segunda-feira, 25 de junho de 2012

A ciência triste - Pondé







Todos os chefes de Estado dormindo em tendas, comendo comida da floresta, logo, muito mais sagrada e saudável. Além do fato que esses povos são imaculados e não desejam em hipótese alguma ganhar dinheiro com sua condição de "vítima social", por isso podemos confiar neles mais do que na Hillary Clinton.

Os que mais atrapalham são os gurus da ecologia profunda ou contracultura verde. Gente que afirma que o que precisamos é de uma "inovação social e psicológica" e não apenas de uma economia que assimile o fato de que os recursos naturais são limitados e que as demandas humanas de bem-estar e conforto são infinitas.

Não levar essa contradição estrutural a sério cria a insustentabilidade a médio e longo prazo.

Essa gente acha que o mundo inteiro pode ser a Dinamarca e seus mil habitantes. Eu concordo mais com os setores que buscam soluções tecnológicas e de mercado para enfrentar esta contradição entre demanda humana infinita e recursos naturais finitos.

Claro que isso implica educação e um trabalho gigantesco, mas nada disso virá de mudarmos nosso estilo de vida para o paradigma dos povos da floresta que viviam até ontem no neolítico. Ou reprimir o consumo via um estilo misto de "gestão" entre Stálin e hippies velhos.

Gente assim, os defensores de "inovações sociais", crê em "soluções" como as elencadas no relatório da UNEP 2011 da ONU "Visions for Change - Recommandations for Effective Policies on Sustainable Lifestyles".

Soluções no mínimo complicadas se pensarmos em sociedades complexas como as nossas com populações crescentes. Imagine nós vivermos num mundo em que cultivássemos nossa horta e criássemos nossas cabeças de gado (comer carne já é uma concessão ao "pecado da carne dos carnívoros", gente que deve desaparecer ao longo do tempo)... Se você quiser uma geladeira ou um iPad, faça em casa...

É fácil pensar na Noruega assim (estou exagerando...), mas e a Somália? Claro, estes já vivem no neolítico mesmo...

Outra marca da ecologia profunda que atrapalha a discussão séria sobre a contradição de nossa condição insustentável é a mistura entre sustentabilidade e demanda por erradicação da pobreza e justiça social (seja lá o que isso queira dizer...) como parte de uma economia sustentável.

O problema é que a ideia da erradicação da pobreza é em si insustentável, se pensarmos para além do horizonte intelectual "teenager". Isso pode ser triste, mas é por isso que a economia é conhecida por ser uma ciência triste ("dismal science", como dizia o historiador britânico do século 19 Thomas Carlyle).

Vejamos. Para erradicar a pobreza numa população crescente e ansiosa por uma vida confortável deve-se produzir riqueza contínua. Para isso, deve-se explorar recursos continuamente (o que é chamado de economia não sustentável) e aumentar o consumo, porque se as pessoas param de comprar o dinheiro para de circular.

Mas os gurus da economia "teenager" falam de diminuir o consumo como quem fala "as pessoas deveriam ser mais generosas", quando eles mesmos estão prontos a brigar com os irmãos por um apê minúsculo na Praia Grande.

A única solução para esses gurus (mas eles não confessam porque ficariam mal na fita) seria um regime totalitário global, o que chamo de fascismo verde, criar economias planejadas à la Lênin. O óbvio é que isso geraria pobreza em larga escala, como gerou antes.

Outra solução é erradicar o crescimento populacional matando 2/3 da população ou proibir a reprodução por alguns séculos. Ou matar idosos. Puro horror, não?

Enfim, problemas reais existem, mas as soluções não existem à mão de uma "cúpula dos povos".

Por isso, a angústia ambiental resvala na espiritualidade verde, sempre infantil e autoritária, que acha que comendo comida orgânica os seres humanos deixarão de ser o que são: seres que buscam diminuir a dor e otimizar o bem-estar a qualquer custo.