sexta-feira, 23 de julho de 2010

Hanami

Hanami: Cerejeiras em Flor - Kirschblüten: Hanami - Doris Dörrie - 2008
Tenho visto muita coisa boa ultimamente, mas este é sem dúvida um dos melhores filmes da atualidade. Hanami é uma festa tradicional japonesa que acontece ao florescer das cerejeiras. As pessoas aproveitam para apreciar o momento fazendo pique-nique sob as árvores. Mas o filme aborda outras questões além da beleza: a velhice, a morte e a ausência. Uma história de alemães num cenário japonês; algo quase improvável mas de uma sutileza e delicadeza extremas.
Recomendadíssimo.
PS: Esta deveria ser minha próxima viagem: ver o Monte Fuji e as cerejeiras em flor...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Filmes

Un Prophète - O Profeta - Jacques Audiard - 2009
Este filme francês mostra o estado em que se encontra a Europa atualmente, tendo por lupa a França: totalmente islamizada e tomada consequentemente por seus crimes. A história retrata um jovem árabe não praticante do islamismo que vai preso por agredir um policial. Dentro da prisão acaba por ser apadrinhado pelo chefe da máfia da Córsega, se encvolvendo até a tampa com assassinato, tráfico, extorsão e o que mais a "escola da prisão" tem a lhe oferecer. Lugar comum à parte, o filme conta com algumas cenas fortes (para os estômagos mais sensíveis, como o meu) mas ao mesmo tempo dissemina cenas sutis e surreais. O único porém é durar mais de 2 horas e meia...


O Escritor Fantasma - The Ghost Writer - Roman Polanski - 2010
"O filme que Polanski dirigiu de dentro da prisão" é o título que a Revista Bravo! deu à matéria dedicada a este genial filme de Polanski. Problemas com estupro e prisão à parte, Polanski é sem dúvida um ótimo diretor de suspense. O Bebê de Rosemary é um clássico do horror - digo horror pois Polanski tem a capacidade de instigar o sentimento neste filme em particular. O Escritor Fantasma mistura suspense e política num cenário portuário e enevoado maravilhoso. Ewan McGregor é um bom ator ( talvez passe longe do excelente, mas faz sua parte) e o suspense se mantém até o final do filme.

Melody Gardot

Pondé (atrasado)

100% - 14/07

ATENÇÃO, PECADORES E VICIADOS em sexo, comida, bebida, dinheiro e poder: vocês estão ultrapassados. Há uma nova ganância no ar: a mania de qualidade de vida e saúde total. Esta ganância é o que o jornal “Le Monde Diplomatique” já chamava de “la grande santé” (“a grande saúde”) nos anos 90. A mania de ter a saúde como fim último da vida.
Acho isso antes de tudo brega, mas há consequências mais sérias que um simples juízo estético para esta nova forma de ganância. Consequências morais, políticas e jurídicas: o controle científico da vida.
Agora esses fanáticos estão a ponto de demonizar o açúcar, a gordura e o sódio. Querem fotos de gente morrendo de diabetes no saco de açúcar ou de ataque cardíaco nas churrascarias. O clero fascista da saúde não para de botar para fora sua alma azeda.
Mas, como assim, ganância? Sim, esta ganância significa o seguinte: quero tirar do meu corpo o máximo que ele pode me dar. Inevitavelmente fico com cara de monstro narcisista quando dedico minha vida à saúde total. Sempre sinto um certo ar de ridículo nesses pais que obrigam seus filhos a comer apenas rúcula com pepinos e cenoura desde a infância.
Suspeito que os “purinhos”, no fundo, se deliciam quando veem fumantes morrerem de câncer ou carnívoros morrerem do coração. Sentem-se protegidos da morte porque vivem como “pombinhos da saúde”. São medrosos. A vida é desperdício, e ganancioso não gosta disso.
No caso da morte, probabilidade é como gravidade: 100% de certeza. Logo, a luta contra a morte é uma batalha perdida, nunca uma vitória definitiva. Se você não morrer de acidentes (carro, avião, atropelamentos, assaltos, homicídios) ou de epidemias (tipo pestes) ou por endemias (tipo doença de chagas), ou de doença metabólica (tipo diabetes) ou de doenças cardiovasculares (tipo AVC ou acidente cardiovascular e ataque cardíaco), você sempre morrerá de câncer.
Claro, ainda temos contra (ou a favor) a tal herança genética. Você passa a vida comendo rúcula e morre de AVC porque suas “veias” não valem nada. Que pena, passou uma vida comendo comida sem graça e morreu na praia. E vai gastar dinheiro com hospital do mesmo jeito, ou, talvez, mais ainda. Sorry.
Logo, caro vegetariano, escapando de doenças cardiovasculares porque você evitou (religiosamente) gorduras supostamente desnecessárias, você pode simplesmente morrer de câncer porque deu azar com o pai que teve ou porque, no fim, tudo vira câncer, não sabia? Um dia, esses maníacos da saúde total desejarão processar os pais por terem deixado que eles comessem coxinhas e brigadeiros quando eram crianças ou porque simplesmente tinham maus genes em seus gametas.
Sinceramente, não estou convencido de que viver anos demais seja muito vantajoso. Sem “abusar” da comida, da bebida, do tabaco, do sexo, das horas mal dormidas, não vale a pena viver muitos anos. A menos que eu queira ser uma “freira feia sem Deus”, o que nada tem a ver com freiras de verdade, uso aqui apenas a imagem estereotipada que temos das freiras como seres chatos, opressores e feios , ou seja, uma pessoa limpinha, azeda e repressora.
Como diz meu filho médico de 27 anos, “nunca houve uma geração tão sem graça como esta, obcecada por viver muito“. Eu, pessoalmente, comparo esta geração de pessoas obcecadas pela saúde àqueles personagens de propaganda de pasta de dentes: com dentes branquinhos, cabelos bem penteados e com cara de bolha (ou “coxinha”, como se diz por aí).
Dei muita risada quando soube que alguns cientistas estavam relacionando câncer de boca à prática frequente de sexo oral. Será que sexo oral dá cárie também? Terá a vida sentido sem sexo oral? Fazer ou não fazer, eis a questão!
Essa ciência horrorosa da saúde total deverá logo descobrir que sexo oral faz mal, e aí, meu caro “pombinho da saúde”, como você vai fazer para viver sendo perseguido pela saúde pública?
Talvez, ao final, não seja muito problema para você, porque quem é muito limpinho não deve gostar mesmo dessa sujeira que é trocar fluidos e gostos por aí.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Mineirinhos...

A viagem foi fantástica. Faria tudo de novo.
Fazer o percurso da Estrada Real - que vai do Rio de Janeiro à Diamantina ( pena que fiquei apenas no circuito interno de Minas...) - foi ótimo. As estradas apesar de perigosas são lindas. E o passeio pela Mina de  Ouro Jeje foi jóia, mesmo dispertando minha claustrofobia. Mas o mais legal é povo mineiro. Extremamente agradável: são pessoas educadas, sabem dar informação, não se incomodam se você pergunta o preço de tudo e não leva nada. Até agradecem! Impressionante! E é claro, são os reis da paciência e da calmaria...por isso não tenha pressa quando passar por Minas, rs.

Congonhas

Congonhas do Campo é a cidade dos Profetas de Aleijadinho. O mais famoso dos escultores do nosso barroco deixou por ali a marca registrado do período colonial. Novas pesquisas históricas apontam Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho - como uma construção cultural, um mito que provavelmente nunca existiu. Seu túmulo está numa igreja em Ouro Preto ( teoricamente projetada por seu pai) mas há muitas contravérsias se o escultor era realmente portador dessa genialidade ou se simplesmente foi forjado para completar a mitologia em torno do nosso Corcunda de Notre Dame...
Mas o que mais me impressionou mesmo foi a sala dos ex-votos. Romeiros vão para Congonhas agradecer a graça recebida e deixam por lá suas cartas, fotos, pernas mecânicas, muletas, próteses, mechas de cabelo... freak mas legal.

Ouro Preto

Ouro Preto é clássica, não tem como não visitar. As ruas são apertadas e em algumas é quase impossível passar de carro. O legal é fazer todo o percurso a pé mesmo. Então vá preparado para ladeiras, pedras e muita escadaria. Não há joelho que aguente, mas vale a pena o sofrimento, rs. Ouro Preto também estava no Festival de Inverno mas não consegui ver nenhum espetáculo. Ótima cidade para fazer compras de objetos de decoração e muito em conta para comer também.


Mariana

Mariana foi a primeira cidade de Minas Gerais. O centro é uma graça e a cidade tem uma vida universitária agitada, pois conta com uma unidade de UFOP. Além de visitar as igrejas e museus, ainda tive o prazer de ver algumas apresentações que faziam parte do Festival de Inverno.

As Gerais

Aproveitei as férias pra viajar, coisa praticamente impossível de se fazer no período letivo.

Minas foi o roteiro escolhido, começando pela cidade de São João del Rey. Lindinha.

PONDÉ

 BELEZA ESPANHOLA - 19/07

A COPA DO MUNDO ACABOU. Mas fiquei feliz com esta por uma razão especial: o bem venceu, o futebol da Espanha. E não o horroroso futebol de "resultados".
É claro que torço pelo Brasil. Não sofro dessa afetação de se "europeizar" na Copa, reeditando o velho preconceito de vira-lata do qual nós brasileiros sofremos.
Sempre que o Brasil é eliminado, me movo por parentesco cultural. Sim, tenho "sangue francês", o que sempre dá a França um lugar em meu coração de cangaceiro.
Aliás, concordo com a grande sacada de humor do colega Juca Kfouri: acho que naquele intervalo do primeiro para o segundo tempo do jogo com a Holanda, nosso treinador mandou o time parar de jogar bem e voltar ao futebol covarde e horroroso.
Depois da nossa amarelada diante da laranja, passei a torcer por meus "irmãos culturais". Torci pela Argentina do passional Maradona contra a Alemanha e sofri de verdade com os 4 X 0 que ela tomou. Torci pelo corajoso Uruguai contra Gana, contra a Holanda e contra a Alemanha.
"Eliminados los hermanos, fiz da Espanha meu time. Por duas razões. Sempre que viajo por aí, quando chego a Portugal ou a Espanha, começo a me sentir em casa. A língua, o barulho, a bagunça, a comida, as maravilhosas mulheres espanholas, enfim, a paixão dos ibéricos me lembra o Brasil, minha casa.
Gosto dos nossos ancestrais. Sim, sim, sei que ingleses são mais "chiques"" para quem se sente vira-lata. Mas não para mim. Talvez esteja ficando velho, mas cada vez mais gosto do que é "meu". E o que é mais importante na vida, muitas vezes o é justamente porque não escolhemos.
Torci apaixonadamente pela Espanha contra a Alemanha e contra a Holanda. Se uma das razões de ter feito da Espanha meu time entre europeus foi o parentesco cultural que sinto por ela, a outra razão foi mais filosófica. Como disse na abertura desta coluna, na Copa da África do Sul, venceu o bem contra o mal, e o bem era a arte da Espanha. Seu futebol corajoso, ofensivo, generoso, bailado (ainda que com poucos gols) bateu a lógica científica das últimas Copas do Mundo.
Eu que acompanho Copas do Mundo desde 1966, vi (como todo mundo) a Copa virar um desfile da covardia matemática dos "idiotas da objetividade", como dizia o grande Nelson Rodrigues, e como citou recentemente o craque camisa nove da seleção tricampeã de 1970, e colunista desta Folha, Tostão, o filósofo discreto.
O mal no futebol, além das mazelas capitalistas que o afetam (mas que tem um lado bom que é reconhecer o esforço profissional dessa moçada que a ele se dedica), é esse joguinho sem vergonha de ficar o tempo todo na retranca, com medo de perder, mergulhado nesta ética da covardia estatística que toma conta do mundo dia a dia. O mesmo tipo de covardia de que eu falava na semana passada nesta coluna (12/07) e que deixa a vida chata, deixou o futebol chato.
Enganam-se aqueles que acham esse assunto "menor": a busca da saúde total é um mal sim político, pois é parente da pureza tirânica fascista e não mera modinha. Como o futebol chato que busca apenas "resultados", a saúde total busca uma vida pautada pelos "resultados fisiológicos" e não pelos prazeres do mundo.
Esta Folha acertou em cheio ao dizer que "o futebol agradece" com a vitória espanhola nesta Copa. Isso deve ser repetido à exaustão na mídia, nas escolas, na publicidade, na novela das oito, porque a beleza na vida nunca é irmã gêmea do medo, mas sim irmã gêmea da coragem. E o medo deixa tudo feio.
E aqui, como todo mundo sabe, o esporte traz à luz seu profundo caráter de mimetizar, como que num pequeno laboratório, grande parte da vida. O que vale na vida não é o resultado (ainda que seja necessário ter coragem para viver assim, porque a vida foi, é e sempre será uma guerra de morte), mas a beleza que a ela somos capazes de dar, como já dizia Platão no seu diálogo "O Banquete": o destino de Eros (amor) é engendrar a beleza no mundo.
O time espanhol mostrou, de forma elegante, que a beleza ainda vale a pena e que os covardes e feios podem não ser o herdeiros da Terra.