Coincidentemente acabei alugando ontem dois filmes que tratam diferentemente do mesmo assunto: o comunismo. Sinceramente este é para mim um assunto para lá de batido, mas sempre acabo por perceber algo novo quando me deparo com filmes que tratam do assunto, tanto a favor como contra.
O primeiro, Persépolis(Persépolis, 2007), foi baseado nas histórias em quadrinhos de Marjane Satrapi, homônimo da personagem principal da trama, uma garotinha que cresce assistindo ao Irã tornar-se o que é hoje. Com pais comunistas, a jovem que deseja se tornar uma grande profetiza expulsa o próprio Deus de sua vida quando o tio, também comunista, é morto pelo governo islâmico. Marji cresce desenvolvendo ideais claramente comunistas e é enviada à Europa por seus pais para se proteger do então temido governo anti-revolucionário e da guerra Irã-Iraque. Na Ástria conhece o amor, a desilusão, as drogas e vê a morte de perto. Quando retorna ao Irã, findada a guerra, Marji sofre com a depressão de não conseguir mais se adpatar num mundo coberto pelos véus, cada dia mais repressor.
Resumindo, o filme é hiper agradável aos meus olhos pois amo quadrinhos e quando são transpostos para o cinema sem perder a qualidade de HQ conseguem passar toda a atmosfera lúdica que só as animações conseguem. O texto é muito bem escrito, têm tiradas engraçadíssimas e bem colocadas, com timming perfeito. Fora isso, não caberia a mim falar que a mensagem do filme é totalmente pró-comunista. Mas num mundo como aquele, quem não seria a favor de uma nova revolução? O que o filme não retrata e nem discute é que se a revoluçao comunista tivesse vingado, se a ditatura seria melhor ou pior do que a que está em vigor...
Ps: Persépolis era o nome de uma antiga cidade do Império Persa, onde hoje encontra-se o atual Irã.
Já em A vida dos outros(Das leben der anderen, 2006), o ponto de vista é bem diferente. Na então Alemanha oriental, um espião especialista em escutas é designado para grampear o apartamento de um escritor renomado e sua namorada atriz. Nem é preciso dizer o quanto o comunismo alemão era craque em perseguição e tortura. Ao longo do filme, o coronel designado para a escuta vai-se humanizando com a história do casal de artistas e percebendo que não havia nada de tão subversivo em quem não era favorável ao governo comunista.
Um filme sensível que mostra o outro lado comunista, o das torturas, da perseguição, da sondagem, da podridão de um governo que desconfiava até de seus partidários. Mas no fim do filme, uma frase me deixou intrigada; quando tudo chega ao fim, um dos chefes do Estado diz ao escritor algo do tipo: "Agora que não há mais repressão não há mais sobre o que ser escrito, não há mais nada contra o que se rebelar, acabou-se a inspiração". E não seria uma grande mentira. Basta ver o quanto a MPB brasileira produzia durante os chamados "Anos de Chumbo" e comparar agora com o que é feito...
Sim, é muito fácil para mim bater nos dois lados e dizer que não me filio nem a favor nem contra ninguém. Mas atire a primeira pedra quem disser que nunca pensou em jogar toda essa sujeira no ventilador e ver no que dá.
2 comentários:
Eu assiti o "A vida dos Outros" com um amigo alemão que me explicou coisas interessantíssimas...
- Na época, as pessoas não tinham carros novos, e aqueles que possuíam um carro popular, esperavam 20 anos para poderem adquirir um, por isso, quando a personagem, a atriz, namorada do escritor chega em casa com um carro luxuoso, logo, ele presume que ela está saindo com alguém do governo.
- O museu que aparece no final do filme, realmente existe e as pessoas podem acessar os arquivos secretos, descobrir quem são os agentes e até mesmo quem eram aqueles que deletaram os suspeitos de pensarem contra o sistema.
Que na maioria das vezes, eram pessoas muito próximas, como vizinhos e familiares.
O que me impressionou no filme foi a tática que o serviço secreto usava para manipular os suspeitos e as armas psicológicas que eles usavam contra os acusados.
Outro filme interessante que fala sobre os bastidores de outro sistema governamental, é o "Um Bom Homem", que conta a história de um professor envolvido "sem querer" com o nazismo. Muito interessante.
Nada como uma aulinha básica de um nativo, né? Muito bom. Valeu a visita.
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