Recebemos, recentemente, a visita do líder religioso budista tibetano Dalai Lama. Os iniciados tiveram surtos místicos?
Nada
contra ele. De fato, o líder budista tem uma imagem positiva no
Ocidente, ao contrário do papa Bento 16, que é visto como conservador.
O
Dalai Lama defende tudo que gente legal defende: o verde, a tolerância
com o "outro", um capitalismo do bem, enfim, uma religião sustentável
nos termos que ocidentais que migram pra religiões orientais costumam
gostar, ou seja, de baixo comprometimento religioso. Além de, nela, não
ter nenhum parente chato.
Uma religião sustentável é uma religião na
qual ninguém tem de sustentar nada além de uma dieta balanceada, uma
bike legal e um pouco de meditação durante a semana. De empresários "do
bem" aos falantes da língua tibetana, muita gente correu pra ouvir essa
sabedoria "estrangeira".
Religiões são sistemas de sentido. A vida,
aparentemente sem muito sentido, precisa de tais sistemas. A profissão
pode ser um. A dedicação aos filhos, outro. A história, a natureza,
grana também serve. Enfim, muita coisa pode dar sentido a uma existência
precária como a nossa, mas nada se compara a uma religião.
Para
funcionar, as religiões têm de garantir crenças e constranger
comportamentos a partir de liturgias, mitos, exercícios de poder
sacerdotais e regras cotidianas munidas de "sentido cósmico".
Você
não "acessa" o sentido oferecido sem "pagar", com a própria adesão, o
pacote completo. Isso serve para o catolicismo e para o budismo, ao
contrário do que pensa nossa vã filosofia "nova era". No Oriente, o
budismo é uma religião como qualquer outra, cheia de vícios e abusos.
A
crítica à religião no Ocidente passou pela mão de grandes pensadores.
Freud disse que religiosos são obsessivos que não sobreviveram bem à
falta de amor incondicional da mãe e à miserável castração do pai
verdadeiro, daí creem num Deus todo-poderoso que os ama.
Nietzsche
identificou o ressentimento como marca dos religiosos que são todos uns
covardes. Feuerbach sacou que Jesus é a projeção alienante de nosso
próprio potencial.
Marx acrescentou que essa alienação é concreta e
que se ganha dinheiro com isso. Enfim: o religioso é um retardado,
ressentido, alienado e pobre, porque gasta dinheiro com o que não deve, a
saber, os "profissionais de Deus".
O que eu acho hilário é como muito "inteligentinho" acha que o budismo seja uma religião diferente das "nossas".
Ela
seria sem "vícios" e "imposições". Pensam, em sua visão infantil das
religiões orientais, que dramas sexuais só afetam celibatários de Jesus e
não os de Buda, e que o budismo, por exemplo, é "legal", porque não tem
a noção de pecado.
O budismo ocidental que cultua o Dalai Lama é o
que eu chamo de budismo light. O perfil desse budista light é
basicamente o seguinte.
Vem de classe social elevada, fala línguas
estrangeiras, é cosmopolita, se acha melhor do que os outros (apesar de
mentir que não se acha melhor, claro), tem formação superior, mora na
zona oeste ou na zona de sul de São Paulo, come alimentos orgânicos
(caríssimos) e é altamente orientado para assuntos de saúde do corpo (um
ganancioso com a vida, claro).
E, acima de tudo, acha sua religião
de origem (judaísmo ou catolicismo, grosso modo) "medieval", dominada
pelo interesse econômico, e sempre muito autoritária.
Na realidade,
as causas da migração para o budismo light costumam ser um avô judeu
opressivo, uma freira chata e feia na escola e uma revolta básica contra
os pais.
Em extremos, a recusa em arrumar o quarto quando
adolescente ou um escândalo de pedofilia na Igreja Católica. Além da
preguiça de frequentar cultos e de ter obrigações religiosas.
Enfim,
essas são a bases reais mais comuns da adesão ao budismo light, claro,
associadas à dificuldade de ser simplesmente ateu.
A busca por uma
espiritualidade light é como a busca por uma marca de jeans, uma
pousadinha numa praia deserta no Nordeste ou um restaurante de comida
étnica da moda.
A espiritualidade do budismo light é semelhante a uma Louis Vuitton falsa. Brega.
3 comentários:
Tadinho do Pondé, ficou tão afetado com a visita do Dalai Lama. Conhece tão pouco do Budismo e dos budistas e acha que já pode descascar um fundamentalismo tão rasteiro. Brega é a intolerância. É chato não ter o que falar, mas se ele quisesse criticar poderia ter feito algo melhor. No entanto, a preguiça de pesquisar com mais profundidade não deixou. Poderia aqui dizer que isso é típico dos jornalistas da Folha que querem transformar uma simples crônica numa epifania. Porém, sei que isso é generalização. Existem bons jornalistas na Folha. Infelizmente, existe esse exemplo típico da velha imprensa, que gosta de aparentar saber aquilo que não sabe.
Ta tudo no mesmo saco, duvido que Jesus - se é que existiu - aceitaria o "cristianismo ligth" que conhecemos hoje.
Luis: acredito que você não conheça Pondé para além da Folha. Ele não é jornalista: é filósofo com um vasto - e ponha vasto nisso - conhecimento em religião. Procure o curriculo lattes dele para ter noção do que estou falando.
Pedro: concordo contigo. Jesus estaria se revirando no túmulo - se estivesse em um...rsrs.
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