"Tomorrow, and tomorrow, and tomorrow
Creeps in this petty pace from day to day
To the last syllable of recorded time
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death.
Out, out, brief candle!
Life’s but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage,
And then is heard no more.
It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing."
"Amanhã, e amanhã, e amanhã
Deslizam nesse pobre desenrolar de dia para dia
até a última sílaba do registro dos tempos
e todos os nossos ontens iluminaram para os tolos
o caminho até o pó da morte.
Apaga-te, apaga-te, breve vela!
A vida nada mais é que uma sombra que anda, um pobre ator
que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco.
e depois nao é mais ouvido.
É uma história
contada por um idiota, cheia de som e fúria
Que nada significa."
Macbeth - Ato 5, cena 5.
Que este ano seja cheio de som e fúria!
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
Toda segunda tem Pondé!
Agora postarei aqui todas as segundas-feiras os artigos do filósofo Luiz Felipe Pondé que são publicados pela Folha de São Paulo.
Tudo bem que hoje é terça, mas tá valendo.
O ROMANTISMO IDIOTA DE "AVATAR"
O filme "Avatar, de James Cameron, é melhor do que "2012". "Avatar" também tem um ar apocalíptico, mas reúne elementos estéticos e de conteúdo mais elaborados do que "2012" e seu besteirol maia.Mesmo assim, "Avatar" acaba sufocado por outro tipo de besteirol que é seu romantismo para idiotas: a fé no povo da floresta que vive em harmonia com a natureza. nenhum povo vive em harmonia com a natureza. A diferença na relação com a natureza sempre se definiu pela maior ou menos capacidade técnica de cada cultura controlá-la. Os índios brasileiros que cá estavam quando chegaram os portugueses ("nossos libertadores") só viviam "em harmonia com a natureza" porque eram tão atrasados que nem conheciam a roda.Preste atenção: a relação com a natureza é de vida ou de morte, ou ela, ou nós. A expressão "lei da selva" não foi inventada pela Avenida Paulista e seus bancos, mas sim como descrição da natureza e seu horror. Isso não significa que exista uma coisa que seja "a doce Natureza". Serprentes e barbeiros, ( os besouros da doença de Chagas, não sei cabeleireiro unissex) e câncer são tão naturais quantos os passarinhos.O romantismo é uma escola literária de peso. Último grande grito contra a vida brutalizada pela fúria mercantil, ele reúne uma crítica contundente ao capitalismo tecnicista e sua crença brega na ciência - "a ciência é o grande fetiche da burguesia"dizia o filósofo Adorno. Em "Avatar", o romantismo degenera em conversas de retardado.
Revolucionários românticos sonhavam com uma vida que recuperasse “valores pré-modernos” identificados com uma vida em comunidade onde as pessoas não seriam monstros interesseiros. O problema desses revolucionários é que “comunidade pré-moderna” não é uma comunidade de hippies legais, mas um tipo de sociabilidade onde o padeiro da esquina sabe que sua mãe é amante do padre, que seu pai é um brocha, e que nem você nem ninguém têm para onde ir. A idealização do que seria uma comunidade é uma das marcas dos idiotas utópicos. Ninguém está disposto a abrir mão da liberdade individual moderna em nome de qualquer comunidade, por isso toda tentativa de “refundar” comunidades fracassa, apesar da admiração de muito pós-moderno bobo por culturas que não conheciam a roda. Não basta ter um filtro de barro em sua casa na Vila Madalena pra você conseguir viver em paz na comunidade da deusa natureza. O filme se passa num planeta (Pandora) tipo Amazônia, onde existe enorme riqueza mineral escondida sob o solo coberto por uma floresta tropical cheia de “monstrinhos e plantas que ascendem ao toque das mãos”, habitada por uma população linda de seres que muito se parecem com índios americanos. Pandora já remete à narrativa da “caixa de Pandora” e suas maldiçoes. O nome da raça que habita Pandora, os Na’vi, soa muito próximo da palavra hebraica para “profeta”, “navi” ou “nabi”. Os humanos gananciosos não são capazes de perceber como os Na’vi são seres em contato com a deusa cósmica. Os índios de Pandora são profetas da deusa.
O personagem humano principal é paraplégico, mas ao se tornar um Na’vi recupera as pernas: eis a metáfora da condição humana vista pelas lentes do romantismo degenerado. Somos aleijados em comparação aos belos índios místicos donos da verdade cósmica. E qual é essa verdade? Que a natureza é um grande cérebro pensante e que devemos nos dobrar a ela porque assim a vida será bela. Meu Deus, como ter paciência com esses aleijados mentais? Ninguém leu Darwin? Ninguém nunca observou a natureza de perto? Nunca sentiu o odor de sua violência?Numa cena, nosso herói escapa de uma fera. Esta mesma fera se oferecerá em seguida como montaria dócil para a heroína Na’vi a fim de combater os humanos gananciosos. Hipótese do filme: se um leão come a cabeça da mulher, isso é “bem cósmico”, mas diante da ganância humana, ele se oferecerá como montaria dócil e fará discernimento entre sua crueldade “do bem” e da “maldade humana”. Noutra cena, na qual a heroína Na’vi salva o mocinho, ela dirá: “Eu tive que matar essas belas criaturas porque você fez barulho”. Moral da historia: se você não respirar e não andar, a natureza o amará par sempre. Caso apareça um porco capitalista, os leões virarão gatinhos. Só um idiota pensaria isso.
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