sábado, 12 de fevereiro de 2011

1959 X 2011

Recebi essse e-mail e achei muito oportuno, já que nos encontramos numa época tão obscura, onde cresce o politicamente correto em todas as esferas da vida e da sociedade:



1959 X  2011



Cenário 1João não fica quieto na sala de aula. Interrompe e perturba os colegas.

Ano 1959: É mandado para a sala da diretoria, fica parado esperando 1 hora, vem o diretor, lhe dá uma bronca descomunal e volta tranquilo à classe.
Ano 2011: É mandado ao departamento de psiquiatria, é diagnosticado como hiperativo, com trastornos de ansiedade e déficit de atenção em ADD, o psiquiatra  lhe receita  Rivotril. Se transforma num Zumbi. Os pais reivindicam uma subvenção por ter um filho incapaz.

Cenário 2: Luís quebra o farol de um carro no seu bairro.

Ano 1959: Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras bordoadas no trazeiro... Nem passa pela cabeça de Luís fazer outra nova "cagada". Cresce normalmente, vai à universidade e se transforma num profissional de sucesso.
Ano 2011: Prendem o pai de Luís por maltrato e o condenam a 5 anos de reclusão. Por 15 anos deve abster-se de ver seu  filho. Sem uma  figura paterna, Luís se volta para a droga, torna-se um delinquente e fica preso num presidio especial para adolescentes. 

Cenário 3:  José cai enquanto corria no patio do colégio, machuca o joelho. Sua professora María,  o encontra chorando: abraça o garoto para confortá-lo...

Ano 1959: Rapidamente, João se sente melhor e continua brincando.
Ano 2011: A professora Maria é acusada de abuso sexual , condenada a três anos de reclusão. José passa cinco anos de terapia em terapia. Seus pais processam o colegio por negligência e a professora por danos psicológicos, ganhando os dois juízos. Maria renuncia à docência, entra em aguda depresão e se suicida.. 

Cenário 4: Disciplina escolar

Ano 1959: Fazíamos bagunça na clase.. O profesor nos dava umas boas palmatórias e chegando em casa, nosso velho nos castigava sem piedade.

Ano 2011:  Fazemos bagunça na classe. O professor nos pede desculpas por ter que nos repreender e desenvolve sentimento de culpa por fazê-lo . Nosso velho vai até o colégio se queixar do docente e para consolá-lo, compra uma moto para o filhinho.

Cenário 5: 31 de octubro.

Ano 1959:Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. Não acontece nada.
Ano 2011: Chega o dia de mudança de horário de inverno para horário de verão. A gente sofre transtornos de sono, depressão, falta de apetite.  Nas mulheres aparece celulite.

Cenário 6: fim das férias.

Ano 1959:  Depois de passar férias com toda a família enfiada num Gordini, depois 15 dias de sol na praia, hora de voltar. No dia seguinte se trabalha e tudo bem.
Ano 2011: Depois de voltar de Cancún, numa viajem 'all inclusive', terminam as férias e a gente sofre da síndrome do abandono, pânico, attack e seborreia....

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os bons dos últimos tempos

Nas andanças por Sampa consegui ver ótimos filmes.
Eis as dicas:

O Mágico
L'illusionniste
Sylvain Chomet
2010
França

Do mesmo criador do maravilhoso "Bicicletas de Belleville" e com o roteiro de Jacques Tati esta é sem dúvida a melhor animação do ano. O filme praticamente não traz diálogos e por isso mesmo não necessita de legendagem ou da horrível dublagem. A história é simples mas não ordinária. Uma mistura de melancolia, divertimento e tristeza.
Atenção para o dedo de ouro de Tati no roteiro, que chega a fazer menção a um de seus clássicos (Mon Oncle).




Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas
2010
Apichatpong Weerasethaku
Tailândia

Estranhoe difícil para o gosto brasileiro (a começar pelo tanto de gente na sala de cinema, não chegava a 5 pessoas).  Esse tailandês recebeu a Palma de Ouro em Cannes talvez por conta de sua esquisitice. O tio Boonmee sofre de uma doença renal e decide passar os ultimos dias de vida relembrando suas vidas passadas, juntamento com os fantasmas de sua falecida esposa e filho. As imagens são lentas e belas e os diálogos longos e por vezes extraordinários.




Cisne Negro
Black Swan
2010
Darren Aronofsky

A menina dos olhos do Oscar de 2011. E não por acaso. O filme é denso, digno de um noir, pendendo ora para o terror ora para o surreal. O diretor que não perde a mão nunca, pelo menos quando o assunto é impactar com imagens ( Requiem para um Sonho e A Fonte da Vida) também se supera quando o assunto é afundar na mente e desejos humanos (desde O Lutador).




Um Lugar Qualquer
Somewhere
2010
Sofia Coppola

Adoro Sofia Coppola. Não teve um único filme seu que eu não gostasse. Este também entra para a lista.
Uma história banal norte-americana mas com os requintes que só ela sabe usar: a música certa na hora certa, a pausa, o deslocamento de câmera, tudo se ajeita muito bem nesse filme. (Mas no topo da lista ainda está Encontro e Desencontros).



Além da Vida
Hereafter
2010
Clint Eastwood

A primeira cena de filme - que pode levar ao engano devido à tradução do título no Brasil - me impactou muito: o tsunami devastando a Tailândia. Incrível pensar que aquilo realmente aconteceu...
Mas a genialidade de Clint se dá no tema, na busca por um sentido sem maiores explicações e, acima de tudo,  nos finais. Adoro o modo como leva o filme e decepciona os blockbusters de plantão...rs


Ainda faltam alguns antes do Oscar e outros que ficaram para trás... só falta tempo para tantos desejos.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quibes, queijos e vinhos - Pondé


OS ÁRABES foram às ruas. Os paquistaneses (muçulmanos, mas não árabes) vivem nas ruas pedindo a cabeça de algum inimigo do Islã. Pensar que estamos diante da “aurora” de um novo mundo árabe democrático é uma piada.

Imagino como alguns “sacerdotes da religião do povo” (populismo para intelectuais de esquerda?) devem ficar emocionados, lembrando (fantasiando?) os grandes dias do Maio de 68 na França.

Se lermos as colunas de Nelson Rodrigues (editora Agir) da época, encontraremos questões como: afinal, o que querem esses estudantes parisienses se não cortaram nenhuma cabeça? Que revolução é essa que acabou em croissant?

De uma hora para outra, a moçada francesa voltou para casa para tomar vinho e comer “un petit fromage”. Centenas de teses pelo mundo tentam até hoje explicar a razão de a “revolução do desejo” de Maio de 68 ter acabado de repente, sem nenhuma razão.

Diferentemente dos jovens americanos, que tinham um motivo concreto para protestar (a horrível Guerra do Vietnã), os meninos franceses estavam cheios de tédio, naquela vidinha chata de gente rica, e resolveram brincar de “comuna de Paris”.

No fundo, queriam “o direito” de transar com as colegas nos dormitórios da universidade, alguns meninos queriam “o direito” de transar com outros meninos (sob a bênção filosófica do mestre Foucault, que, aliás, no começo da Revolução Islâmica do Irã, tinha frisson por ela), e alguns, como sempre, não queriam mesmo é ir para a aula e virar gente grande.

Mas os “sacerdotes do povo” fizeram seu trabalho e transformaram aquela festa em grande fenômeno histórico. A verdade é que não se sabe no que vai dar essa “revolução do quibe” no mundo árabe. Pessoalmente, espero que consigam viver melhor e se livrem dos “partidos de deus”.

Mas o que é viver melhor? Para mim, que não sou relativista e acho a democracia liberal ocidental o melhor sistema político conhecido e gente que amarra toalha na cabeça para gritar “morte aos infiéis!” gente atrasada, viver melhor é poder ganhar dinheiro e pagar suas contas, consumir coisas que queremos consumir, transar com quem você quiser, não ter que aturar maridos espancadores, não ser obrigado a sustentar mulheres de que você não gosta mais, não ser obrigado a rezar se você não quiser, poder rezar se você quiser para o deus que você quiser, não ter que achar seu governante “o salvador do povo”.

Enfim, coisas básicas, não? Mas o fundamentalismo islâmico (que não é a mesma coisa que islamismo) não pensa assim.

Se, por um lado, não se pode afirmar que o Egito vá virar o Irã (que alguns ainda acham ótimo porque “enfrenta o imperialismo americano”… risadas…), por outro, negar o risco do fundamentalismo islâmico na região em questão é uma piada. Pura má fé teórica.

Risco aqui não significa apenas tomar o poder, significa minar a sociedade, enterrando as pessoas nesse “pântano de deus” onde fundamentalistas crescem como praga na lama. Essas pessoas que estão nas ruas querem emprego. Se eles falam em “liberdade”, fazem-no porque aprenderam com o Ocidente capitalista malvado. Não estão movidos por ideologias de Maio de 68. Espera aí… qual era mesmo a ideologia? Reclamar da TV, do cinema, de ter que arrumar o quarto, de ter que fazer prova na faculdade?

Que tal o Líbano, que virou refém do Hizbollah (o partido de deus), esse grupo muito pacifista e democrático? Ou a irmandade islâmica do Egito, que está “gozando” com tudo isso? E os democráticos do Hamas? Que tal mandar um desses populistas de esquerda passar uns dias com eles para discutir “liberdades individuais”? E se o voto direto por lá eleger outro Hamas?

Muitas análises são feitas a partir do que em filosofia se chama “wishful thinking” (pensamento contaminado por “desejos escondidos”). Muita gente projeta sobre esses fenômenos seus pequenos sonhos de grandeza teórica.

Esses países não têm a divisão moderna entre religião e Estado. Negociar com eles é negociar com o Islã, não nos enganemos. O necessário é falar com o Islã e seus líderes, a fim de “isolar” a praga do fundamentalismo.