O
mundo acabou. Não viaje. Assista a filmes em casa ou vá para cidades
sem graça do interior. O mundo foi tomado por um tipo de praga que não
tem solução: os gafanhotos do sucesso da indústria do turismo.
O
horror começa nos aeroportos, que, graças ao terrorismo fundamentalista
islâmico, ficaram ainda piores com seus sistemas de segurança
infernais. Esse mesmo terrorismo fundamentalista que faz as
"cheerleaders" dos movimentos sociais sentirem "frisson" de prazer na
espinha.
Uma
grande figura do mercado de análise de comportamento me disse
recentemente que, em poucos anos, só os pobres (de espírito?) viajarão.
Tenho
mais certeza disso do que da aritmética de 2 + 2 = 4. Aeroportos serão o
último lugar onde você vai querer ser visto. Gostar de viajar hoje pode
ser um forte indício de que você não tem muita imaginação ou opção na
vida.
Veja,
por exemplo, o que aconteceu com os lugares sagrados de Jerusalém.
Aquilo virou uma Disneylândia de Jesus. Imagino que, dentro de alguns
anos, teremos atores fracassados do Terceiro Mundo vestidos de
Judas-Patetas, Maria-Branca de Neve, Tio Pôncio-Patinhas, Pedro-Duck e, é
claro, Mickey-Jesus-Mouse.
Locais religiosos sempre atraíram todo tipo de histeria. A proximidade com ela pode fazer você duvidar da existência de Deus.
Ateus
são fichinha em comparação à histeria religiosa como argumento contra a
viabilidade de um Deus bom e generoso. Nesse caso, a náusea faz de você
um ateu.
Às
vezes, tristemente, a diferença entre visitas belas a locais sagrados
parece ser apenas o número maior ou menor de nossos semelhantes crentes
em Deus. Ou, dito de outra forma, o inferno é um lugar onde tem muita
gente em surto místico.
Jesus
deve ter uma paciência de Jó, com seus fiéis cheios de máquinas
digitais e filmadoras chinesas querendo devassar a intimidade de sua mãe
e de seus discípulos mortos já há tantos séculos. Aliás, estou seguro
de que, em breve, Jesus será "made in China", "at last". Se assim
acontecer, terão razão aqueles que afirmavam ter sido ele um Messias
"fake"?
Pessoalmente,
torço para que Jesus sobreviva a essa "nova paixão", por obra da qual
ressuscitar deverá ser algo como um show de efeitos especiais feitos por
computação gráfica barata. Os fiéis pós-modernos deram um novo
significado à expressão nietzschiana "Deus está morto". Nesse caso, Deus
virou batata chips de free shop.
No
início dos anos 90, ainda era possível ir à catedral de Córdoba, na
Espanha, e experimentar sua beleza moura. Já em meados dos anos 2000,
ela era um terreno baldio para as invasões de gafanhotos.
Hoje,
estive (escrevo dias antes de você ler esta coluna) na igreja da
Agonia, em Jerusalém, conhecida também como igreja de Gethsêmani, local
onde Jesus teria suado sangue antes de ser preso. Um belíssimo local.
Em
seguida, alguns passos descendo a ladeira do monte das Oliveiras (onde
fica Gethsêmani), fui a outro local, maravilhoso, que não vou dizer qual
é porque espero que ninguém fique sabendo; assim, quem sabe, esse lugar
ainda durará algum tempo antes de virar mais um Hopi Hari de Jesus com
seu ruído de famílias de classe média em excursões místicas.
É
importante dizer que já fui a esses locais inúmeras vezes e que,
portanto, tive o desprazer de ver Jerusalém virar uma cidade devastada
pela horda de tarados com máquinas digitais e filmadoras chinesas. Além
de suas camisetas com slogans pela paz mundial.
Depois
da destruição de Jerusalém pelos romanos por volta do ano 70 d.C.,
vemos agora a infestação da cidade santa pelos histéricos pentecostais e
seus berros em nome do Espírito Santo.
Além,
é claro, dos judeus ortodoxos obsessivos mal-educados e dos muçulmanos
fanáticos com seu grito bárbaro "Allah Akbar" (Deus é grande). A
população secular de Jerusalém é cada vez mais oprimida pelos homens de
preto da ortodoxia judaica.
Alguns
desses são mesmo contra o Estado de Israel, porque só o Messias pode
reconstruir o "verdadeiro Estado judeu". Acho que deveriam ser todos
despachados para o Irã. Enfim, um filme de horror estrelado por
fanáticos, batatas e patetas.
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