As duas faces do horror: a esposa estacada, inerte, muda e
distante, com o olhar vidrado e sem vida; o marido encarando-a com espanto,
falta de entendimento e terror.
Essa é uma das cenas inicias do filme Amor, de Michael
Haneke, vencedor da Palma de Ouro, do Globo de Ouro de filme estrangeiro e
concorrente do Oscar 2013. O tema é mais banal do que parece: a velhice. E para
além disso está o verdadeiro enredo: nunca há uma saída bela e tranquila para
esse fato.
Haneke é famoso por seus filmes ultraviolentos e de temas
bem pouco palatáveis (como a gênese do autoritarismo na Alemanha pré-Segunda
Guerra). Em Amor ele faz transbordar outro tipo de linguagem - a do silêncio e
da tristeza. A violência também se faz presente desta vez, mas ela transparece
num formato muito mais cruel do que assassinatos sangrentos e tortura. Ela se
mostra naquela forma inevitável da morte que nos corroerá a todos, pois
estaremos de um lado ou de outro. Resta a dúvida de qual seria o menos
doloroso: perceber (lentamente ou de repente) que o corpo já não responde aos
mandos da mente e que esta, por sua vez, já não desempenha o mesmo papel e
definhar até se perder de si, até se tornar qualquer coisa que não um humano ou
ver isso infligido ao outro, àquele que se ama e ter a consciência de que não
há solução e se, por ventura essa solução despontar, será ainda mais cruel e
inevitável.
Por mais que o mundo contemporâneo insista em nos fazer
descer goela abaixo a ideia de "melhor idade", todos nos deparamos,
de uma forma ou de outra, com a decrépita dissolução da vida que o
envelhecimento nos traz. E no final, não poderemos nem ao menos escolher de
qual lado estaremos. Reze, para que no seu caso, seja o menos pior.
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