Estou em Jerusalém. Sou a favor do Estado palestino, mas acho que uma
das coisas mais inúteis entre nós é discutir o problema
israelo-palestino. Falta informação. Quando um ministro israelense disse
que Lula deveria estudar a história do conflito antes de se meter, não
era piada.
A mídia tem claro viés contra Israel. Fotos de palestinos
em sangue após ataques de Israel abundam, mas fotos de israelenses em
pedaços nos inúmeros ataques ou mísseis lançados contra o Estado judeu
nos últimos anos raramente são vistas.
Muita gente nada sabe da
história do conflito, mas tem uma certeza pétrea contra Israel. De onde
vem essa fúria? Da velha "questão judaica" (o habito de ver os judeus
como "causa" dos problemas)?
Nada sabe sobre o fato de que as
fronteiras de Israel não são minimamente seguras e que a paz armada que
aqui existe é devido ao gigantesco poder militar superior de Israel
sobre os países árabes e muçulmanos da região e à paranoia da segurança
vigiada contínua.
Separar a questão palestina da ameaça iraniana é coisa de quem não entende nada do assunto ou é ideológico.
Se
países e terroristas muçulmanos não destroem Israel é porque não podem,
e não porque não querem. Poucos grupos palestinos estão dispostos a
negociar reconhecendo a existência de Israel. Muitos continuam com a
antiga política de "judeus ao mar".
O argumento da insegurança
geopolítica de Israel é fato real, mesmo que muitos especialistas se
recusem a levar em conta por razões ideológicas. Este argumento é usado
por grupos israelenses radicais contra as negociações. E por isso esses
radicais ganham força para criar colônias na Cisjordânia.
Muitos
israelenses são a favor da fundação do Estado palestino, mesmo sabendo
que nem por isso os ganhos geopolíticos serão imediatos.
O problema
israelo-palestino é um problema israelo-árabe-mulçumano. A origem foi a
recusa dos países árabes em aceitar a fundação do Estado de Israel em
1948 e a guerra a ele declarada em seguida. A manchete do "New York
Times" de 15 de maio de 1948 falava da decisão egípcia de invadir
Israel.
Esses países nunca estiveram interessados num Estado dos
árabes (hoje denominados "palestinos"), que viviam na parte designada
para eles na "partilha da Palestina", feita pelos ingleses que eram
donos da terra.
Mesmo o fato de que jamais existiu nos últimos 3.000
anos qualquer unidade política autônoma aqui, a não ser o reino judeu, é
desconhecido por muita gente boa.
A região era chamada de Judeia
(como assim o foi por milênios) e apenas os romanos, no século 2 d.C.,
passaram a usar o nome "Palestina" como parte da dissolução do reino
judeu.
A vinda dos judeus europeus no século 20 para cá foi motivada
(além do nazismo) justamente por esta continuidade histórica comprovada
e interrompida desde a destruição pelos romanos do reino israelita no
início da Era Cristã.
Continuidade nunca perdida, como comprova a
"oração" judaica: "Este ano aqui, ano que vem em Jerusalém". Dizer que
os palestinos seriam os filisteus é semelhante a dizer que os europeus
são neandertais porque estes viviam lá 50 mil anos atrás.
Não há
nenhuma continuidade arqueológica ou cultural que comprove a relação
filisteus-palestinos, ao contrário da continuidade israelita antiga e
moderna, sobre a qual, aliás, se sustenta grande parte da cultura
ocidental.
A hipótese do historiador israelense "pós-sionista" Shlomo
Sand, que nega a continuidade judaica, está longe de ser hegemônica,
mas vale a pena ler "A Invenção do Povo Judeu", ed. Benvirá, apesar do
viés anti-Israel do autor. Será que em algum país árabe ou no Irã alguém
poderia escrever um livro "contra si mesmo"?
Quase sempre quem
critica Israel são pessoas com motivações ideológicas que identificam na
questão uma causa contra o imperialismo judaico ou americano.
Ou
"pior": a convergência entre o atávico antissemitismo e o sentimento
anti-Israel é óbvia e se comprova em falas ainda atuais como "Israel só
existe por conta da grana dos judeus americanos que mandam nos EUA".
A velha "questão judaica" não acabou.
2 comentários:
Eu não sei se os americanos que mandam dinheiro pra Israel são judeus ou não. Talvez alguns sejam, outros não. Mas é um fato óbvio que os EUA injetam muita grana naquele pedacinho de terra, e o fazem por interesse estratégico na região. Dizer isso não é ser antissemita ou anti-Israel, é apenas a constatação da realidade. O Pondé é muito tendencionista.
Hoje os EUA mudaram de posição, devido às colocações de Obama. Não se sabe o que vem por aí, mas dá pra ter ideia do que pode acontecer caso uma nação se volte contra a outra...
Em relação a ser tendencioso, afinal, quem não é? E como o próprio Pondé diz, a maior parte das pessoas não tem a mínima noção do que é essa briga e fala muita bobagem por ai.
Postar um comentário