sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
River - Madeleine Peyroux
It's coming on Christmas
They're cutting down trees
They're putting up reindeer
And singing songs of joy and peace
I wish I had a river
I could skate away on
But it don't snow here
It stays pretty green
I'm going to make a lot of money
Then I'm going to quit this crazy scene
I wish I had a river
I could skate away on
I wish I had a river so long
I would teach my feet to fly
I wish I had a river
I could skate away on
I made my baby cry
He tried hard to help me
You know, he put me at ease
And he loved me so naughty
Made me weak in the knees
I wish I had a river
I could skate away on
I'm so hard to handle
I'm selfish and I'm sad
Now I've gone and lost the best baby
That I ever had
Oh I wish I had a river
I could skate away on
I wish I had a river so long
I would teach my feet to fly
Reportagem para a IHU - O deus de Lars von Trier
Respeito e reverência diante do mal: o deus de Lars von Trier
Flávia Arielo aponta que o filme Anticristo aborda Deus de forma maléfica, ou seja, “se há alguma relação existente entre Deus e a pertença do mal no mundo, isso só pode ocorrer a partir do pressuposto de Deus ser mal”
Por: Graziela
Dogville, Anticristo e Melancolia são filmes essencialmente teológicos, pontua Flávia Arielo
Ao analisar o filme Anticristo, de Lars von Trier, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, Flávia Arielo explica que, por diversos momentos, “o diretor centraliza a questão do mal na natureza, que nesse caso, pode ser entendida tanto como natureza física quanto a natureza do homem”. Para ela, a relação entre Deus e o mal na obra de von Trier se dá de forma bastante peculiar em cada um dos últimos três longas-metragens do diretor – Dogville, Anticristo e Melancolia – que são, segundo Arielo, filmes essencialmente teológicos. E constata que “ao que tudo indica, através de seus filmes, Lars von Trier sugere o ser humano completamente desconectado, apartado de Deus. A ideia de Deus está implícita em muitas formas, (…) mas Ele parece não se importar com o que acontece com sua criação. Na pior das hipóteses, o Deus de Trier não apenas nos abandonou como também pode contribuir para o nosso sofrimento. O diretor não dá esperanças para essa relação em nenhum de seus filmes”. Por fim, Flávia conclui: “o fim de Anticristo demonstra que, para a razão, a única saída para a dor é a morte do mal, ou daquilo que ele representa”.
Flávia Santos Arielo possui graduação em História pela Universidade Estadual de Londrina e é especialista em História da Arte pela mesma universidade. Leciona História e História da Arte no ensino médio. É mestranda do curso de Ciências da Religião da PUC-SP.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como o conceito de mal e de maldade aparece na obra Anticristo de Lars von Trier?
Flávia Arielo – Lars von Trier criou uma atmosfera fílmica que vai de encontro com a ideia de mal: as cenas são esteticamente belas, têm tratamentos que ressaltam as cores e cenas em câmera lenta. Tudo isso acaba por contrapor a ideia de bem e mal, a começar pela cena inicial, o prólogo, que nos leva à problemática central do filme: o preto e branco, a ópera como trilha sonora e as cenas lentas nos conduzem à beleza, mas então uma das formas do mal se mostra pela primeira vez – a morte de uma criança. O mal exposto no filme, em princípio, pode levar o espectador menos atento a deduções superficiais, como se o mal residisse apenas em fatores como a morte, a depressão e a perda. Mas o repertório teológico de Trier vai além disso: o mal está centrado na personagem feminina do filme e em sua descoberta. Interpretada por Charlotte Gainsbourg , a mulher faz afirmações ao longo do filme que nos indicam a posição de Trier sobre o mal. “A natureza é o templo de Satã”, diz ela, ao constatar que a natureza humana é má. Por diversos momentos o diretor centraliza a questão do mal na natureza, que nesse caso pode ser entendida tanto como natureza física quanto a natureza do homem. A desordem dessa natureza é exposta, por exemplo, em um das cenas mais fortes do filme, quando uma raposa se autoflagela e anuncia em alto e bom tom: “O caos reina”.
IHU On-Line – Como se dá a relação entre Deus e o mal na filmografia de Lars von Trier?
Flávia Arielo – Destaco, em particular, os últimos três longas-metragens do diretor – Dogville , Anticristo e Melancolia – como filmes essencialmente teológicos. Há que ressaltar que, como dinamarquês, Lars von Trier nasceu num país embebido pela Reforma, apesar de declarar que cresceu num ambiente familiar secular. A relação entre Deus e mal se dá de forma bastante peculiar em cada um destes filmes. Em Dogville (2003), Deus está caracterizado como o chefe da máfia, um gangster que impele sua filha – Grace (Graça) – aos piores infortúnios na cidade de Dogville. Ao final, num belo diálogo entre o gangster e Grace, tudo gira em torno de entender quem é o mais arrogante entre os dois. Em Melancolia (2011), Deus está ausente; Ele silencia e permite que a vida na Terra seja completamente fulminada por outro planeta, muito maior e mais belo, chamado Melancolia. Já em Anticristo (2009) essa relação dá demonstrações de que, se há um Deus e se fomos feitos à sua imagem e semelhança, então esse Deus é mal.
IHU On-Line – Para Lars von Trier, o que define o ser humano e sua relação com Deus?
Flávia Arielo – Ao que tudo indica, através de seus filmes, Lars von Trier sugere o ser humano completamente desconectado, apartado de Deus. A ideia de Deus está implícita em muitas formas, como já dito, mas Ele parece não se importar com o que acontece com sua criação. Na pior das hipóteses, o Deus de Trier não apenas nos abandonou como também pode contribuir para o nosso sofrimento. O diretor não dá esperanças para essa relação em nenhum de seus filmes.
IHU On-Line – A partir da obra cinematográfica de Trier, em especial o Anticristo, o que define as escolhas humanas a partir do livre-arbítrio dado por Deus? Qual a força do mal nesse sentido?
Flávia Arielo – Para muitos filósofos e teólogos, o mal reside exatamente em nossas escolhas, no livre-arbítrio. Essa é uma das formas de retirar de Deus o peso da efetividade do mal. Neste filme pesa muito mais a ideia de destino do que de livre-arbítrio: somos maus por natureza e é aí que reside o sofrimento da descoberta do personagem feminina do filme. A mulher escolhe ser má, pois essa é sua essência, é assim que a humanidade é. Mas há uma escolha dessa personagem, em particular, que é primordial no filme: em uma das cenas finais o diretor revisa o prólogo e mostra o momento em que o casal está fazendo sexo no quarto, mas por outro ângulo de câmera, revelando que a mulher vê quando o filho vai saltar pela janela. A escolha foi pelo sexo e não pelo filho. O mal se revela nessa escolha.
IHU On-Line – O que seria a teodiceia negativa presente no filme Anticristo?
Flávia Arielo – Teodiceia, como definida primeiramente por Leibniz (século XVII), é a justificação racional de Deus. O filósofo tentava racionalizar de que forma poderia salvar Deus do julgamento daqueles que afirmavam não haver compatibilidade entre Deus ser onipotente e bom ao mesmo tempo em que a experiência mostrava que existia o mal no mundo. Dessa forma, a teodiceia nasce para compatibilizar Deus e o mal, alocando a existência do mal nas escolhas do homem, no livre-arbítrio. Anticristo aborda Deus de forma maléfica, ou seja, se há alguma relação existente entre Deus e a pertença do mal no mundo, isso só pode ocorrer a partir do pressuposto de Deus ser mal; assim, a teodiceia se torna negativa: se há alguma razão em entender o porquê do mal no mundo, do sofrimento e da dor, isso só pode ser obra de um Deus maléfico.
IHU On-Line – Em que sentido o filme Anticristo pode nos ajudar a compreender até onde alguém pode chegar para lidar com a dor?
Flávia Arielo – O filme mostra uma mãe em agonia, primeiramente, por que perdeu um filho. Sua dor e seu sofrimento parecem não ter fim. O marido, interpretado por Willem Dafoe , é um terapeuta que tenta tirar a esposa de seu sofrimento. Mas a escolha de Lars von Trier é ridicularizar a terapia moderna, encarnada no marido; a esposa, por diversos momentos, diz a ele que o problema é maior, que o sofrimento vai além do luto e da perda, que a dor não tem fim. A dor exposta pela mulher do filme não é em si a dor da perda do filho e sim a dor de enxergar o mal inserido na natureza humana e na natureza de Deus. O marido, de início, completamente imerso em sua racionalidade, não dá credibilidade às falas de sua mulher. Em determinado momento, o homem é tocado pelo mal que a esposa expõe e ainda assim custa a crer no que ele representa. O fim de Anticristo demonstra que, para a razão, a única saída para a dor é a morte do mal, ou daquilo que ele representa.
IHU On-Line – Como a relação entre medo e fé (ou a falta dela) aparece na obra em questão?
Flávia Arielo – O medo se evidencia no filme através das descobertas da mulher sobre a origem, a natureza humana. Ela se deprime, se angustia, e ao final constata não haver saída. Se existe alguma sombra de fé nessa obra, ela se dá pelo viés da razão e não pelo religioso. E mesmo essa fé racional é desmoralizada pelo diretor. Há uma cena bastante esclarecedora sobre isso: o marido faz uma lista dos medos da esposa, elencando-os hierarquicamente. A saída proposta por ele é que a mulher deve enfrentar diretamente o problema, ir até sua raiz. Um dos maiores medos da esposa é voltar à floresta do Éden, local onde escrevia sua tese. O marido então pede que ela se imagine deitando na grama do Éden, se misturando à grama. A imagem cinematográfica mostra a mulher se fundindo ao verde da grama até quase desaparecer. Essa seria a saída racional para o medo descartada e devassada por Trier. Tanto a razão quanto a fé – em qualquer sentido – não dão conta de acabar com o medo.
IHU On-Line – Quem é o Anticristo na visão de Lars von Trier?
Flávia Arielo – É a revelação do Deus mau, um Deus que jogou toda sorte de males no mundo: a dor, a perda, o sofrimento, a angústia, a depressão, a morte. É um Deus que criou o mundo a sua imagem e semelhança e que a razão não dá conta.
IHU On-Line – Gostaria de acrescentar mais algum comentário sobre o tema?
Flávia Arielo – O filme foi duramente criticado quando de seu lançamento. O diretor foi taxado de sexista e misógino. Creio que o filme vai muito além dessa visão leviana, pois se insere nas temáticas teológica e filosófica, muito caras ao diretor. Apesar do teor pesado e das cenas pouco palatáveis, Anticristo deve ser visto e interpretado como quem se depara com o mal: com respeito e reverência.
sábado, 15 de dezembro de 2012
Desejo
Desejo, primeiro, que você ame,e que, amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que você tenha amigos que, mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis, e que pelo menos em um deles você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais, e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste. Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com a máxima urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal, porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar, sofrer e sem se culpar.
Desejo por fim que você, sendo um homem, tenha uma boa mulher, e que, sendo uma mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte, e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho mais a te desejar.
Victor Hugo
Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que você tenha amigos que, mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis, e que pelo menos em um deles você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos, nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que, entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo, depois, que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais, e que, sendo maduro, não insista em rejuvenescer, e que, sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste. Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com a máxima urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal, porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar, sofrer e sem se culpar.
Desejo por fim que você, sendo um homem, tenha uma boa mulher, e que, sendo uma mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte, e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho mais a te desejar.
Victor Hugo
domingo, 18 de novembro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
quinta-feira, 26 de abril de 2012
segunda-feira, 9 de abril de 2012
Origem da Religião na pré-história - Pondé
Muitos leitores me perguntaram o que aquela peça kafkiana cujo título era "Páscoa" queria dizer na coluna do dia 2/4/2012.
O texto era simplesmente isto: a descrição de um ritual religioso muito próximo dos centenas de milhares que devem ter acontecido em nossa Pré-História.
Horror puro, mas é assim que deve ter começado toda a gama de comportamentos que hoje assumimos como cheios de significados espirituais. Entender a origem de algo "darwinianamente", nada tem a ver com a "cara" que esse algo possui hoje. Vejamos o que nos diz um especialista.

O evolucionista Stephen Jay Gould (1941-2002), num artigo de 1989 cujo título é "The Creation Myths of Cooperstown", compara a origem mítica do beisebol (supostamente nascido em território americano e já "pronto") com a explicação evolucionaria do beisebol.
Gould está fazendo no texto uma metáfora do que seria uma explicação evolucionária de um esporte. Ele narra como o beisebol "evoluiu" a partir de comportamentos humanos casuais que na origem consistiam apenas em bater com prazer em frutas redondas ou em cabeças com pedaços de pau, e que a forma final aconteceu na Inglaterra e não nos EUA, muito tempo depois.
A revolta dos americanos orgulhosos de sua mítica criação do beisebol, com a "tese monstruosa" do evolucionista Gould, foi óbvia.
Segundo ele, o que caracteriza a diferença entre conhecer a origem darwiniana de algo, por exemplo, a religião, e fazer mitos sobre ela, é saber que antes de tudo o sentido que a ela damos hoje em dia (religião = "o Bem"?) nada tem a ver com sua origem e que sua evolução deve ter ocorrido a partir de fragmentos desconexos de comportamentos, afetos e ideias, derivados dos subprodutos fisiológicos das mutações genéticas e físicas que sofremos em nossa pré-história.
Cerca de 500 anos atrás praticávamos canibalismo cerebral ritualístico e colocávamos as cabeças íntegras em posições geométricas como numa espécie de santuário.
Achados semelhantes datados de cerca de 300 mil anos atrás, no Paleolítico - como o que descrevo ao final do texto da semana passada -, apontam para rituais semelhantes (ver "A Prehistory of Religion, Shamans, Sorcerers and Saints", de Brian Hayden, Smithonian Books, Washington, 2003).
Praticávamos canibalismo ritualístico de cérebros humanos, e crianças sempre foram mais fáceis de serem capturadas -claro, de outros bandos. Tirávamos os cérebros com cuidado para depois colocarmos as cabeças em posições geométricas e com elas fazíamos algo como o que hoje chamamos de santuário.
Semana passada foi Páscoa. Este ano, ela coincidiu com a semana que começa o Pessach, Páscoa judaica. Quando Jesus jantava com seus apóstolos na Quinta-Feira Santa, Ele celebrava o Pessach.
Para os judeus, essa data representa a saída da escravidão do Egito. Para os cristãos, a Páscoa também celebra a liberdade do povo de Israel, mas ressignificando-a como uma liberdade não só política, mas a liberdade da alma diante das várias escravidões da vida.
Os hebreus pintaram as portas com sangue de cordeiro, seguindo a ordem de Deus, para que o anjo da morte não matasse seus primogênitos como mataria os dos egípcios. Esta era a última das pragas que levaria os hebreus à liberdade.
Primogênitos seriam mortos e muitos deles eram crianças inocentes, não?
Cristãos comem o corpo e bebem o sangue de Cristo, um inocente. E "nós" o matamos ou você duvida de qual lado você estaria na história?
Aqueles que pensam que nossos ancestrais monstruosos nada nos ensinam, se enganam.
O grau de parentesco entre a "páscoa" deles e a nossa não é tão distante assim. Celebramos a morte de crianças (egípcias antigas), bebemos sangue e comemos o corpo (simbolicamente) de um inocente, mas isso tudo pra nós representa vida, liberdade.
Afinal, o que teria representado para nossos patriarcas o que eles faziam? Seriam as crianças que eles comiam as "crianças egípcias" deles? Ou seriam elas seus "cordeiros inocentes" por serem crianças?
Enfim, duas certezas: a "Páscoa" melhorou muito nos últimos 300 mil anos e Darwin ainda é diabólico.
sábado, 7 de abril de 2012
Fragilidade
Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo.
Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa
(SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, "Terror de te amar", em Antologia Poética)
quarta-feira, 28 de março de 2012
Habemus Papam
Habemus Papam
Nanni Moretti
2011.
O que era para ser uma comédia italiana (escrachada, gritada, cheia de sexo e nudez, como de costume italiano), se tornou para mim um drama em moldes trágicos.
O ator e diretor Nanni Moretti aborda a escolha e ascensão de um papa ao poder de forma cômica sim, mas o toque trágico está presente em quase todas as cenas em que o então eleito papa aparece.
O filme adentra a vida no Vaticano e de seus cardeais. Logo no início do filme já se tem um dilema moral: a câmera caminha por cada um dos cardeais e lê seus pensamentos, que por fim, se unem num uníssono pedido - eu não, Senhor!
A escolha do papa é feita e lê-se nos rostos de cada cardeal o alívio por não ter sido escolhido e a satisfação por ter a quem seguir, a não ser por um deles: o próprio escolhido. O enredo se dá a partir daí, acompanhando a angústia e o fardo que é sustentar as roupas e o peso moral do que é ser o Papa.
Nanni Moretti aparece como o psicanalista contratado para resolver a indecisão do então escolhido papa em seguir a diante. Impossibilitado de tratar assuntos típicos da psicanálise - infância, mãe e desejos reprimidos - o psicanalista se vê de mãos atadas, mesmo ouvindo o choro sofrido do papa numa oração à Deus.
O papa acaba por fugir do Vaticano e se mistura à população de Roma. Como um simples velho local, ele participa da vida ordinária, dorme, come e se locomove como um anônimo, até se deparar com um grupo de teatro que ensaia uma peça do russo Tchecov. Cenas lindas da sequência que segue, onde o papa e um ator declamam parte de A Gaivota.
Moretti é assumidamente ateu e socialista e isso sem dúvida transparece em alguns momentos de sua crítica à igreja católica. Mas essa crítica não se limita à religião em si, mas também à psicanalise, a nossa religião moderna.
São muitos os dilemas propostos pelo filme, mas o que ficou é exatamente o questionamento sobre o significado em torno da figura papal: um duelo entre o divino e o humano. A impossibilidade de tratamento e resolução dos conflitos do papa pela Igreja ou pelo psicanalista demonstra claramente em que ponto estamos: nem a religião nem a medicina, estamos mesmo perdidos.
E o sentimento ao final do filme, ao acender das luzes do cinema foi exatamente este. Não há saída.
Pina
Wim Wenders é um dos grandes cineastas de nosso tempo. É responsável por obras-primas como Paris, Texas e Asas do Desejo. Mas o que mais admiro nele é seu bom gosto pela arte. Difícil definir arte, não? Como falar que alguém tem bom ou mau gosto artístico se afinal isso depende exatamente do "gosto"? Cada época, cada espaço no tempo tem sua própria tendência pelo gosto mas sempre seguimos algo já proposto (só se foi original na antiguidade, o resto é cópia ou contra-cópia). De qualquer forma, Wim Wender entende como ninguém como unir os elementos que compõem um filme e como dispor deles de forma divina.
Já fez isso com a música ao documentar o grupo Buena Vista Social Club, ou antes com O Céu de Lisboa (Madredeus) e até mesmo com a magnífica trilha sonora de O Hotel de Um Milhão de Dólares.
Desta vez Wim Wender se aventurou pelo mundo da linguagem universal do corpo: a dança. E não escolheu uma companhia qualquer para filmar: foi logo em uma das melhores - a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.
O documentário começou a ser filmado alguns dias após a morte da coreógrafa alemã Pina Bausch - que faleceu 5 dias após receber o diagnóstico de câncer. A hipótese de não levar a filmagem adiante foi logo afastada pelo corpo de baile, que acabou por fazer uma imensa homenagem à coreógrafa.
O filme mescla cenas de grandes coreografia - A Sagração da Primavera, Cafe Müeller, Lua Cheia e Pátio dos Contatos - e testemunhos dos próprios bailarinos. O que me chamou a atenção foi exatamente a feição de luto de cada um daqueles que se manifestaram: a saudade da grande amiga, mãe e coreógrafa estava estampada no rosto de cada um deles.
Meu primeiro contato com a arte de Pina se deu pelo cinema: Almodóvar lançou Café Müller em Fale com Ela. Fiquei extasiada com as cenas das cadeiras. Nunca mais tive contato ou notícia da coreógrafa. Até sua morte e início das filmagens deste documentário, em 2009. E agora, vendo a obra-prima finalizada, chego à conclusão que a perda de Pina foi grande sim, mas seu legado sobrevive.
Cena inusitada no centro de Berlim.
Esta imagem me lembrou o final de O Sétimo Selo (referência a Bergman de Pina ou de Wenders?)
Força e delicadeza.
Já fez isso com a música ao documentar o grupo Buena Vista Social Club, ou antes com O Céu de Lisboa (Madredeus) e até mesmo com a magnífica trilha sonora de O Hotel de Um Milhão de Dólares.
Desta vez Wim Wender se aventurou pelo mundo da linguagem universal do corpo: a dança. E não escolheu uma companhia qualquer para filmar: foi logo em uma das melhores - a Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.
O documentário começou a ser filmado alguns dias após a morte da coreógrafa alemã Pina Bausch - que faleceu 5 dias após receber o diagnóstico de câncer. A hipótese de não levar a filmagem adiante foi logo afastada pelo corpo de baile, que acabou por fazer uma imensa homenagem à coreógrafa.
O filme mescla cenas de grandes coreografia - A Sagração da Primavera, Cafe Müeller, Lua Cheia e Pátio dos Contatos - e testemunhos dos próprios bailarinos. O que me chamou a atenção foi exatamente a feição de luto de cada um daqueles que se manifestaram: a saudade da grande amiga, mãe e coreógrafa estava estampada no rosto de cada um deles.
Meu primeiro contato com a arte de Pina se deu pelo cinema: Almodóvar lançou Café Müller em Fale com Ela. Fiquei extasiada com as cenas das cadeiras. Nunca mais tive contato ou notícia da coreógrafa. Até sua morte e início das filmagens deste documentário, em 2009. E agora, vendo a obra-prima finalizada, chego à conclusão que a perda de Pina foi grande sim, mas seu legado sobrevive.
Cena inusitada no centro de Berlim.
Esta imagem me lembrou o final de O Sétimo Selo (referência a Bergman de Pina ou de Wenders?)
Força e delicadeza.
quinta-feira, 1 de março de 2012
CRISE NA GRÉCIA
A GRÉCIA NA EUROPA
Jose Carlos Saenger
"1. Zeus vende o trono para uma multinacional coreana.
2. Aquiles vai tratar o calcanhar na saúde pública.
3. Eros e Pan inauguram prostíbulo.
4. Hércules suspende os 12 trabalhos por falta de pagamento.
5. Narciso vende espelhos para pagar a dívida do cheque especial.
6. O Minotauro puxa carroça para ganhar a vida.
7. Acrópole é vendida; e aí é inaugurada uma Igreja Universal do Reino de Zeus.
8. Eurozona rejeita Medusa como negociadora grega: "Ela tem minhocas na cabeça!".
9. Sócrates inaugura Cicuta's Bar para ganhar uns trocados.
10. Dionísio vende vinhos à beira da estrada de Marathónas.
11. Hermes entrega currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.
12. Afrodite aceita posar para a Playboy.
13. Sem dinheiro para pagar os salários, Zeus libera as ninfas para trabalharem na Eurozona.
14. Ilha de Lesbos abre resort hétero.
15. Para economizar energia, Diógenes apaga a lanterna.
16. Oráculo de Delfos vaza números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.
17. Áries, deus da guerra, é apanhado em flagrante desviando armamento para a guerrilha síria.
18. A caverna de Platão abriga milhares de sem-abrigo.
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
De frente com Pondé
Excelente e divertida entrevista de Pondé, no De Frente com Gabi.
http://www.sbt.com.br/defrentecomgabi/entrevistas/
http://www.sbt.com.br/defrentecomgabi/entrevistas/
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
Por que estudar religião? Pondé
Você estuda religião? Aposto que, se sua resposta for "sim", a causa é uma das hipóteses abaixo. Somos previsíveis como ratos de laboratórios.
Estudar religião cientificamente seria estudá-la sem fins religiosos, ou seja, "de modo objetivo": via neurologia, sociologia, antropologia, psicologia, história, filosofia.
Ricardo Cammarota

Trocando em miúdos, estudar religião cientificamente é estudá-la sem fins "lucrativos" para a própria fé do estudioso. Neste sentido, o melhor seria um ateu estudar Deus ou um cristão estudar budismo, porque assim não "lucrariam" com seus objetos de estudo.
Duvido profundamente deste pressuposto. Não porque seja impossível em si nem porque neutralidade em ciência seja algo absurdo. Trabalhar com ciência não é fruto de amor ao conhecimento, mas sim um modo de ganhar a vida muitas vezes menos competitivo do que o mercado de profissionais autônomos ou das grandes corporações.
Julgo esse problema da neutralidade do conhecimento científico tão improdutivo quanto se perguntar como faziam os últimos medievais, se Deus poderia criar uma pedra que Ele mesmo não poderia carregar -já que Ele seria onipotente e, portanto, poderia criar qualquer coisa. Mas, sendo Ele onipotente, como poderia existir uma pedra que Ele mesmo não poderia carregar?
Como você vê, trata-se de uma pergunta "podre" no sentido de ser simples perda de tempo. Um beco sem saída.
Acho que a chamada "neutralidade" em estudos da religião não passa de um preconceito contra a fé religiosa, porque em ciências humanas a neutralidade não é um pressuposto universalmente cobrado em todos os campos de pesquisa.
Por exemplo, quando mulheres estudam "opressão feminina", não estariam elas sob suspeita, uma vez que são mulheres e, portanto, suspeitas em "lucrar" com os ganhos do próprio estudo? Ou, quando gays estudam "opressão contra os gays", não estariam eles também sob suspeita, na medida em que eles, gays, também "lucrariam" com o estudo de seu próprio caso?
Ou mesmo ateus estudando Deus não estariam sob suspeita de quererem desconstruir a fé a fim de desvalorizá-la?
Por isso acho mais interessante ir logo a questões mais pragmáticas e perguntar: "Por que as pessoas querem estudar religião em vez de simplesmente viver suas religiões em seus templos e fé cotidiana?".
Proponho as seguintes hipóteses.
1. Pessoas buscam a universidade ou instituições afins para estudar religião porque têm inquietações "espirituais", mas se acham "cultas e bem (in)formadas" e estão um tanto de saco cheio das "igrejas" (no sentido de religiões institucionais) que existem no mercado. Ou mesmo porque sentem vergonha de serem religiosas "oficialmente" e, por isso, preferem estudar religião a praticar religião.
2. Porque odeiam religião por conta de traumas infantis familiares ou escolares ou por algum grande sofrimento que gerou algum tipo de "revolta contra Deus". Normalmente essas pessoas querem acabar com a religião.
3. Razões ideológicas: religião aliena (marxistas), oprime mulheres e gays, condena o sexo. Ou seja: querem um mundo sem religião ou com religiões simpáticas a suas
ideologias.
4. Para abrir uma igreja, ganhar dinheiro ou poder político.
5. Para tornar sua vivência religiosa mais "culta e bem informada" e "modernizar" sua vida religiosa cotidiana, como em questões relacionadas à ciência ou à ética.
6. Por diletantismo sofisticado movido por inquietações existenciais e/ou filosóficas.
7. Porque pertenceram ao clero de alguma religião e só sabem ganhar a vida com temas relacionados à religião.
8. Para usar o conhecimento em recursos humanos nas empresas.
9. Geopolítica internacional: fundamentalismos, multiculturalismos, comércio exterior.
10. Porque é professor e o ensino religioso é um mercado em expansão, além de que, se for egresso de classes sociais inferiores (o que é muito comum), títulos acadêmicos costumam ser uma ferramenta razoável de status e aumento na renda.
Resumo da ópera: dinheiro, status, angústia existencial, fé, política, opção profissional à mão ou simplesmente falta de opção.
sábado, 18 de fevereiro de 2012
O início de tudo
Há exatos 4 anos tinha início minha vida como docente.
Posso dizer que sou extremamente feliz e realizada no que faço, mesmo em meio a tantas turbulências que essa escolha traz (lidar com pessoas é matéria sensível e cuidadosa, mas muito recompensadora).
E hoje, depois de tantas caretas, gestos e falas, sinto que nasci pra coisa.
Eis as fotos do início de tudo: uma aula inaugural!
sábado, 28 de janeiro de 2012
Sempre vale a pena ver de novo
E revi, mais uma vez, um dos mais belos filmes já feitos pelo cinema francês.
O Oitavo Dia, (1996), de Jaco Van Dormael, é sensível, delicado e divertido, misturando fantasia e realidade sem perder o fio da meada. A medida certa do bom cinema.
Esta deve ser a quarta ou quinta vez que o vejo. E certamente não será a última.
E semanas atrás, motivada por um certo artigo, também revi As Pontes de Madson (1995), de Clint Eastwood. Não me lembrava do porquê sempre ter na memória este como um dos mais tristes filmes já visto. E então me lembrei. Não foi a atuação de Eastwood ou de Streep, e nem tanto a história em si - que é belíssima - mas a sensação de uma cena em particular. A caminhonete. A chuva. O que quase foi.
O Oitavo Dia, (1996), de Jaco Van Dormael, é sensível, delicado e divertido, misturando fantasia e realidade sem perder o fio da meada. A medida certa do bom cinema.
Esta deve ser a quarta ou quinta vez que o vejo. E certamente não será a última.
E semanas atrás, motivada por um certo artigo, também revi As Pontes de Madson (1995), de Clint Eastwood. Não me lembrava do porquê sempre ter na memória este como um dos mais tristes filmes já visto. E então me lembrei. Não foi a atuação de Eastwood ou de Streep, e nem tanto a história em si - que é belíssima - mas a sensação de uma cena em particular. A caminhonete. A chuva. O que quase foi.
O divã de von Trier
Europa
Lars von Trier
1991
Este filme faz parte de uma trilogia de von Trier (sendo os outros Epidemia (1987) e Elemento do crime (1984)) que marcou o início da carreira do diretor.
Baseando-se na Alemanha do pós-guerra e nos fantasmas que ainda circundavam a Europa do holocausto, von Trier consegue uma atmosfera noir não apenas pelas técnicas empregadas no filme mas principalmente pelo terror psicológico. O filme é narrado como se estivéssemos num divã, durante uma sessão de regressão ou hipnose. Tudo o que o personagem principal faz é previamente anunciado pela voz em off. As cenas em preto e branco dão lugar às cores em específicos momentos que podem demonstrar horror, lucidez ou libertação, como se, ainda no divã, nos deparássemos com nossos escorpiões e, após aberta a caixa do inconsciente, nada mais pudesse se esconder na penumbra.
E aqui já se percebe elementos que mais adiante, nos próximos filmes, são retomados de maneira sublime: a cena final de Dogville, a cena da grama em Anticristo, a própria melancolia de Melancolia.
A minha dedução é que Lars von Trier nunca mudou: o germe do cinema fantástico que vemos nos últimos anos já estava aflorado desde os primeiros roteiros e filmagens. Um gênio (ainda que suspeito) do cinema atual.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Shi
Shi
Poesia
Chang-dong Lee
2010
Não sou expert em cinema sul-coreano mas o pouco que conheço me traz admiração.
E, para mim, este não foge à regra: um tema pouco palatável inserido de maneira poética e delicada.
Lindo como um desenho oriental no papel de seda.
Poesia
Chang-dong Lee
2010
Não sou expert em cinema sul-coreano mas o pouco que conheço me traz admiração.
E, para mim, este não foge à regra: um tema pouco palatável inserido de maneira poética e delicada.
Lindo como um desenho oriental no papel de seda.
sábado, 14 de janeiro de 2012
O Mal e o Medo
Brilhante. Genial. Palavras desta estirpe talvez não deem conta de sintetizar o sentimento após assistir esta obra-prima de Ingmar Bergman. Aliás, faltam palavras para definir o valor estético e moral da filmografia do cineasta sueco, mas sem dúvida elas estariam sempre no superlativo.
O Ovo da Serpente (1977) é um filme denso, com enredo intrincado e complexo para falar sobre um assunto não menos complexo e denso: o nascimento do totalitarismo nazista.
Liv Ullmann e David Carradine interpretam a angústia que Bergman conseguiu captar e refletir com maestria ímpar.
E no tempo e espaço em que o mostro se revela através da fina casca do ovo, uma cena em especial me chamou a atenção: Manuela (Liv Ullmann) vai até uma igreja para se confessar. O padre, apressado para a próxima missa, quase não dá atenção aos desabafos da moça - o suicídio do ex-marido, o fardo de cuidar do cunhado (Abel, interpretado por Carradine), a doença, a pobreza. E então ela grita pela atenção do padre, "Toda essa culpa é demais para mim (...) A única coisa de verdade é o medo". O padre olha para ela, pergunta se deseja que ele reze por ela.Com a afirmativa, eles se ajoelham e o padre afirma que, com um Deus tão distante, nós devemos pedir o perdão uns aos outros. Assim, ele - e não Deus - a perdoa da culpa. Depois disso, vira-se para ela, e suplica: "Imploro por seu perdão, por minha apatia e indiferença". Manuela põe as mãos sobre a cabeça dele, e o perdoa.
Se esse filme pudesse ser resumido em uma frase, seria aquela que se repete por duas vezes ao longo dele: A única coisa de verdade é o medo.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Pondé entrevista Annette Kirk
Enfim, parece ter chegado a hora de começarmos a ter acesso ao debate conservador anglo-saxão para além do senso comum. Pouco ou nada se sabe acerca da tradição conservadora entre nós, devido, antes de tudo, à falta de bibliografia.
A editora É Realizações lançou neste mês "A Era de T. S. Eliot", obra capital de um dos maiores pensadores conservadores do século 20, o norte-americano Russell Kirk (1918-1994).
Annette Kirk, que foi mulher do autor de 1964 até sua morte, esteve no Brasil e conversou com a Folha sobre o que é ser conservador.
Folha - A definição do conservadorismo ocupou Russel Kirk. O que significa ser conservador hoje?
Annette Kirk - Conservadorismo é uma disposição para conservar com uma capacidade de reformar, portanto, ser conservador hoje é a mesma coisa que ser conservador em qualquer época.
Russell segue [o filósofo britânico Edmund] Burke na compreensão do conservadorismo como a negação da ideologia, que definia como fanatismo político.
Diferentemente dos que defendem que a autonomia individual e a liberdade sejam de importância primordial, os conservadores preocupam-se com a liberdade ordenada. Conservadores também aceitam a mudança como um meio de preservação, mas acreditam que deva ocorrer gradualmente, de forma orgânica, guiada com prudência baseada na cultura, nos costumes e nas convenções da sociedade.
Folha - Existe ainda pensamento conservador no Partido Republicano hoje em dia? Como a senhora vê a vida política americana sob Barack Obama?
O Partido Republicano é um conglomerado de diferentes tipos que se consideram conservadores. Alguns fundamentam o apoio aos candidatos no programa econômico, outros no programa social ou na política exterior. Convergem na preocupação com o crescimento exagerado do governo e na intromissão na vida das pessoas.
Durante o governo do presidente Obama houve, internamente, uma expansão nos programas governamentais, e todos sabíamos que isso iria acontecer, mas o que tem surpreendido é ele ter continuado quase todas as políticas externas da era Bush.
Obama desapontou alguns dos partidários na esquerda, pois não foi capaz de implementar todas as políticas esquerdistas. Como os Estados Unidos são essencialmente um país centralista, rejeitam as posições extremadas. No entanto, caso os republicanos não se unam com entusiasmo apoiando um candidato, Obama será reeleito.
Folha - Qual a herança de Russell Kirk na vida acadêmica dos EUA?
A coluna que ele publicou na "National Review" por 25 anos foi extremamente influente nos círculos acadêmicos. Russell também deu palestras em inúmeras faculdades e universidades e lecionou em diversas delas por um semestre ou mais. Muitos de seus livros são usados nas universidades até hoje.
Além disso, a revista "Modern Age", que fundou há mais de 50 anos, tornou-se um fórum para intelectuais apresentarem suas ideias sobre educação superior e reforma do ensino.
As ideias de Russell também estão surgindo em outros países.
Tal interesse pode ser visto no número crescente de artigos e teses a seu respeito, bem como várias traduções de artigos e livros em línguas estrangeiras -não só em alemão, espanhol, italiano ou português mas em búlgaro, polonês, russo e japonês.
Folha - O que um pensador conservador teria para dizer a um país latino-americano imerso em injustiça social e corrupção?
Ao mesmo tempo em que afirma a imperfectibilidade da natureza humana e de qualquer sistema de governo e a impossibilidade de alcançar o paraíso na Terra, o conservadorismo acredita num eterno contrato que une os vivos, os que já morreram e os que ainda estão por nascer.
Defende ainda que há coisas permanentes passadas de uma geração para outra, dentre elas, percepções éticas e convicções, numa espécie de "aliança intergeracional".
Os vícios e a falta de apreço pela lei resultam diretamente do declínio da religiosidade e de laços familiares sólidos que ajudem a infundir respeito pelo ordenamento jurídico, pela moralidade pública e privada e o favorecimento de uma vida virtuosa.
Russell acreditava que para haver ordem na sociedade é necessário, primeiro, haver ordem nas almas e nas vidas dos cidadãos.
Para ele, a sociedade moderna necessita de uma verdadeira compreensão do sentido de comunidade, que é o oposto de coletivismo; este substitui a diversidade por uniformidade, e a colaboração voluntária pela força.
Folha - O que é ser uma mulher conservadora hoje? Apenas ser submissa? Qual a resposta que uma pensadora conservadora daria para o feminismo hoje?
É difícil falar de feminismo hoje, pois existem muitos significados para essa palavra ao redor do mundo.
Curiosamente, Russell escreveu, em 1957, um livro chamado "O Guia do Conservadorismo para a Mulher Inteligente". Nele afirmava que as mulheres são conservadoras por natureza, pois ao vivenciarem realidades fatigantes percebem a necessidade real de segurança.
Como homens e mulheres são feitos segundo a imagem e semelhança de Deus, têm igual dignidade e direito à vida eterna. A vida na Terra deve permitir que se complementem, o que significa que a mulher deve acolher e nutrir os filhos com o apoio de um companheiro amoroso.
Quem fornece os meios materiais para a família pode ficar a critério do casal. Normalmente tem sido o homem aquele que trabalha fora, mas, como têm surgido oportunidades para as mulheres em campos anteriormente indisponíveis, pode ocorrer que, em algumas circunstâncias, o casal escolha que a mulher trabalhe fora ou meio-expediente e o homem tome conta das crianças.
Esse fator não deve ser decisivo para considerar um determinado casal conservador. Mais importante do que ganhar "o pão de cada dia" é o casal se manter unido nas questões espirituais, morais e sociais e no modo de educar os filhos.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Books
Leitura de férias: Guia Politicamente Incorreto da América Latina, Leandro Narloch e Duda Teixeira
Leitura de pesquisa: O Mal no pensamento moderno, Susan Neiman
Leitura de pesquisa: O Mal no pensamento moderno, Susan Neiman
domingo, 1 de janeiro de 2012
Calendário artístico - 2012
O ano mal começa e boas notícias do mundo das artes já pairam no ar.
2012 será repleto de exposições imperdíveis e únicas. Eis a agenda principal:
MASP:http://masp.art.br/masp2010/
Janeiro: "Roma, a vida e os Imperadores".
Abril: Amadeo Modigliani
Maio: Giorgio de Chirico
Junho: Caravaggio
ITAÚ CULTURAL:http://www.itaucultural.org.br/
Segundo semestre: Centenário de Nelson Rodrigues
PINACOTECA:http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca/#!prettyPhoto/0/
Março: Alberto Giacometti
MIS:http://www.mis-sp.org.br/
Maio: Polaroides de Andy Warhol
2012 será repleto de exposições imperdíveis e únicas. Eis a agenda principal:
MASP:http://masp.art.br/masp2010/
Janeiro: "Roma, a vida e os Imperadores".
Abril: Amadeo Modigliani
Maio: Giorgio de Chirico
Junho: Caravaggio
ITAÚ CULTURAL:http://www.itaucultural.org.br/
Segundo semestre: Centenário de Nelson Rodrigues
PINACOTECA:http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca/#!prettyPhoto/0/
Março: Alberto Giacometti
MIS:http://www.mis-sp.org.br/
Maio: Polaroides de Andy Warhol
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