quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

No heart

Quem não é socialista antes dos 30 não tem coração. Quem é socialista depois dos 30 não tem cabeça.
Churchill




Perdi meu coração aos 20 anos. 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O horror, o horror

Há algum tempo não me deparava com um filme tão absurdamente ruim: Little Ashes - Poucas Cinzas, traz a história até então pouco conhecida do romance dos jovens Salvador Dali e Federico Garcia Lorca.
Mas a história vai parar por aqui, pois não vale a pena ser contada. Não da maneira que este filme trouxe. Tudo é ruim: os atores - a começar pela angustiante escolha de Robert Pattinson para o papel de Dalí -  a música, o enredo, enfim, praticamente nada se aproveita. O filme acaba por fazer ode à "homoafetividade" (termo politicamente correto para sexo gay) e despreza a genialidade de Luis Buñuel, retratado no filme como fascista e antirrevolucionário.

Totalmente dispensável.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NATAL - Pondé


Ela encolhia as pernas enquanto respirava mal. Ouvia ruídos do lado de fora. Correra por muito tempo. A barriga, que crescia a cada dia, pesava e náuseas tomavam conta de sua recém-nascida alma.
Quase nua, tentava esconder sua barriga enorme com as mãos porque, de alguma forma, sabia que sua barriga e o odor que exalava dentre suas pernas atraiam ainda mais predadores. Cada dia era um dia que ela roubava das mãos do mundo. Nossa pequena grávida era uma infeliz, mas era sábia: sabia que todos os animais queriam comê-la.
Lembrava que três homens a pegaram. Perdera-se do seu bando original e por isso caiu nas mãos de caçadores solitários. Não era tão feliz assim em seu bando, mas pelo menos tinha proteção em troca de abrir as pernas para alguns machos do bando de vez em quando.
Após dias de solidão em busca de alimento, a possibilidade de ter prazer com essa pequena menina (não era uma mulher plena, mas tinha um corpo que suportava dois homens ao mesmo tempo) parecia um presente dos "espíritos" para aqueles homens responsáveis pela sobrevivência de suas mulheres, velhos e crianças. Depois de um longo dia de "trabalho", penetrá-la era uma "bênção" e os acalmava.
Mantiveram a menina por alguns dias amarrada com as pernas abertas e de vez em quando a penetravam até o gozo. Tentaram por diversas vezes penetrar sua boca, mas ela resistia. Temiam seus dentes. Já por trás, foi mais fácil. Não queriam matá-la porque gostavam do movimento que ela fazia com as ancas e as pernas na tentativa inglória de se libertar. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e eles as lambiam porque eram salgadas.
O choro dela os excitava. Com o tempo, ela se acalmou um pouco e comia pedaços de carne e bebia água enquanto eles se divertiam entre suas pernas. A fome era mais importante do que o desconforto da penetração violenta. Além do mais, eles a protegiam de alguma forma.
Um dia, eles foram embora e a deixaram ali amarrada com as pernas abertas. Depois de alguns dias, quase sentiu falta de seus agressores, afinal, eles lhe davam carne e água.
Tendo se soltado, nossa pequena heroína saiu da caverna onde se encontrava e se arriscou pelo espaço aberto. Passou muita fome e frio. Tentou se aproximar de alguns grupos de humanos semelhantes a ela, mas foi rechaçada, por mulheres como ela (crianças também chutaram sua cabeça quando ela caiu no chão depois de tanto apanhar).
As mulheres gritavam com ela e jogavam pedras em sua barriga. Uma pedra atingiu um dos seus olhos e o mundo ficou vermelho.
Disputou pedaços de animais mortos com outros bichos. Cortou mesmo alguns dos seus dedos com pedras e os comeu. Buscou avidamente algum grupo de homens semelhantes ao que estivera com ela, mas não teve sucesso. Apenas bandos, e as mulheres eram excepcionalmente cruéis com ela quando se aproximava.
Àquela altura, os dias em que permanecera amarrada com as pernas abertas lhe pareciam uma "bênção dos espíritos". Nossa heroína não gostava muito daquele velho feio que berrava em seu bando sobre "espíritos", mas tinha medo dele. E o medo era sempre o que contava em sua vida.
Num dado dia que chovia muito, barulhos (trovões) caiam do céu, começou a sentir dores insuportáveis. Sua enorme barriga ficava como que dura e aquilo dentro dela (que já se mexia há dias) parecia empurrar suas vísceras para fora.
Não conseguia mais andar. Arrastava-se, deixando um rastro de líquido viscoso em seu caminho.
Nossa pequena heroína já vira isso acontecer com mulheres como ela. Aliás, uma das coisas que aprendera é que o bando se dividia entre as que abriam as pernas e os que ficavam no meio das pernas das que abriam as pernas.
Nestas, depois de algum tempo cresciam barrigas como a que ela tinha agora. Elas gritavam de dor para por para fora pequenos seres que cresceriam e ficariam iguais a eles.
Ela acabou morrendo de dor. Alguns bichos comeram pedaços de seu corpo enquanto ainda estava viva. Milhares de anos depois, seus ossos e os ossos "daquilo" que estava dentro dela ainda esperam para ser encontrados.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011