terça-feira, 20 de dezembro de 2011

NATAL - Pondé


Ela encolhia as pernas enquanto respirava mal. Ouvia ruídos do lado de fora. Correra por muito tempo. A barriga, que crescia a cada dia, pesava e náuseas tomavam conta de sua recém-nascida alma.
Quase nua, tentava esconder sua barriga enorme com as mãos porque, de alguma forma, sabia que sua barriga e o odor que exalava dentre suas pernas atraiam ainda mais predadores. Cada dia era um dia que ela roubava das mãos do mundo. Nossa pequena grávida era uma infeliz, mas era sábia: sabia que todos os animais queriam comê-la.
Lembrava que três homens a pegaram. Perdera-se do seu bando original e por isso caiu nas mãos de caçadores solitários. Não era tão feliz assim em seu bando, mas pelo menos tinha proteção em troca de abrir as pernas para alguns machos do bando de vez em quando.
Após dias de solidão em busca de alimento, a possibilidade de ter prazer com essa pequena menina (não era uma mulher plena, mas tinha um corpo que suportava dois homens ao mesmo tempo) parecia um presente dos "espíritos" para aqueles homens responsáveis pela sobrevivência de suas mulheres, velhos e crianças. Depois de um longo dia de "trabalho", penetrá-la era uma "bênção" e os acalmava.
Mantiveram a menina por alguns dias amarrada com as pernas abertas e de vez em quando a penetravam até o gozo. Tentaram por diversas vezes penetrar sua boca, mas ela resistia. Temiam seus dentes. Já por trás, foi mais fácil. Não queriam matá-la porque gostavam do movimento que ela fazia com as ancas e as pernas na tentativa inglória de se libertar. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e eles as lambiam porque eram salgadas.
O choro dela os excitava. Com o tempo, ela se acalmou um pouco e comia pedaços de carne e bebia água enquanto eles se divertiam entre suas pernas. A fome era mais importante do que o desconforto da penetração violenta. Além do mais, eles a protegiam de alguma forma.
Um dia, eles foram embora e a deixaram ali amarrada com as pernas abertas. Depois de alguns dias, quase sentiu falta de seus agressores, afinal, eles lhe davam carne e água.
Tendo se soltado, nossa pequena heroína saiu da caverna onde se encontrava e se arriscou pelo espaço aberto. Passou muita fome e frio. Tentou se aproximar de alguns grupos de humanos semelhantes a ela, mas foi rechaçada, por mulheres como ela (crianças também chutaram sua cabeça quando ela caiu no chão depois de tanto apanhar).
As mulheres gritavam com ela e jogavam pedras em sua barriga. Uma pedra atingiu um dos seus olhos e o mundo ficou vermelho.
Disputou pedaços de animais mortos com outros bichos. Cortou mesmo alguns dos seus dedos com pedras e os comeu. Buscou avidamente algum grupo de homens semelhantes ao que estivera com ela, mas não teve sucesso. Apenas bandos, e as mulheres eram excepcionalmente cruéis com ela quando se aproximava.
Àquela altura, os dias em que permanecera amarrada com as pernas abertas lhe pareciam uma "bênção dos espíritos". Nossa heroína não gostava muito daquele velho feio que berrava em seu bando sobre "espíritos", mas tinha medo dele. E o medo era sempre o que contava em sua vida.
Num dado dia que chovia muito, barulhos (trovões) caiam do céu, começou a sentir dores insuportáveis. Sua enorme barriga ficava como que dura e aquilo dentro dela (que já se mexia há dias) parecia empurrar suas vísceras para fora.
Não conseguia mais andar. Arrastava-se, deixando um rastro de líquido viscoso em seu caminho.
Nossa pequena heroína já vira isso acontecer com mulheres como ela. Aliás, uma das coisas que aprendera é que o bando se dividia entre as que abriam as pernas e os que ficavam no meio das pernas das que abriam as pernas.
Nestas, depois de algum tempo cresciam barrigas como a que ela tinha agora. Elas gritavam de dor para por para fora pequenos seres que cresceriam e ficariam iguais a eles.
Ela acabou morrendo de dor. Alguns bichos comeram pedaços de seu corpo enquanto ainda estava viva. Milhares de anos depois, seus ossos e os ossos "daquilo" que estava dentro dela ainda esperam para ser encontrados.

11 comentários:

Marcelo disse...

É mais um texto de ultra direita, disfarçado de "arte para iniciados" que o Pondé escreve para expressar suas ideias misóginas e conservadoras. Ele é ótimo para atingir mentes que não tem a minima noção de antropologia, e que foram condicionadas em ideias prontas a cerca de uma idade das pedras mítica.
Assim ele subverte os fatos a cerca do matriarcado, onde a mulher realmente tinha um papel de destaque, criando uma leitura falaciosa onde a tal mulher vivia pior ainda do que no patriarcado medieval, em especial o cristão.

flávia disse...

Vamos por partes, como diria Jack:
1. Uma das coisas que mais faz Pondé rir é quando o chamam de misógino. Também rio.
2. A formação dele é em medicina, depois filosofia e ciência da religião. Antropologia com certeza perpassa essas áreas.
3. Acerca, nos dois casos citados por você, se escreve junto, e não separado.
4. Subversão, matriarcado...termos embebidos de doutrinação marxista - ou seja, como você mesmo diz, "ideias prontas".
4. Você parece não ter percebido do que o texto tratava. Não fala nada em patriarcado, nem era medieval , muito menos em cristianismo. Releia. Ou desista.

Marcelo disse...

Não que o texto retrata algo sobre a idade média, mas fiz uma comparação com o patriarcado medieval, e como Pondé descreve o tratamento da mulher em sua história.

O homem mais forte que domina a mulher ("fragil"), me parece um tanto ideias patriarcas (uso do termo no sentido de orientação masculina da organização social).

flávia disse...

Frágil não é bem a situação da mulher descrita no texto, que suporta o estupro, a fome e perece pela solidão.
E acredito que queira ter dito "ideias pratriarcais" e não "ideias patriarcas", não é?

Marcelo disse...

Por isso coloquei "frágil". Que apesar de suportar tudo isso é totalmente dominada pelos homens (o sexo "forte").

Mas acompanhando os textos do Pondé, não é difícil perceber o que ele quer dizer com:

"homens responsáveis pela sobrevivência de suas mulheres, velhos e crianças."

"e as mulheres eram excepcionalmente cruéis com ela quando se aproximava."

flávia disse...

O seu outro coment tinha tanto erro de concordância, ortografia e compreensão que não dava para postar.
E as mulheres são realmente cruéis. Sempre foram e sempre serão.

Marcelo disse...

Outros dizem, o ser humano é cruel.

" ... mas com verdades semelhantes a esta (...) é que convertemos vida em algo monótono e estúpido. Desta forma teremos de renunciar a tudo, ao espírito, às aspirações; teremos de destruir a humanidade, teremos de permitir que reine o egoísmo e o dinheiro e esperar a próxima guerra com um copo de cerveja à mão." Trecho do livro Lobo da Estepe, escrito por Hermann Hesse

Gabriel disse...

Que merda, realmente não saquei o texto... alguma alma caridosa gostaria de me ajudar a fazer o parto?

flávia disse...

Li como um conto.

Marcelo disse...

Censurado.

E você quem crítica tanto o totalitarismo "comunista".

flávia disse...

Hahahahahaha. Sabe o pior? É que pessoas como você acreditam piamente que estão fazendo "a coisa certa", que censura é isso! Não sabem nem ao menos diferenciar o que é público do que é privado!
A censura de que você fala cerceia a liberdade comum dentro do Estado - ou seja, daquilo que é para todos.
Isso é um blog pessoal, portanto, posso não tolerar certos tipos de escrita, ainda mais quando contêm tantos erros - gramaticais e também de construção ideológica.
Pode espernear.
OU se mude para a China. Lá não teria problema com isso: não existem blogues! Rsrsrs