segunda-feira, 2 de maio de 2011

Do batom vermelho no trabalho - Pondé

Muitas leitoras me perguntam se sou contra a emancipação feminina. Como alguém pode ser contra uma mulher fazer o que quiser da vida e se desenvolver livremente? Ser contra a emancipação feminina é como ser contra aviões ou computadores.

O que leva muitas leitoras a pensarem que sou contra a emancipação feminina é porque não poupo o feminismo de seus excessos teóricos e de sua desmedida negação ideológica dos sofrimentos que a emancipação causou.

Não acredito na afirmação de que a sexualidade seja mero fenômeno social (teoria de gênero na sua versão "hard"), sou darwinista até a última gota de sangue: acho que nossas fêmeas (não apenas elas) carregam sobre suas almas o peso de milhares de anos de adaptação a condições específicas de cada sexo.

Por exemplo, para que serviria um macho chorão e covarde, em meio à savana africana, se escondendo atrás de "sua" fêmea grávida, no momento em que um predador fosse comê-los como janta? Para nada. Provavelmente as mais inteligentes se recusaram a reproduzir com tais frouxos. E elas legaram às suas filhas essa percepção aguda contra o macho fracassado.

Resultado, as fêmeas da espécie não suportam homens pobres, fracassados e deprimidos, mesmo que mintam por aí dizendo o contrário, porque ficou bonitinho mentir para deixar todo mundo feliz.

O pensamento público hoje em dia flerta com o jardim da infância. A mentalidade de classe média (covarde e mesquinha) devora a inteligência viril.

Lembro quando estava na sétima série do então "ensino fundamental", por volta de 1974. Estudava num colégio da elite branca de Salvador. Colégio jesuíta, que só tinha meninos. Naquele ano, os padres colocaram quatro meninas em cada classe. No ano seguinte, mais quatro. No seguinte, a sala estava cheia de meninas, todas lindas, pelo que me lembro. Com seus cabelos longos e cacheados.

Foi uma mudança cósmica. Novas hierarquias foram criadas. Os hábitos mudaram, passamos a brigar menos no recreio, não só o futebol contava, mas também com quem as meninas falavam. Quem comia o lanche com uma delas estava no paraíso. Quem ganhava um sorriso de uma delas virava celebridade.

Grande parte dos meninos morria de medo de falar com elas. Chegar perto era um ato heroico porque a indiferença era como a morte. Os grupos de trabalho em classe disputavam cada uma delas. Grupos só de meninos eram a assinatura do fracasso.

É assim que vejo a emancipação feminina: um presente para nosso cotidiano, na escola, no trabalho, nos aeroportos, nos congressos, nas ruas. Com suas saias, calças justas, saltos altos, batons vermelhos, elas pintam nosso cotidiano com o desejo. E, com o desejo, o clássico inferno da insegurança de cada um de nós.

Imagino o horror que era trabalhar numa universidade onde todo o corpo docente fosse apenas de homens e as classes fossem cheias de rapazes. Que tédio.

Ou uma empresa onde apenas homens trabalhassem. Como seria uma reunião sem uma colega de pernas lindas resolvendo problemas sérios com um toque de charme inigualável?

Claro, as mais chatinhas me acusarão de machista quando pareço "defender" a emancipação feminina porque gosto de ver o mundo do trabalho cheio de saias curtas e batons vermelhos. Podem achar, não ligo para o que elas pensam. Dirão que sou um egoísta. Será culpa da minha mãe?

O erro das mais chatinhas está em supor que a percepção da beleza feminina implica em exclusão da percepção da capacidade feminina. Não, a beleza feminina torna a parceria com as mulheres no trabalho um oásis em meio ao deserto da violência profissional cotidiana.

Outro erro é não perceber o escopo da beleza feminina no cotidiano do trabalho. A beleza feminina inclui uma série de fatores que vai do corpo à voz doce ao dizer "bom dia", das ancas à forma sutil com que elas enxergam coisas para as quais os homens são cegos, surdos e mudos, da "intuição feminina" ao erótico de ter "um chefe" mulher.

A vida sem Eros é uma vida menor. Um mundo só de homens é em branco e preto.

2 comentários:

Anônimo disse...

o erroneo darwinismo social.

Anônimo disse...

não há críticas que cabem ao mestre pondé. amém.