sábado, 14 de janeiro de 2012

O Mal e o Medo


Brilhante. Genial. Palavras desta estirpe talvez não deem conta de sintetizar o sentimento após assistir esta obra-prima de Ingmar Bergman. Aliás, faltam palavras para definir o valor estético e moral da filmografia do cineasta sueco, mas sem dúvida elas estariam sempre no superlativo.
O Ovo da Serpente (1977) é um filme denso, com enredo intrincado e complexo para falar sobre um assunto não menos complexo e denso: o nascimento do totalitarismo nazista.
Liv Ullmann e David Carradine interpretam a angústia que Bergman conseguiu captar e refletir com maestria ímpar.
E no tempo e espaço em que o mostro se revela através da fina casca do ovo, uma cena em especial me chamou a atenção: Manuela (Liv Ullmann) vai até uma igreja para se confessar. O padre, apressado para a próxima missa, quase não dá atenção aos desabafos da moça - o suicídio do ex-marido, o fardo de cuidar do cunhado (Abel, interpretado por Carradine), a doença, a pobreza. E então ela grita pela atenção do padre, "Toda essa culpa é demais para mim (...) A única coisa de verdade é o medo". O padre olha para ela, pergunta se deseja que ele reze por ela.Com a afirmativa, eles se ajoelham e o padre afirma que, com um Deus tão distante, nós devemos pedir o perdão uns aos outros. Assim, ele - e não Deus -  a perdoa da culpa. Depois disso,  vira-se para ela, e suplica: "Imploro por seu perdão, por minha apatia e indiferença". Manuela põe as mãos sobre a cabeça dele, e o perdoa.
Se esse filme pudesse ser resumido em uma frase, seria aquela que se repete por duas vezes ao longo dele: A única coisa de verdade é o medo.

2 comentários:

Luiz disse...

Ainda mais o medo de que as pessoas não tenham mais medo. O medo é a melhor forma de dominação.

flávia disse...

É uma das formas.
Mas creio que é impossível extrair o medo da condição humana. Ele é ontológico.