segunda-feira, 5 de março de 2012
CONHECE-TE A TI MESMO - Pondé
Decidi mudar. Não serei mais aquela pessoa que acha que as pessoas não mudam e que não há história, mas sim um eterno retorno do mesmo. Nietzsche nunca mais, só Rousseau e seu estado de natureza angelical.
Acredito agora nas primaveras que cortam o mundo. Fui à livraria mais próxima, ou melhor, ao iPad mais próximo, e comprei um livro que me indicaram: "Dez passos para ser um novo Pondé", autoria de um certo sábio chinês que talvez seja um neto de coreano nascido na Califórnia de pais porto-riquenhos.
O primeiro passo é aprender a respirar. Sou dono da minha respiração agora. Em seguida, alimentação. Nunca mais carne vermelha. De início, ainda frango e peixe, mas em breve pretendo me tornar um amante das rúculas e alfaces, mas sempre pedindo perdão por precisar tirá-las de sua vida doce e promissora fazendo fotossíntese. Coca-Cola, nem pensar. Além do mais, é americana! Vinho, só natural.
Um segredo: continuarei a ir aos EUA porque um tênis lá custa cinco dólares! Irei escondido e voltarei com dez malas. Mas, temos ou não direito a ter tênis baratos? Acho uma falta de respeito proibir as pessoas de comprar tênis e jogos eletrônicos baratos em Miami.
Amarei a África. Abraçarei todas as ONGs do mundo. Direi às pessoas que elas são lindas e que o mundo faz parte de uma confederação cósmica. Os maias foram o povo mais avançado da história e decidi frequentar escolas aborígenes para aprender seu complexo modo de criar sociedades mais justas.
Religião: nunca mais essa coisa pesada de judaísmo e cristianismo, religiões que nos estragam com sua moral "imposta". Candomblé também não. Claro, como é religião africana, seria aprovada pelo meu novo eu, mas em alguns terreiros baixam pombagiras, e elas foram prostitutas e adúlteras, e não quero nem chegar perto disso! Aliás, decidi que essas coisas não existem.
Minha nova religião será uma forma de budismo light, aquele tipo que cultua a energia do universo. Sei que existem outros tipos, mas aqueles são autoritários. Toco as plantas com mais cuidado e percebi que elas são mais sábias do que Freud. Claro, comprei uma estatueta de um golfinho e joguei fora aquela esfinge do Édipo horrorosa que minha irmã me deu em Londres.
Nunca mais tragédia grega, agora só revistas que nos ensinam como o mundo pode ser melhor se arrumarmos nossos sofás de forma mais harmônica com as estrelas. Contratei uma mestra em decoração oriental. Ela é uma mulher supermagra e equilibrada. Imagine que curou um câncer em seu gato com reiki.
Direi para todo mundo que não gosto de dinheiro e que gosto das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Perguntarei aos artistas com consciência social o que posso dizer e fazer.
Vendi meu horroroso carro inglês. Estou aprendendo a andar de bike (já sabia andar de bicicleta, mas bike é outra vibe). Ainda que tenha que atravessar as ladeiras das Perdizes para ir trabalhar (pena que ainda tenha que fazer parte desse mundo terrível de pessoas que trocam sua dignidade por dinheiro), já me explicaram que cada pedalada evita duas moléculas de gás carbônico, o que faz de mim uma pessoa com pegada de carbono sustentável.
Sexo, agora, só verde. Se provarem que esperma polui o mundo, evitarei o orgasmo, assim como na Idade Média dizem que mulheres santas evitavam gozar para serem puras aos olhos de Deus. Enfim, sinto-me leve com meu novo eu. Provavelmente, serei mais amado, e isso é que conta, não? Acredito, agora, num mundo melhor.
De repente, acordei. Sentei na cama. Ao lado, minha mulher dormia, com seu corpo de pecadora.
Fui até a biblioteca e vi os livros de Nietzsche, Freud, Pascal, Dostoiévski, Cioran, Bernanos, Roth, Camus, Nelson Rodrigues me olhando com olhos de profetas.
Os dedos indicadores em riste apontavam para mim.
Ao lado de minha estatueta da esfinge de Édipo, lia-se: "Conhece-te a ti mesmo". Voltara a ser eu mesmo. Esse miserável escravo das moiras, de felicidade complicada, doçura rara, boca seca e olhos vermelhos. Reconheci-me: sou o mesmo pecador de sempre, sem esperança.
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15 comentários:
Ele tem medo que sua unidade caia. Só porque ele vive dentro de uma fórmula de ser, quer colocar todo mundo numa também.
Mas isso é impossível, e o texto acaba sendo mesquinho/ tosco.
Unidade de quê?
"Fórmula de ser" ?
Ele tem a sua grade (bases) de vida. E tem medo que isso tudo caia por terra, que mude o status quo da sociedade e então ele fique sem o apoio de suas "verdades".
Ele adora classificar pessoas, colocar todo mundo numa grade linear.
Este documentário (Dirijo) demostra como a sabedoria antiga tem seus valores: Parte 01/ Parte 02
Mas o Pondé dentro de sua bolha importada só consegue observar a realidade a partir de seus rótulos pretenciosos e arrogantes. Ao menos em seus textos na Falha de São Paulo.
"Unidade" = o Pondé sempre quer repassar a sua unidade de ser, pregando sua cartilha de condutas "politicamente incorretas".
"Fórmula de ser" = uma grade fechada de conceitos e ideais ...
Esquece que o mundo é diversidade.
Síndrome do pensamento único, hehehe.
Pondé sempre batendo na mesma tecla.
O que me parece é que para Pondé e sua turma por ingenuidade ou má vontade é difícil pensar sobre as realizações intelectuias dos maias para além de uma civilização ultrapassada e como menso avançada que a nossa.
Estão presos a velha compreensão de que os maias representavam um dentre vários fluxos de civilizações que lutavam contra as adversidades ambientais para atingir nosso nível de materialismo e de ciência.
Quem sabe esse povo não pode ser compreendido com os padrões - limitados - que temos usado para medi-los e julga-los.
"José da Silva": e quem não tem sua "grade" de vida? Você? Todos temos. Agora, dizer que Pondé tem medo que o status quo mude, é pra rir, né? Medo? Perder apoio? hahahahahahahaha. Ninguém precisa de apoio pra expressar o pensamento.
Marcos: desde de quando sabedoria se liga a utilizar alucinógenos em rituais? independente de tempo, etnia ou religião, utilizar ou não ervas, chás, bebidas para rituais não demonstra nada além do que se mostra: uma parte de um ritual. Agora, se você quis demostrar que quem fuma maconha é sábio, então está debatendo no lugar errado.
Murilo: quem é a "turma" de Pondé? Rsrsrsrsr
ele faz da sua profissao de filosofo, o seu diva......na verdade, ponde nao passa de alguem com muitos questoes mal resolvidas em sua vida....a unica diferenca eh que ele expoe tudo isso.... ponde adora um palco, e seu intuito eh chocar com suas reclamacoes de menino entendiado....
Parece que você faz parte da turma dele, e mais uns outros que acreditam piamente que ele é um escritor de "vanguarda medieval", HAHAHA.
Não que eu não tenha as minhas convicções de vida, mas não fico a todo custo tentando empurra-las para os outros. Mas se um filósofo é grosseiro/tosco impingindo suas idéias, então pode ser debatido no mesmo nível - ainda mais replicado em um blog.
A vida só funciona em diversidade.
ponde eh um menino com serios problemas existenciais, e faz da sua profissao de filosofo, o seu diva......
É , Sr. Anonimo, parece que és bem resolvido com tua vida! Parabéns! Ganhou o título de "o homem mais bem resolvido do mundo que não tem coragem de sequer ter um nome". E viva Freud, que deve estar se revirando no caixão ao difamarem seu divã.
Murilo: você está completamente certo! Sou da "turma" dele pois me agrado de seus escritos e de sua pessoa. Já você, parece que está perdido com a turma errada, nesse blog "pondetiano", kkkkkkkkkk.
Zé da Silva: Tosco são aqueles que debatem sem antes se aprofundarem no tema e falam besteira cometendo falácias. Se você está neste humilde blog batendo nas convicções de Pondé então você já está declarando suas teorias de vida. A diferença é que a Folha de São Paulo tem circulação nacional...rs
É pra isso que servem os blogs.
Hoje cada um tem o seu palquinho na praça pra declarar suas idéias ... só acho o Pondé un tanto pretensioso/ arrogante, mas inteligente.
No fundo é só uma tentativa frustrada de tentar debater questões deste nível com alguém, ao invés de quem ta pegando mais no BBB500, ou outras porcarias por aí ... hehehe.
Acho que é mais ou menos essa insegurança que permeia os textos do Pondé.
"O que você faz quando o mundo como você conhece, muda de repente e tudo que você pensou que era seguro e estável se torna instável e inseguro dentro de momentos?"
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