Você namoraria o porteiro do seu prédio? “O quê?!” Assusta-se a leitora, nesta segunda-feira, dia 31 de janeiro.
Hoje, o ano novo já mergulha na corrida sonambúlica de todos os anos velhos. Claro que seus planos para 2011 não darão certo.
Provavelmente você continuará menos amada do que gostaria, ganhando menos do que gostaria, com os mesmos amigos chatos, os mesmos namorados bobos (os melhores já estão “ocupados”, como sempre, ainda que você possa, como sempre, tentar tomá-los das suas melhores amigas) e pegando o trânsito idiota de todo feriadão para ir a praias que são cheias de gente brega e mal-educada. Aquelas mesmas que invadem os aeroportos com seus quilos de bagagem e sua alegria de praça de alimentação.
Calma, talvez eu esteja apenas enganado, e em 2011 aconteça tudo que aquela vidente picareta disse para você que ia acontecer.
“Que diabos este colunista está querendo dizer com essa história de eu namorar o porteiro do meu prédio?” Mas, claro, ela não responde a minha pergunta, porque uma pergunta como essa pode revelar que ela não é tão legal quanto gosta de fazer parecer em jantares inteligentes.
Essa pergunta não é minha propriamente, mas de um amigo meu bem esquisito. Ele fez essa pergunta em meio a u ma discussão sobre ter ou não ter preconceitos, e achei que era muito bem pensada. Na realidade, a conversa nasceu do meu desgosto com o estilo de vida “praça de alimentação”. Esse meu desgosto deixa muita gente “legal” indignada. Pessoalmente, suspeito fortemente de gente “legal” e “indignada”, confio mais em gente blasé.
Imagine você, toda bonita, magra na medida certa, dieta de baixo impacto calórico e bem-sucedida na profissão, mãe de um filho de 12 anos preocupado com o aquecimento global, enquanto deixa o quarto sempre desarrumado, até que você se descabele e comece a berrar “arrume esse quarto, menino!”. Agora imagine você saindo com o porteiro de seu prédio, de mãos dadas, num desses restaurantes chiquinhos que você frequenta.
Do que vocês conversariam? Que tal sobre sua revolta contra preconceitos e contra injustiça social? Que tal um beijo na boca bem gostoso em nome da igualdade social?
Você já viu aquele filme “Adivinhe Quem Vem para Jantar” (mais infos), com Sydney Poitier? Veja (trailer no IMDB ou trecho do filme no YOUTUBE).
Antes que o plantão dos humilhados e ofendidos grite, também sou contra injustiça social e contra preconceito. Hoje todo mundo que sabe comer de boca fechada também sabe sofrer pelas criancinhas da África. Atualmente, ser contra injustiça social e contra preconceitos é tão banal quanto ler horóscopo todo dia de manhã.
Incrível como, suavemente, todos os ideais sociais modernos tombam, como o cristianismo já tombara desde a Antiguidade tardia, à hipocrisia social de salão.
Agora, imagine você, caro leitor, homem moderno, sensível, machista nem pensar, que acredita em redes sociais, que diz por aí que não tem medo de mulher (mentiroso, todo homem tem medo de mulher, principalmente quando está interessado nela).
Imagine que sua filha está a fim do porteiro do seu prédio. Imagine ela saindo com ele. Ele dirigindo o carro que você deu para ela. Que tal eles irem a algum churrasco na laje que ele frequenta? Ou, quem sabe, ir a alguma dessas igrejas por aí onde o Espírito Santo “baixa” e as pessoas pulam e gritam feito loucas “Aleluia, aleluia!”?
Que tal se sua filha quiser se casar com ele? Você paga pelo casamento? Que tal um filhinho com a cara dele? Você visitará a família dele no Nordeste?
Mas, atenção: nada de resort cinco estrelas ou pousadinhas de um holandês doidão que se cansou da Europa e veio em busca de uma natureza selvagem. Hospede-se na casa da família dele.
Agora, imagine nosso belo casal, tirando seus filhos dessas escolas chiquinhas que ensinam aos seus filhos “consciência social” ao preço de quase R$ 2.000 mensais, em bairros “nobres”. Agora pense neles matriculando seus filhos em 2011 (afinal, ano novo, vida nova) numa escola pública onde o filho do seu porteiro estuda.
Agora convide seu porteiro para jantar. Qual é o nome dele mesmo?
12 comentários:
quanta merda
E quanta eloquência a sua!
Afffffff
uma vez li que o pondé escreve esses tipos de texto polêmico só pra aqueles que pensam sobre a sociedade se amargarem, esses textos na coluna da Falha de São Paulo são rasos, paira preconceito, mediocridade, a sociedade não a 'coisa' estática que ele coloca, a forma que ele enxerga o mundo, é uma das formas apenas; provavelmente ele se amarga com textos densos e realistas tratando sociedade.
Os artigos de Pondé para Folha precisam ser mais palatáveis já que estão no jornal. Suas análises sobre o cotidiano e a sociedade são únicas e apontam uma análise bem pessoal. Aí reside a genealidade dele.
Agora, existe o lado acadêmico de Pondé. Aí sugiro os livros.
Mas se você achou "amarga" a forma dele escrever para o jornal, nem precisa ler os livros...rs
eu não achei, acho mediocre mesmo, como você disse análise pessoal (cheia de preconceitos e valores próprios), que não consiste com a realidade, li um texto de divulgação de um livro dele onde ele escrevia isso, que os textos dele são pra fazer pessoas de esquerda 'sofrerem'. podia ter um propósito mais interessante ...
A diferença é exatamente ai: o Pondé fala por si e por mais ninguém. E deixa isso bem claro; então os textos SÂO PESSOAIS POIS ASSIM DEVEM SER.
E que sofra a esquerda torpe. Esse já é um propósito pra lá de interessante (se é que deve haver algum propósito...)
Realmente, seus textos não tem valor algum como análise social, apenas elevam o ego daqueles que pensam como ele. Interessante.
"análise social", hahahahahah!
é exatamente esse tipo de coisa que Pondé abomina.
Eu não entendo porque tem gente que lê Pondé e acha ruim. como já disse uma vez: tá incomodado, pare de ler. Mas os "críticos" de Pondé adoram tentar provar o quão errado é o seu pensamento. Afffff.
Quer crítica social? Vá ler Marx, Paulo Coelho, Sidney Sheldon...rsrsrs
Não sou crítico de Pondé, raramente leio os textos dele - também porque não me acrescenta nada de ineteressante - é que acabei chegando até o seu blog de alguma forma, e resolvi comentar. Se ele escreve sobre sociedade, parece ser um tipo de análise social. Você desempenha bem o papel de tiete do gênio Pondé.
Pondé é um dos melhores filósofos brasileiros, sem sombra de dúvida. sou formação é de dar inveja a qualquer ser: medicina e filosofia. É pós doutor em religião e lecionou na Universidade de Tel Aviv. É articulista de um jornal, escreve livros regularmente, leciona em 2 grandes faculdades em São Paulo, ministra cursos na Casa do Saber e faz parte do Café Filosófico da CPFL Cultura/Tv Cultura.
É. Parece que sou tiete de primeira.
ser tiete é o problema. títulos? ta cheio de gente com títulos por aí
problema é ter título e não ser ninguém, ficar dando aula nessas faculdades de quinta...
sou fã do cara mesmo.
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