Você acha que seria ético uma mulher usar da beleza pra conseguir o que quer na vida? E uma mulher usar seu belo corpo pra dar uma má notícia pro marido, como no comercial da lingerie Hope? Esse comercial fala do poder feminino sobre o desejo do homem por ela e não sobre ela ser objeto indefeso do homem.
Aliás,
desde o jardim do Éden. Apesar de Deus ter dito a Adão "não pode comer a
maçã!", Adão não resistiu a Eva: "Come meu amor, come!". E Adão caiu de
boca. O velho poder feminino.
Você
pode ser uma daquelas pessoas que não entendem nada de mulher e dizer
"isso é um absurdo!", mas o fato é que usar a beleza como instrumento de
vida é um dado natural da experiência humana, e não necessariamente um
ato canalha ou de submissão.
A beleza é como a cerveja: um "gesto" do corpo entre a devassidão e a moderação.
Antes
de tudo, a palavra "ética" é hoje tão banal quanto "energia". Todo
mundo tem um entendimento "pessoal" do que seria ética. Quando você
escutar alguém começar com "a questão da ética", fuja. Só vem
blá-blá-blá.
Na
filosofia, não há consenso sobre o que é ético. Para alguns britânicos,
como Hume, Oakeshott ou os darwinistas, a ética é uma disciplina que
estuda hábitos de pensamento, de afeto e de comportamento, estabilizados
numa comunidade (num sentido mais restrito) ou na humanidade (no
sentido mais amplo), que se revelam hegemônicos e bem-sucedidos em
garantir uma certa ordem e um certo sucesso no convívio comum ao longo
do tempo.
Estamos
aqui a anos-luz de distância da mania de "perfeição ética" de gente
como Kant ou Singer (o cara que acha que bicho é gente). Analisemos
a ideia de mulheres (caso mais comum) usarem da beleza física pra
conseguir coisas na vida, à luz dessa ética do hábito.
Devemos separar o uso abusivo da beleza do uso ético da mesma.
Uma
mulher bonita X se veste com uma saia curta para uma entrevista, entra
numa sala com outras pessoas e se senta de pernas abertas. Isso é
abusivo. Uma mulher bonita Y se veste com uma saia menos curta do que a
mulher X, mas que ainda assim revela, escondendo, sua beleza, entra numa
sala com outras pessoas e se senta de modo discreto. Isso é ético.
Neste
nosso "experimento", a mulher Y age de modo ético. Espera-se que
mulheres bonitas revelem sua beleza (o mundo respira melhor onde há
mulheres bonitas e a beleza é um gradiente, não um "ponto isolado no
espaço"), mas essa revelação é pautada pela expectativa de que ela não
esfregue sua beleza na cara de pessoas estranhas; na cara do marido, ela
pode esfregá-la.
A ética aqui é antes de tudo o bom senso de que quem tem beleza pra revelar pode ser discreta; por extensão, quem tem beleza pra revelar e não é discreta é porque é "feia" por dentro. A sutil relação entre ser bela e ser discreta compõe o campo dos hábitos morais desejáveis nas mulheres bonitas. Pode usar a beleza, mas com moderação, assim como o álcool.
O
caso dos homens é um pouco diferente, não porque neles a beleza não
conte, mas porque as mulheres erotizam facilmente o intelecto masculino,
enquanto os homens dificilmente erotizam a inteligência feminina. Pouco
adianta as meninas ficarem bravas com isso.
Se
o entrevistador for um homem, provavelmente ele levará primeiro em
conta a beleza das duas em detrimento das mais feinhas. Mas a vulgar
sempre poderá perder a vaga no caso de o entrevistador ser também ele
alguém de bom senso.
Todo
mundo prefere gente bonita à sua volta. O ambiente de trabalho fica
muito melhor quando tem mulher bonita, cheirosa e bem vestida por
perto. Mas
isso não deve ser o critério último da decisão. Entre duas capazes, uma
bonita e outra mais feinha, entretanto, a bonita leva. Claro que a raiva contra argumentos como esse nasce dos chatinhos.
É
a falta do "recurso" contingente (a beleza até hoje é em grande parte
obra do acaso, ainda que cada vez mais passe a ser, em parte, obra da
grana) que causa o rancor. Temo que uma hora dessas inventem uma cota de
feinhas para as faculdades, as empresas e a publicidade.
Ou que proíbam as mulheres de ficarem de calcinha em casa