade própria. Não desmereço as verdadeiras batalhadoras femininas: mães e avós que cuidam de filhos, netos, trabalham fora, desdobrando-se entre casa-trabalho-família.
"Mas e a violência doméstica?", me perguntam. Respondo: o homem violento é violento em si, por natureza. Continuará sendo com os filhos, os cachorros, os pais, os chefes, e assim por diante. Há que se combater a violência e não apenas o caráter pseudo-gênero do problema. A natureza humana é violenta.
Mas choquei-me com uma declaração dia desses, de um "colega" de trabalho. (Sempre acreditei que o ambiente acadêmico fosse, no mínimo, educado em relação à exposição de ideias escrotas demais para serem ditas em voz alta. Ledo engano). Dizia ele, com essas mesmíssimas doces palavras que "se mulher não tivesse b****a, não mereceria nem ser cumprimentada na rua". Não preciso reproduzir o conceito todo da palavra incompleta para saber do que se trata: a escrotice não tem tamanho e já está subtendida. Ser humano algum deveria ser capaz de reproduzir esse tipo de pensamento, mas vindo de um professor, que está todo santo dia em sala de aula, formando opiniões e participando do crescimento dos alunos, isso é , no mínimo, repulsivo.
Eu era a única mulher presente na sala no momento que essa pérola foi jogada. Fiquei sem graça, muda e tentei disfarçar o nojo. A lógica me diz que não há esforço suficiente para que pessoas desniveladas intelectualmente compreendam seus erros. Foi então que percebi que realmente a luta feminista não vale nada quando essa é esvaziada de conhecimento. Esse professor estudou em universidade pública, fez pós-graduação e passou adiante o que entende da vida, ou seja, seria alguém "acima de qualquer suspeita". Eis a questão: é esse tipo de professor que discute racismo e preconceito em sala de aula e perpassa aos alunos sua visão decadente e equivocada daquilo que supõe ser conhecimento.
A verdadeira luta das mulheres não seria gritar para esse pulha o quanto ele é asqueroso, pois não lhe falta entendimento. Essa é uma escolha particular dos homens (e mulheres). É temperamento. É ser. É essência: ele é essencialmente grotesco. E com isso, volto a questão inicial, de que o movimento feminista não mudará a essência humana, que é maléfica e decaída.
E o que fazer, então? Cabe a cada qual uma escolha particular de como lutar contra seus verdadeiros monstros.
5 comentários:
Bom demais, Flávia. Grato pela leitura.
Eu que agradeço, Bernardo.
Uaal! Sempre me calei em relação ao feninismo por ter conceitos inaplicaveis dentro da nossa sociedade deturpada e constituida por falsos ideiais, mas seu texto trouxe uma nova luz! Bravissimo!
Olá professora Flávia. Fui seu aluno do curso de Religião e Cultura. Quando a senhora fala em essência má, que a essência do homem é má, tal afirmação não é muito determinista? E aqueles que não o são? Parece-me que aqueles que defendem a influência da cultura sobre a formação dos indivíduos consegue explicar melhor os atos de machismo e violência contra as mulheres. Assim tais casos seriam motivados não apenas por um impulso individual, mas também por conta de uma motivação social, que aliás legitima tal violência. O que a sra. acha? Abraço.
Olá, Daniel! Obrigada pela visita!
Então, concordo com a atuação cultural sobre o homem, obviamente. Mas quando afirmo sobre a maldade intrínseca ao homem tenho em mente uma análise mais teológica ou antropogônica: de onde veio o mal afinal? Nesse sentido, se pensarmos em termos teológicos cristãos, nascemos a partir da Queda, do "pecado original". Eis uma das marcas da maldade intrínseca. Claro que esta é apenas uma das visões. Nesse ponto podemos nos aproximar também de T. Hobbes, que afirma que o homem é o lobo do homem e que estamos em constante estado de guerra de todos contra todos, ou seja, mais uma referência à maldade intrínseca. E por aí vai... tudo depende do referencial.
um abraço
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