quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Just

Não que eu acredite nesse lance de felicidade, pois como diziam os Beatles, "happiness is a warm gun", mas posso dizer que HOJE eu estou feliz.



quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Eu não!

"Já tivemos o primeiro presidente que tinha lido Tocqueville no original. Acho mais relevante. Eu sou assim. Não caio nesse papo cretino. Conhecemos as pessoas por suas obras, não por suas características inaugurais. Querer que as mulheres se sintam representadas por Dilma corresponde a dizer que os homens se viam representados por todos os antecessores da atual presidente. Eu nunca! Tenho mais identidade com um chimpanzé do que com Sarney, Collor ou Lula. Nas democracias, não se elegem categorias para comandar países".

Reinaldo Azevedo.
(clique no nome para ler o texto na íntegra)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

DEMÔNIOS NO ESPELHO - Pondé


NÃO, NÃO acho que o homem seja em si mau. Não creio num “em si” do homem. Refiro-me a “homem” como espécie e não como gênero. Prefiro a palavra “sexo” porque ela tem cheiro de “peso” do corpo (e para mim, tem cheiro de corpo de mulher) e a palavra “gênero” tem cheiro de assembleias militantes cheias de gente chata, feia e autoritária. Assembleias manipulam todo mundo para votar no que elas querem. Sim, eu fiz parte do movimento estudantil e estava em 1979 no Centro de Convenções em Salvador no congresso de “reconstrução” da UNE. Baseado em experiências como essas é que sempre julgo infantil quem acredita em “decisões coletivas e democráticas”. Risadas…
Voltando ao que queria dizer, não acho que o homem seja mau em si. Acho que somos sim uma espécie atormentada, perdida num espaço minúsculo de sua alma insegura e incerta e num espaço gigantesco de um universo escuro e cego. Esmagada entre um destino certo (a morte, a derrota) e opaco (algo nele depende dramaticamente de nós, mas nunca sabemos em qual medida).
Acusam-me de niilista. Reconheço que há algo de chique nisso. A medicina antiga já relacionava a melancolia à inteligência, não? Alguns apostam em traumas infantis avassaladores na minha infância. Devo tê-los muitos. Mas minha família nunca deteve o monopólio da miséria humana. A miséria humana é um “bem” dividido democraticamente entre todas as famílias que são, cada uma de sua forma, todas infelizes.
Sou daqueles que suspeitam que os traumas, as obsessões e taras é que dão consistência a uma personalidade e não os contos da Branca de Neve ou do Papai Noel, ou os bons sentimentos porque estes quase sempre são falsos. Aliás, a Branca de Neve é mais “atraente” nos momentos de agonia do que quando desperta com o beijo do príncipe. E o Papai Noel fica mais interessante quando tem e que finalmente tornou-se velho demais e por isso não consegue carregar mais presentes. Será ele ainda amado se não trouxer mais presentes ou afundará na solidão como a maioria dos idosos “sem uso”?
Mas hoje ficou na moda dizer coisas do tipo “encontre Papai Noel em seu coração e você terá esperanças”. Que horror que é ver a “inteligência” parasitada pelo oportunismo da autoajuda, se vendendo barato como brinquedo feito na China.
Sim, sofremos, mas não me interesso nem pelo sobrenatural, nem por “brinquedos chineses”. Prefiro soluções pontuais para os grandes dramas da vida. Pagar um bom terapeuta, ir ao cinema, ler um bom livro, arriscar um beijo na hora certa, tomar um bom antidepressivo quando a coisa pega, levar o filho ao médico quando ele tem febre, rezar (para quem o faz) quando nada mais funciona, apostar no mistério da vida quando cansamos da banalidade do cotidiano.
Contra a mediocridade da literatura de autoajuda travestida de “psicologia” para as massas infelizes, prefiro a psicologia de Ingmar Bergman, o grande cineasta sueco. No seu maravilhoso filme “Fanny e Alexander“, de 1982, o bispo da cidade (da igreja protestante), o “malvado” da história, se casa com a bela e recém viúva, mãe de Fanny e Alexander.
Na cena em que ele já agoniza diante da morte, ele inveja a capacidade da esposa de ter “tantas máscaras” diante da vida, enquanto ele tem “apenas uma”, aquela monstruosa que vemos ao longo do filme: um homem cruel, que usa o ministério religioso como forma de destruição da vida ao seu redor. Em desespero, ele confessa que muitas vezes tentou arrancar essa máscara do rosto, mas nunca conseguiu porque ele já não tinha rosto sem ela.
Ele não é “mau em si”. Ele é, como todos nós, inseguro, desamparado, abandonado num mundo que vaga sob uma abóbada azul vazia (imagem comum na obra de Bergman). Alguns sucumbem mais violentamente aos demônios do que outros. Alguns negam esses demônios dizendo que eles não existem. Eu prefiro vê-los no espelho todo dia porque eles são o meu rosto.
A literatura de autoajuda é apenas uma máscara vendida a R$ 1,99. Miserável falta de respeito para com uma espécie que luta ancestralmente contra os próprios demônios.