Fico passada como algumas pessoas ainda acreditam no tal "socialismo" e divulgam isso aos quatro ventos sem o menor pudor.
Tudo bem caso você tenha 14 ou 17 anos, ainda há a desculpa de ser adolescente e acreditar que o mundo possa mudar de algum jeito (coisa mais estúpida ainda...). Mas se você já passou dos 30 e ainda crê nesse tipo de coisa, deveria se envergonhar. OU você realmente acredita nesses patetas vestidos com camiseta do Che Guevara e boné do MST que não sabem nem soletrar Karl Marx OU você é realmente um analfabeto histórico que defende a múmia do Fidel Castro (vestido com seu super-revolucionário uniforme da Adidas) enquanto fecha os olhos para o genocídio cometido por ele e seus comparsas desde 1959.
Fácil encher a boca para defender a reforma agrária enquanto você tem sua casa, seu carro e ainda tem uma constituição que defenda o direito de tê-los. Tocqueville em seu maravilhoso A Democracia na América mostrou como os EUA formou uma democracia inabalável e profetizou que este seria o país da liberdade (e não da igualdade).
Eu prefiro mil vezes ser livre, ter meus direitos resguardados, ter direitos, poder falar o que penso, ler o que gosto, comer o que bem entender a viver numa sociedade que se diz igualitária, que nivela tudo por baixo, no nível da pobreza só para ter o gostinho de dizer que alí não há diferentes, que todos têm as mesmas oportunidades. Bah!
Cansei de ver universitários defendendo o socialismo e vivendo às custas do dinheiro dos pais: tudo isso "seriamente" discutido em festas regadas a muita cerveja e otras cositas mas, que anuviavam as cabeças ocas da roda com suas filosofias brega da esquerda.
Não suporto mais ouvir falar em Lula com aprovação de 87% da população. Isso é coisa de regimes totalitários. Nenhum governo consegue essa porcentagem sem subterfúgios ditatoriais ou manipulação de mídia (coisa que o governo atual é craque!).
Se você ainda acredita no poder dos regimes socialistas e tem menos de 30 anos, você ainda tem cura: vá ler, estude, pesquise, está tudo debaixo de seus olhos.
Agora, se você passou dos 30, sinto muito, há pouca chance de mudança. Vá viver na ilha de Castro ou se mude para a Venezuela e vá viver seu sonho socialista. Mas longe de mim com essa filosofia barata e brega.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Dez passos pra usar bota branca - Pondé (27/12)
CONVERSANDO COM uma jornalista de uma importante revista do mercado editorial recentemente, usei algumas vezes a palavra “brega” e ela me perguntou: “Pondé, o que você quer dizer com a palavra brega? Para mim, brega é usar bota branca”.
Cumpro aqui a promessa que fiz a ela: vou dizer o que eu acho brega, e você vai ver como vivemos numa época brega.
Antes, um reparo: “brega” normalmente quer dizer coisa cafona, de mau gosto, como gente chorando em programa de TV para dona de casa, churrasco na laje como estilo de vida ou feijoada com pagode (sua presença será perdoada só se você estiver lá para pegar alguém, claro, aí, com Deus ou sem Deus, tudo é permitido).
Outro reparo: para os eruditos, sei bem que sou acusado de estetizar a ética (nisso tenho comigo um excelente cúmplice, Nietzsche). Explico: estetizar a ética é tornar o problema do bem e do mal mera questão de gosto, coisa de gente blasé.
Assumo o risco, quem ficar bravo pegue uma senha. Sei bem que o problema do bem e do mal não se reduz à questão de gosto, mas, num mundo como o nosso, defender-se desse mau gosto que é fazer marketing de comportamento é uma obrigação de qualquer pessoa de bom gosto.
Ser brega é:
1. Querer ser chique. Essa é terrível. Nada mais brega do que se preocupar com o que os ricos pensam de você. Confundir “ter dinheiro” com “ser chique” é coisa de gente pobre de espírito. “Ser chique” é como ter olho azul ou verde: se você não tem, azar o seu, se colocar lentes de contato com cor, será ridículo, como homem careca que usa peruca ou homem que pinta o cabelo.
2. Achar que seu filho não sofre dos males que os filhos dos outros sofrem. Crer que seus filhos não falam bobagens nas redes sociais. Achar que eles gostam mesmo de pepino e berinjela e que são mesmo pessoas preocupadas com o ambiente aos 12 anos de idade.
Some a essa breguice sua crença de que seu “filho consciente” é a prova viva de que você o educou bem e veja nisso uma prova de que você é mesmo legal. Gente assim coloca fatias de laranja italiana em jarras de água em festas e adora receber e fazer elogios no Facebook. Além, é claro, de criar vira-latinhas como prova de consciência social.
3. Achar avião chique. Tirar foto dentro do avião ou de você “com a Monalisa”. Ir ao Louvre. Confundir “fazer turismo” com “conhecer o mundo”. Uma diferença grande é: se quando voltar, você quiser muito contar para os outros onde foi que você fez turismo.
4. Acreditar em energias. Dizer que “você tem um deus dentro de você” e que ele “lhe entende”. Deus deve ter bode de gente como você.
5. Querer que pensem que sua filha é sua irmã. Achar legal ela ser mais careta do que você. Pedir conselhos amorosos para ela.
6. “Respeitar” seu parceiro. No caso dos homens, dizer coisas como “Eu acho que as mulheres são vítimas sociais”. Isso é papo de quem só pega mulher chata e feia ou nunca pegou mulher nenhuma.
7. Você até pode ser uma pessoa “fiel” e “honesta”, mas, se você conseguir resistir à infidelidade e a “roubar no jogo” seja lá no que for e achar que resistiu não porque você teve medo ou porque a oportunidade não foi tão boa (o que você tem em casa é melhor, por exemplo, ou o risco de ser pego não vale a empreitada), você é mesmo brega.
Se você sabe que está mentindo, você é apenas hipócrita, se acredita mesmo na sua falsa virtude, é brega. Nada mais brega do que acreditar que você tem virtudes quando, na realidade, faltam oportunidades para você realizar seus vícios.
8. Ter sensibilidade de classe média: sonhar com ambientes de gente rica. Achar legal ser celebridade. Pegar trânsito para ir à praia em feriadões. Vestir-se para festa quando você vai a shopping centers.
9. Dizer que “você quer ser feliz” ou que não tem preconceitos. Acreditar numa vida saudável e na psicologia de recursos humanos aplicada à sua vida pessoal: confundir ter amigos com fazer networking, “agregar valor” a si mesmo, fazer marketing pessoal ou marketing do bem.
10. Acreditar em si, na natureza, no progresso da humanidade, na vida e na energia do Réveillon.
Ela Voltou - Pondé (20/12)
VERÃO AFINAL. Muito calor. Fui a um desses eventos chatos, com os quais a classe média sonha. Tédio puro. Gente deslumbrada, buscando “eye contact”. Quando entrar num lugar desses, não olhe pra ninguém. Olhe para infinito.
O problema é que esse olhar tem um efeito colateral nefasto: ninguém resiste a alguém que não olha para ninguém. Mais gente chata irá atrás de você mostrando seus monótonos talentos.
Vestido preto básico, leve e curto, sandálias altas. Vi de longe, mas reconheci Andréia. Teria voltado pra ficar? Pelo que me disseram naquela noite, sim. Mulher intrigante ela, sempre achei.
Aquele tipo de mulher que sabe que a distância entre vício e virtude é apenas o número de taças de vinho, por isso bebia pouco se queria ser capaz de dizer “não”. Sempre muito falada pelos outros, era vítima de dois tipos de ódio. Mulher bonita e inteligente, ela cometia dois pecados ao mesmo tempo.
Para os homens comuns, sua inteligência era uma ofensa; para as mulheres comuns, sua beleza era um descalabro provando a injustiça cósmica: poucas têm muito e muitas têm pouco.
Passional por natureza, Andréia, aprendera a dura lição que é controlar seu desejo e seu sexo. Carregando aquele não sei o quê de talvez promíscuo que desequilibra os homens inseguros (porque falsamente éticos), nossa heroína passara, nos últimos tempos, a falar pouco e a ter gestos curtos, como se a garantia de virtude numa mulher fosse função apenas do silêncio e do pouco movimento das pernas e dos cabelos.
Lera algum filósofo neoestóico e chegara à conclusão de que a virtude da alma é apenas resultado de certos movimentos repetidos do corpo.
Inteligente, ela era uma dessas mulheres que sabia a bobagem que é dizer que tudo que as mulheres querem num homem é dinheiro. Quando uma mulher é inteligente, ao contrário do que pensam os idiotas, ela quer muito mais do que simples dinheiro porque dinheiro é barato.
Voltando depois de uns anos na Europa, ela havia feito, segundo dizem, um mestrado sobre o cinema de Lars Von Trier. Publicitária de formação, decidiu, no seu retorno ao Brasil, trabalhar numa produtora de cinema, uma dessas grandes, aparentemente alemã, cuja sede era em Berlin.
Chegando para seu primeiro dia de trabalho, eis que Andréia teve que tolerar seu primeiro assédio moral de uma série que seria obrigada a tolerar nos próximos meses, segundo me disseram naquele evento chato no qual a reencontrei.
Topou logo de cara com um dos diretores da produtora que tentou seduzi-la para um documentário que supostamente ele faria sobre populações carentes na periferia de São Paulo (“Que tédio!”, ela pensou, “que assunto monótono!”).
Ele devia ser uma dessas almas pequenas, uma dessas pequenas autoridades amantes de seu minúsculo poder.
Sabendo que Andréia deveria trabalhar não sei ao certo com quem, que ele odiava, mas a quem ela adorava de paixão, nosso cineasta medíocre, diante da recusa dela, passou à agressão de seu colega famoso.
Ela fingiu ouvir com atenção, mas pensava em outra coisa enquanto ele destilava sua inveja.
Maldição eterna das mulheres bonitas, elas costumeiramente têm que aturar, além da inveja das feias, a inveja dos homens fracos, porque não as tem.
Pensando bem, pelo que me disseram desse sujeito, sua postura era um tanto a de um cidadão atarefado e sem muita imaginação.
Vale a pena lembrar que nosso diretor de documentários “sociais” era alguém que um dia sonhara ser um grande cineasta, mas que, ao final (por absoluta falta de talento e uma certa preguiça intelectual típica da maioria das pessoas do mundo da cultura), acabara por se ocupar com a rotina de papéis e carimbos na produtora. Seu dia a dia era envenenado por aquele tipo de inveja típica das almas incapazes.
Não falei com ela. Vi que estava um tanto aborrecida. O tal cineasta medíocre a seguia com os olhos. A beleza pode ser mesmo um azar.
Por isso, provavelmente, ela de repente sumiu, “voando” numa BMW preta. Perdi-me nos delírios do quanto ela ficaria molhada de suor, numa noite quente como aquela.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Mais Woody
Você vai conhecer o homem dos seus sonhos é um típico Woody Allen. Não o melhor, nem o mais engraçado, mas um genuíno Woody Allen: ótimos atores, enredo simples e direto e trilha sonora deliciosa como só ele sabe fazer.
Para os desavisados que não conhecem esse tipo de cinema, o filme pode parecer banal e sem propósito (algumas pessoas sairam do cinema criticando quem havia indicado o filme...rs). Um dos títulos propostos para a cópia brasileira foi "Uma comédia romântica de Woody Allen". Graças ao bom gosto o nome foi rejeitado e passou do inglês You Will Meet a Tall Dark Stranger para Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos. Ufa!
O filme gira em torno da frase magnífica de Shakespeare, em Macbeth, que diz "a vida é cheia de som e fúria que nada significa". Desavisados de plantão deveriam ter se tocado já nesta primeira frase do filme e ter levantado da cadeira: Woody avisou, não esperem um sentido, um final feliz ou algo parecido.Afinal, a vida é assim, como uma vela que se apaga e que no final talvez não tenha importância alguma, sentido algum.
Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida é apenas uma sombra ambulante, um pobre palhaço que por uma hora se espavona e se agita no palco, sem que depois seja ouvido; é uma história contada por idiotas, cheia de fúria e muito barulho, que nada significa
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
No promises
Muito cansada.
Esse é o fim de ano mais louco que tive na vida...
Sem promessas para ano que vem.
I promise!
Esse é o fim de ano mais louco que tive na vida...
Sem promessas para ano que vem.
I promise!
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Woody forever
A frase de Woody Allen que se aplica a mim certamente:
"Não sou o mesmo desde que parei de fumar"
Grande Woody. Há tempos tive overdose de seus filmes e prometi a mim mesma ficar anos sem assistí-los.
Ainda bem que passou. Já posso me embriagar de novo.
"Não sou o mesmo desde que parei de fumar"
Grande Woody. Há tempos tive overdose de seus filmes e prometi a mim mesma ficar anos sem assistí-los.
Ainda bem que passou. Já posso me embriagar de novo.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
"Rede Social" é um grande filme.
Logo de início já mostra a que veio: um diálogo (praticamente um monólogo) infindável e extremamente rápido entre o protagonista e a mulher responsável pela fora que seria a força motriz para a "vingança nerd" - o facebook.
Os diálogos são em sua maioria geniais e não há tempo para pipoca, refigerante e nem beijinhos no cinema. A rapidez de pensamento é a marca do filme pois esta é sem dúvida a marca do criador da rede social mais utilizada no mundo.
Filme para poucos - muitos torcerão o nariz dizendo ser chato e maçante, com diálogos muito longos - é mais um dos bons do diretor David Fincher (genial por "O Clube da Luta").
O que posso dizer?
Obrigada, Mark Zuckerberg! I love facebook!
Logo de início já mostra a que veio: um diálogo (praticamente um monólogo) infindável e extremamente rápido entre o protagonista e a mulher responsável pela fora que seria a força motriz para a "vingança nerd" - o facebook.
Os diálogos são em sua maioria geniais e não há tempo para pipoca, refigerante e nem beijinhos no cinema. A rapidez de pensamento é a marca do filme pois esta é sem dúvida a marca do criador da rede social mais utilizada no mundo.
Filme para poucos - muitos torcerão o nariz dizendo ser chato e maçante, com diálogos muito longos - é mais um dos bons do diretor David Fincher (genial por "O Clube da Luta").
O que posso dizer?
Obrigada, Mark Zuckerberg! I love facebook!
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
TERRORISTAS - Pondé
E O TERRORISTA do WikiLeaks brinca de justiceiro acusando os EUA de inimigo da democracia. Piada idiota. E tem gente que crê nessa bobagem. Os EUA não são santos, ninguém é.
E o Brasil reconheceu o Estado Palestino. E a diplomacia brasileira brinca de amiguinha do presidente do Irã, um ditador da idade da pedra.
No que se refere ao Oriente Médio e ao terrorismo islâmico (que não é igual ao Islã em si), a diplomacia brasileira é ideológica, o que é a mesma coisa que dizer que parece papo de estudante comunista (outra coisa da idade da pedra).
Vale dizer que a culpa é dos professores que fizeram das universidades verdadeiras madrassas do fundamentalismo de esquerda, doutrinando os alunos ao seu bel prazer. Madrassas são escolas de teologia islâmica, às vezes parasitadas pela teologia do terrorismo islâmico, mas que, obviamente, não se reduz a isso.
E há gente (infantil) que não entende que o Ocidente está em guerra com o fundamentalismo islâmico. Nunca haverá paz. E isso nada tem a ver com gostar de guerras.
Gente normal não vai pra guerra porque gosta, vai porque não tem outro jeito. Eis um fato que cinderelas não suportam. A maioria de nós por aqui não sabe o que é odiar alguém a ponto de ir pra guerra. E acredita mesmo naquele papinho de professor de ciências humanas sobre guerras poderem ser resolvidas com “amor ao próximo” ou “justiça social internacional”. Blábláblá.
Pouco importa se continuamos a doar dinheiro para crianças da África. Pouco importa se continuamos a nos olhar no espelho com o intuito secreto de nos emocionarmos com nossa própria sensibilidade. Ainda assim há uma guerra com o terrorismo islâmico. Pouco importa se você acredita que o “outro” seja sempre legal (mentira, existem “outros” que são o fim da picada), ou se você não cresceu o bastante para não viver como cinderela.
O mundo é mais complexo do que nosso “coração de estudante” imagina.
Ódio + conflito de interesses = guerra. Entendeu? Vejamos. Você já brigou por um espólio de um pai morto? Já deixou de falar com seu irmão por conta de uma casa velha caindo aos pedaços? Já rompeu relações com alguém que amava loucamente no último verão e hoje o odeia com a certeza de um vulcão? Agora pense: seria o mundo diferente de mim e de você e nossos minúsculos conflitos de interesses?
Vejamos um exemplo “banal”. Fronteira da cidade de Belém (sob controle da muitas vezes corrupta Autoridade Palestina) com Israel. Na fronteira, homens e mulheres, palestinos, fazem fila pra entrar em Israel. Muitos lá trabalham. Policiais os revistam. Corpos, bolsas, mochilas. Tudo desagradável.
Infelizmente, em meio a estes infelizes muitas vezes podem estar terroristas “disfarçados”. A única solução é revistá-los. Procedimentos assim garantem o cotidiano de pessoas comuns em tempos de guerra.
Eu sei que você vai dizer isso e aquilo sobre quem começou a história. Em números mais fáceis, começou com os romanos. Ou, mais contemporaneamente, aconselho você a ler “Mitos e Fatos, a Verdade sobre o Conflito Árabe-israelense” de Mitchell G. Bard. Antes que alguém diga “mas ele é judeu!”, lembre-se que muitos não estranhariam que um “árabe de esquerda” falasse mal de Israel. Provavelmente assumiriam como verdade óbvia o que ele diz.
Em situações piores, a violência pode não ser apenas psicológica, mas também física. Eu sei que você e eu podemos ficar chocados com abusos americanos, ingleses ou israelenses. Filmes e fotos de abusos abundam na mídia. E aí, as cinderelas gritam: “olhe como fazem os americanos”! Pergunte-se, pelo menos uma vez: o fato de que você, em seu apartamento com TV a cabo, pode ver essas imagens significa o quê?
Significa que você vive numa democracia, coisa diferente do Irã e dos currais dos terroristas islâmicos. Você sabia que em alguns países islâmicos se você pregar outra religião irá pra cadeia? Eles expõem seus “torturadores” publicamente?
Agora acorde, tome um remédio contra o “coração de estudante” e vá trabalhar.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
A democracia da caveira - Pondé
Eu também sou contra a pena de morte. Também acho que grande parte da violência urbana é fruto de miséria, fome, educação ruim e saúde pública ruim. Também concordo que a elite brasileira tem um histórico de maus antecedentes, em sua responsabilidade pela sociedade que lidera (aliás, nenhuma sociedade presta sem o “cuidado” de sua elite).
Também acho que não adianta (somente) a polícia ou as forças armadas invadirem o morro para matar e prender bandido, e que o Estado devia estar lá para cumprir sua função civilizadora. Também acho que é mais fácil prender e matar bandido pobre do que rico. E, sim, o oficialato do Estado, muitas vezes, é tão bandido quanto os traficantes. Acho que qualquer pessoa em sã consciência não pode negar tudo isso. Mas a história não para aí.
Numa cena do maravilhoso “Tropa de Elite 2“, o herói Coronel Nascimento (corajoso, reto e solitário) entra num restaurante para encontrar alguns dos responsáveis pela (in)segurança pública do Estado do Rio. Acuado, temendo um quase linchamento público, nosso herói se assusta quando, ao entrar no restaurante, é ovacionado. Sua voz em “off” diz algo como “… mas o povo gosta é de bandido morto“.
Sim, considero o Capitão Nascimento — promovido a coronel no segundo filme — o primeiro herói produzido pelo cinema brasileiro, para além das tentativas infantis e entediantes de nos fazerem engolir, goela abaixo, bandidos, guerrilheiros de esquerda, drogados, prostitutas e cangaceiros como heróis.
Vale lembrar que o intelectual dos direitos humanos no filme (o Fraga) revela-se um “Capitão Nascimento” em sua função de crítico da sociedade, o que é raro.
Normalmente, os intelectuais das universidades ficam entre si, destruindo carreiras dos colegas, fazendo política institucional comezinha, buscando cargos burocráticos na nomenclatura da universidade ou em partidos políticos afins, dizendo mentiras deslavadas a serviço da ideologia do partido (intelectuais orgânicos) ou de seu corporativismo. Não nos enganemos: Fraga é um Capitão Nascimento, por isso os dois “se encontram” no final. Quem leu o filme como “o Capitão Nascimento pede pra sair” o fez por ignorância ou simples má-fé.
Sim, acho que grande parte de nossa “inteligência profissional” tende a desmerecer este grande detalhe: o “povo”, categoria social tão amada por quem quer fazer dela uma “santidade política”, gosta de ver bandidos presos e mortos. Neste momento, a “inteligência profissional” abandona o “povo” em seu “gosto alienado”.
Aqui erra a “inteligência profissional”, porque querer bandido preso é democracia pura: os pobres são os que mais sofrem com esses bandidos, a invasão do morro é um ato de democracia, o Bope representa, aqui, os direitos humanos da gente comum. Só intelectual gosta de bandido. Pouco importa se a “motivação” da invasão do morro não tenha sido tão “pura” (só contra o crime), nada no mundo é puro. Você é?
Lembre que no primeiro parágrafo digo tudo que “gente bacana” diz (e concordando de fato com a “gente bacana” nesse assunto, coisa rara na minha vida).
Mas quem vive seu dia a dia trabalhando, pagando impostos (sempre avassaladores e abusivos), levando filhos à escola, indo ao cinema, viajando de fim de semana, fazendo compra em shoppings, indo a feiras e supermercados, enfim, vivendo sua vida normal, tem o direito de querer que bandidos sejam presos e, se resistirem, sejam mortos.
Ver-se representado no Capitão Nascimento e no Bope não é pecado de gente reacionária. É condição de quem é vitima, seja de um Estado irresponsável, seja de bandidos e assassinos.
O esperado de uma sociedade decente não é apenas fazer o discurso dos direitos humanos dos bandidos, mas também realizar os direitos humanos de quem vive nos limites da lei.
Passou o trauma da ditadura. A história “andou”. A população quer ver sua honestidade banal e cotidiana contemplada no direito de andar de ônibus e de carro. Basta de papo furado, devemos ter escola, saúde, justiça e faca na caveira. Nada disso é belo, mas um mundo “belo” é para gente infantil.
domingo, 5 de dezembro de 2010
sábado, 4 de dezembro de 2010
Os 3 jotas: O Justo, o Judeu e o Jesuíta
Noite de lançamento do livro de Luiz Felipe Pondé - Contra um mundo melhor: ensaios do afeto - na CPFL de Campinas.
Momento único e deslumbrante que tive o prazer de acompanhar.
Na mesa, além de Pondé, é lógico, foram convidados o filósofo Oswaldo Giacóia Jr. e o historiador Leandro Karnal. Foi algo realmente especial.
A noite começou com a análise perfeita de Karnal sobre o livro de Pondé. A descrição do pensamento "pondeniano" foi pontual e divertida. Daí surgiu a brincadeira dos 3 jotas: o Justo (Giacóia), o Judeu (Pondé) e o Jesuíta (Karnal).
Logo após, Giacóia nos agraciou com seus agradecimentos e questionamentos acerca do conteúdo sempre ácido e real do livro.
Pondé fechou a noite autografando gentilmente os exemplares de sua obra (indicadíssima, já estou quase terminando).
Uma noite memorável.
Giacóia, Pondé, Karnal
Pondé e meu exemplar, já quase todo lido.
(Tiete, eu sei... rs)
Momento único e deslumbrante que tive o prazer de acompanhar.
Na mesa, além de Pondé, é lógico, foram convidados o filósofo Oswaldo Giacóia Jr. e o historiador Leandro Karnal. Foi algo realmente especial.
A noite começou com a análise perfeita de Karnal sobre o livro de Pondé. A descrição do pensamento "pondeniano" foi pontual e divertida. Daí surgiu a brincadeira dos 3 jotas: o Justo (Giacóia), o Judeu (Pondé) e o Jesuíta (Karnal).
Logo após, Giacóia nos agraciou com seus agradecimentos e questionamentos acerca do conteúdo sempre ácido e real do livro.
Pondé fechou a noite autografando gentilmente os exemplares de sua obra (indicadíssima, já estou quase terminando).
Uma noite memorável.
Giacóia, Pondé, Karnal
Pondé e meu exemplar, já quase todo lido.
(Tiete, eu sei... rs)
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Cansada
Cansada.
Cansada com o fim de ano,
com o fim das aulas,
com o fim de uma jornada,
com o fim de um ciclo,
com o fim de algo que amo.
Cansada de gente loser,
de gente falsa,
de gente sem educação,
Tão cansada que nem consigo movimentar o mouse...
Poderia ser um haikai
mas como não sei fazer e não gosto de poesia
é só um desabafo mesmo.
Cansada com o fim de ano,
com o fim das aulas,
com o fim de uma jornada,
com o fim de um ciclo,
com o fim de algo que amo.
Cansada de gente loser,
de gente falsa,
de gente sem educação,
Tão cansada que nem consigo movimentar o mouse...
Poderia ser um haikai
mas como não sei fazer e não gosto de poesia
é só um desabafo mesmo.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
O filósofo Charles Harper - Pondé
ADORO TELEVISÃO! Curto muito o dr. House e sua visão trágica de mundo (aliviada estes dias porque ele está pegando a chefe, a dra. Cuddy, e sempre que pegamos alguém a tragédia da vida se dilui na doçura do sucesso sexual, não?).
Hierarquias de poder são grandes afrodisíacos, seja quando envolve mulheres acima (chefes), seja com mulheres abaixo (secretárias). O cinema explora isso há muito tempo com sucesso de bilheteria.
Calma, cara leitora. Não engasgue. Brinco. Aliás, brinco muitas vezes, mas nunca sabemos até onde vai a brincadeira no mundo, não é? Dúvidas são como neblina numa estrada. Escondem curvas e acidentes mortais ou nada além da própria monótona neblina.
Mas tenho um outro herói na TV: Charles Harper, da série “Two and a Half Men“. Tenho um amigo que a deu de presente para seu jovem sobrinho. Acertou em cheio: essa série deveria fazer parte da formação de todo menino hoje em dia, porque vivemos em épocas sombrias. A propósito, deveríamos dar de presente neste Natal a coleção inteira de Monteiro Lobato só para deixar os fascistas da censura das raças bravos. Se vivessem na Alemanha nazista, esses fascistas fariam fogueiras com livros do Monteiro Lobato.
Na agonia de diminuir as baixarias do mundo, estamos mesmo é gerando meninos inseguros e confusos e ainda tem gente por aí que nega isso. Sei que escolas “ensinam” em sala de aula que as “mulheres são oprimidas” já na sétima série! Ouvindo isso, fico feliz que já tenho 51 anos e que pude crescer num mundo onde as mulheres não eram “esse bicho de sete cabeças” que viraram. Pena. Agora sofrem com carinhas medrosos e chorões… e fóbicos que não aguentam compromissos. Ainda bem que a velha seleção natural do Darwin impede que a maioria delas acredite nas baboseiras que falam por aí sobre meninas oprimidas na sétima série. Homens e mulheres se amam para além do “ódio de gênero”.
Voltando ao filósofo Charlie. O duo dele e seu irmão Alan é ceticismo puro para com as modas do comportamento “correto”. Um estudo do comportamento masculino que deixa muita ciência “das masculinidades” (que nome horroroso!) no chinelo. As “militâncias” transformaram muitas mulheres em zumbis emancipados e agora se preparam para fazer o mesmo com os coitados dos caras.
Alan é o típico homem inseguro, mentiroso, “loser”, que se esconde no blá-blá-blá atual da “sensibilidade masculina”. Mas sua muito para pegar alguém. Falido, “massagista” que queria ser médico, expulso de casa pela sua ex-mulher, Alan vai morar com seu irmão Charlie e leva seu filho, Jake (uma prova de que corremos risco de extinção por estupidez). Charlie é seu oposto: bem-sucedido financeiramente, ganha muita grana fazendo jingle publicitário (o suficiente para deixar as “freiras feias” da esquerda nervosas) e pega todas.
Claro que estamos no mundo dos tipos superficiais de comédias. A vida dos homens não é nem Alan nem Charlie. A sociedade do sucesso (material, sexual, afetivo) de hoje é um fracasso: tortura meninas para serem magras e meninos para darem dez sem tirar. A verdade é que a série brinca com os sucessos vazios dos dois irmãos e expõe a dura realidade: o sucesso na vida afetiva não existe.
Uma pérola para você: num dado momento, Alan reclama que seu irmão Charlie está ensinando bobagens para seu filho. Os dois conversavam sobre mulheres. Alan diz “uma relação é construída com sinceridade e respeito pelo outro” (mentira, ele é um dissimulado, como todo mundo que diz “respeitar o outro”), ao que seu irmão Charlie responde: “Nada disso, uma relação se constrói com diamante e Viagra”. Voilà.
Moral da história: para além do blá-blá-blá da “sensibilidade masculina” e da idealização dos afetos (comum em épocas como a nossa, dominada pela sensibilidade infantil da classe média), a maioria das mulheres quer mesmo é homens com “poder” e seguros, que saibam dizer “não” para elas e “sustentar” um mundo onde elas se sintam amadas.
A questão é: tem algum cara que queira pagar a conta? Amor é luxo.
Espero que você ganhe um diamante nesta semana.
Hierarquias de poder são grandes afrodisíacos, seja quando envolve mulheres acima (chefes), seja com mulheres abaixo (secretárias). O cinema explora isso há muito tempo com sucesso de bilheteria.
Calma, cara leitora. Não engasgue. Brinco. Aliás, brinco muitas vezes, mas nunca sabemos até onde vai a brincadeira no mundo, não é? Dúvidas são como neblina numa estrada. Escondem curvas e acidentes mortais ou nada além da própria monótona neblina.
Mas tenho um outro herói na TV: Charles Harper, da série “Two and a Half Men“. Tenho um amigo que a deu de presente para seu jovem sobrinho. Acertou em cheio: essa série deveria fazer parte da formação de todo menino hoje em dia, porque vivemos em épocas sombrias. A propósito, deveríamos dar de presente neste Natal a coleção inteira de Monteiro Lobato só para deixar os fascistas da censura das raças bravos. Se vivessem na Alemanha nazista, esses fascistas fariam fogueiras com livros do Monteiro Lobato.
Na agonia de diminuir as baixarias do mundo, estamos mesmo é gerando meninos inseguros e confusos e ainda tem gente por aí que nega isso. Sei que escolas “ensinam” em sala de aula que as “mulheres são oprimidas” já na sétima série! Ouvindo isso, fico feliz que já tenho 51 anos e que pude crescer num mundo onde as mulheres não eram “esse bicho de sete cabeças” que viraram. Pena. Agora sofrem com carinhas medrosos e chorões… e fóbicos que não aguentam compromissos. Ainda bem que a velha seleção natural do Darwin impede que a maioria delas acredite nas baboseiras que falam por aí sobre meninas oprimidas na sétima série. Homens e mulheres se amam para além do “ódio de gênero”.
Voltando ao filósofo Charlie. O duo dele e seu irmão Alan é ceticismo puro para com as modas do comportamento “correto”. Um estudo do comportamento masculino que deixa muita ciência “das masculinidades” (que nome horroroso!) no chinelo. As “militâncias” transformaram muitas mulheres em zumbis emancipados e agora se preparam para fazer o mesmo com os coitados dos caras.
Alan é o típico homem inseguro, mentiroso, “loser”, que se esconde no blá-blá-blá atual da “sensibilidade masculina”. Mas sua muito para pegar alguém. Falido, “massagista” que queria ser médico, expulso de casa pela sua ex-mulher, Alan vai morar com seu irmão Charlie e leva seu filho, Jake (uma prova de que corremos risco de extinção por estupidez). Charlie é seu oposto: bem-sucedido financeiramente, ganha muita grana fazendo jingle publicitário (o suficiente para deixar as “freiras feias” da esquerda nervosas) e pega todas.
Claro que estamos no mundo dos tipos superficiais de comédias. A vida dos homens não é nem Alan nem Charlie. A sociedade do sucesso (material, sexual, afetivo) de hoje é um fracasso: tortura meninas para serem magras e meninos para darem dez sem tirar. A verdade é que a série brinca com os sucessos vazios dos dois irmãos e expõe a dura realidade: o sucesso na vida afetiva não existe.
Uma pérola para você: num dado momento, Alan reclama que seu irmão Charlie está ensinando bobagens para seu filho. Os dois conversavam sobre mulheres. Alan diz “uma relação é construída com sinceridade e respeito pelo outro” (mentira, ele é um dissimulado, como todo mundo que diz “respeitar o outro”), ao que seu irmão Charlie responde: “Nada disso, uma relação se constrói com diamante e Viagra”. Voilà.
Moral da história: para além do blá-blá-blá da “sensibilidade masculina” e da idealização dos afetos (comum em épocas como a nossa, dominada pela sensibilidade infantil da classe média), a maioria das mulheres quer mesmo é homens com “poder” e seguros, que saibam dizer “não” para elas e “sustentar” um mundo onde elas se sintam amadas.
A questão é: tem algum cara que queira pagar a conta? Amor é luxo.
Espero que você ganhe um diamante nesta semana.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
O futuro está na moda
Essa notícia com certeza parece ter saído direto de Blade Runner ou 2001: uma odisséia no espaço.
Sim , é isso mesmo: roupa feita a partir de spray! O "líquido de tecido" é aplicado diretamente na pele, se transformando rapidamente numa peça de roupa; depois pode ser retirado do dorpo, lavado e reutilizado!
Quero logo um vestido!
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Papai Noel - Pondé
EM 1965, eu tinha seis anos. Morava em Jequié, cidade no interior da Bahia. Meu pai era diretor do hospital da cidade. Fui para a escolinha do clube de tênis local, uma espécie de clube Pinheiros do sertão.
Perto do Natal, a sala foi invadida por um i Noel. Foi uma farra para as crianças, menos para mim.
Cresci num ambiente secular. Ateísmo era tão comum como dizer “passe a manteiga”. Desde cedo, meus pais me ensinaram que Papai Noel não existia. Mas não me disseram que eu deveria calar a boca em situações como a que vivi naquele Natal de 1965.
Reconheci uma das professoras vestida com aquele traje ridículo. Imagine o calor de dezembro no Nordeste brasileiro, este mesmo que hoje tantos querem idolatrar e outros demonizar. De pronto, levantei a mão e pedi para fazer uma pergunta. O Papai Noel me disse: “Pode falar, Felipe”. Eu desabei a dizer que sabia que “ele” era a professora X e que era feio ficar enganando as crianças com essas coisas bobas porque Papai Noel não existia.
Pronto! Uma gritaria geral. Uma menina, do meu lado, se pôs a chorar. Achei bonitinho ela chorando. No dia seguinte, tentei falar com ela no parque, mas ela ainda estava brava comigo. Resultado, eu fiquei com um trauma: basta qualquer mulher chorar perto de mim que me sinto culpado. Que praga!
A professora, correndo, me tirou da sala. Minha mãe foi chamada à escola. As professoras me disseram que eu havia me comportado mal. Mas, afinal, qual era meu erro, se a verdade é que Papai Noel não existia? Depois de tantos anos, ainda me irrito com quem acredita em “Papai Noel” ou com quem tenta fazer os outros aceitarem suas crenças infantis.
Questão profundamente filosófica, não? Quem sabe foi por isso que decidi ser filósofo. E, para meu espanto, às vezes sinto que continuo naquela sala de aula dizendo o óbvio e levando bronca porque os “coleguinhas” insistem em acreditar em “Papai Noel” ou “tirar” da sala quem afirma que ele não existe.
Acabei vindo para São Paulo. Nunca senti preconceito (começo a detestar essa palavra, porque hoje ela é usada normalmente para calar a boca de quem diz o que não é politicamente correto, essa praga contemporânea).
Em apenas dois episódios, que me lembre, ouvi comentários que claramente faziam referência à minha “nordestinidade” como traço de ignorância. E as duas pessoas, pasme você, leitor, eram pessoas “de esquerda” e “inteligentes”.
Nada de novo. As pessoas “de esquerda” foram responsáveis pela maior parte da chacina política no século 20. As patologias do pensamento hegeliano-marxista e sua vocação para o “Estado total” mataram mais gente do que o nazismo.
E ainda querem me convencer de que posso confiar nas suas boas intenções? Contra os delírios de Hegel, leia Isaiah Berlin e seu brilhante “Limites da Utopia” (Companhia das Letras, 224 pág.). O Inferno está cheio de reformadores políticos. O Estado deve ser ocupado por pessoas que não querem reformar o mundo. Fora, Papai Noel!
Pessoas que se dizem defensoras de “uma sociedade melhor” ou da “liberdade igual para todos” são autoritárias e são as que primeiro aderem à violência contra a liberdade de fato e contra aqueles que pensam diferente delas.
Quer uma dica? Quem usar muito expressões como “repúdio”, “isso é desprezível”, “interesse coletivo” “estou indignado”, “preconceito”, não merece confiança.
Adoro São Paulo. Entre tantas razões, porque é uma cidade aberta para a única forma de liberdade de fato conhecida: a liberdade de você ter méritos e ter esses méritos reconhecidos pelos outros, independentemente de raça, família, credo, classe social ou sexo.
São Paulo é maravilhosa porque acolhe quem trabalha sem por a culpa nos outros. Liberdade não é sinônimo de felicidade, liberdade é conflito, agonia, solidão.
Até onde conhecemos a história, só há liberdade onde há capitalismo, mesmo com suas miseráveis contradições. Todo mundo que quis “inventar outra liberdade” queria mesmo era meter a mão no patrimônio alheio e matar o dono.
Entre a felicidade e a liberdade, escolho a segunda. Escolho São Paulo.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
A 25 mil pés - Pondé
ESTOU A 25 mil pés de altitude, voando num desses turbo-hélices. Adoro o som da hélice. Lá embaixo, paisagens distantes. Gosto de voar.
Comecei a voar com um ano de idade, quando meu pai, então um jovem capitão médico da aeronáutica, me levava para voar em aviões da FAB. Entretanto, detesto aeroportos e classes sociais recém-chegadas a aeroportos, com sua alegria de praças de alimentação. Viajar, hoje em dia, é quase sempre como ser obrigado a frequentar um churrasco na laje.
Sentimo-nos insignificantes aqui em cima. Exemplo máximo da desmedida humana, voar nos faz pensar em coisas profundas como: “Qual o sentido da vida?”; “Existirá vida após a morte?” Movido por esse apelo que vem do “essencial” é que decidi falar de coisa séria hoje: vou falar de mulher.
Risadas? Nem tanto, caríssimo leitor. Se você for uma vítima, como eu, dessa maldição que é nascer heterossexual (um tanto fora de moda hoje em dia, quase reacionário), saberá que tudo o que fazemos, quase todo o tempo, o fazemos para agradar as mulheres. Parece que fomos “selecionados” assim.
Em cerca de 50% do meu tempo, penso em como fazer a minha linda esposa feliz. Bela e brava, ela é uma mulher muito exigente. O restante do tempo, passo pensando em como ganhar dinheiro para deixá-la feliz. Sempre fracasso, claro, ela é mulher. Risadas? Nem tanto. Exagero? Talvez um pouco.
Não fique brava, cara leitora. Fique firme no regime. Nada de queijo amarelo e doce no café da manhã. Lembre-se: se engordar, vai se sentir a última das mulheres. Pior ainda se sua colega de trabalho ou cunhada for mais magra que você. Mas não sofra demais. Vou lhe contar um segredo: como dizem sábios árabes, muitos homens gostam mesmo é de mulheres que “encham a cama”.
Recentemente, revi o episódio nove (“Não Desejarás a Mulher do Próximo”) da série para a TV polonesa “Decálogo”, de 1988, do grande Krzysztof Kieslowski (1941-1996). A história é a de um médico jovem e casado que, de repente, fica impotente pra sempre. Logo, nós, heterossexuais clássicos, pensamos: “Ufa, ainda bem que vivemos na era do Viagra” -que, aliás, em nível de grandeza, está para a invenção do avião e do computador, infinitamente superior à do antibiótico.
Mas, dizem os especialistas, alguns casos estão além de qualquer possibilidade de cura. Planejo um dia, após meus 90 anos, experimentar esse milagre. Agora, seria covardia com a concorrência. Afinal, sou pernambucano e nós, netos de Lampião, só sofremos desses males dos mortais depois dos 90 anos, quando sofremos.
Nós, humanos, somos seres que habitam dois mundos. Um, “espiritual” ou “simbólico”, onde somos livres pra “evoluir” para mundos sem guerras, cheios de amor e pessoas que se respeitam todo o tempo. Enfim, livres pra pensar em nós mesmos de forma ideal. Outro, material, submetido à lei da gravidade e à miséria do tempo, onde sofremos a escravidão da realidade.
Tanto marido quanto esposa nesse episódio se viram como podem, cada um em sua miséria. Ele, temendo descobrir que, sem ereção, deixa de ser homem; ela, temendo que, afinal, deixe de amá-lo uma vez que ele não tenha mais ereção. Uma humilhação para o coração, derrotado pelo que falta “no meio das pernas”, como diz a personagem feminina no episódio.
Nesse sentido, a questão posta por Kieslowski é cirúrgica. Para aqueles que se acham “belos”, pergunto: quanto tempo uma “boa” esposa suportaria um marido “sem uso”? Quanto tempo sua “bela alma” suportaria o desespero de seu corpo, sedento pela penetração física, para além do blá-blá-blá brega de “ela tem direito de ser feliz”?
Às vezes, suspeito que um dos maiores segredos da civilização repousa sobre a capacidade ou não de um homem penetrar uma mulher. E o medo do homem de fracassar nessa missão é causa de enormes violências contra a mulher.
O grande mestre Freud dizia: se quiser pensar a sério, não fique na sala de visitas, vá ao quarto do casal. Ouça os sussurros e os lamentos. Pergunte coisas obscenas.
Grande parte de minha crítica às feministas passa por aí: política, nesse assunto, é sala de visitas. Pousei.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
A derrota de Obama - Pondé
OBAMA (QUASE) já era. O partido Republicano derrotou o partido Democrata nas eleições de 2 de novembro. Para se reeleger, ele deverá vencer a impressão de que governa apenas para alguns “liberais” alienados. Obama é bom de papo, mas ruim de governo.
Interessante ver como esse fato parece estranho para quem tem uma visão deturpada da política americana e, por isso, insiste em identificar os republicanos com o “mal” e os democratas com o “bem”. O partido Republicano representa a mais pura mentalidade americana de amor à liberdade. É ai que devemos procurar uma resposta para a virada republicana nestas eleições, coisa impensável em 2008.
Por que ninguém se pergunta: se os republicanos são tão “maus”, por que tantas mulheres e negros (supostas vítimas sociais) são republicanos? Por que tantas candidatas republicanas?
Obama é visto como mau presidente de duas formas diferentes. A primeira, por parte de seus eleitores, como um fraco, incapaz de fazer as mudanças prometidas. A segunda, por parte de seus críticos, como a mais cabal prova do que os americanos não querem: um presidente da Suécia na Casa Branca.
Quando Obama foi eleito em 2008, em meio à histeria coletiva do novo messias, escrevi nesta coluna que a histeria passaria e que ele, em breve, revelaria sua condição de farsa. Ele é um presidente elitista, inábil e com uma visão infantil do seu próprio país.
Resultado, ele rachou os EUA no meio, produzindo fenômenos como o “Tea Party”, movimento que muitos insistem em classificar como um amontoado de ignorantes retardados mentais. Quem pensa assim, está enganado. O “Tea Party” representa um grito histérico de “não se metam em minha vida”. A histeria de Obama criou a histeria do “Tea Party”.
Para além de temas como sua derrota diante do desemprego, sua demonização do mercado financeiro e a “conta” do seguro saúde, Obama representa o que muitos americanos entendem como “socialismo”: obrigar os produtivos a pagar a conta dos preguiçosos. Os EUA são a nação mais poderosa do mundo, e os americanos se perguntam: por que devemos abandonar nossa tradição de que cada um cuida de sua vida para vivermos como os “pobres” europeus?
A ideia de liberdade nos EUA está intimamente associada a uma visão “prática” da liberdade e não a definições abstratas do que seria a liberdade. Abstrações como essas estão mais próximas de autores como Rousseau e Marx e seus delírios políticos, e menos da concretude de autores como Locke ou Tocqueville e a ideia de liberdade como virtude gerada pelo movimento cotidiano das pessoas buscando sua felicidade, sem ninguém “ajudando” ou “atrapalhando”. De início, ser livre para os americanos é arcar com os riscos que a liberdade gera. Coisa de gente grande e não de criança. Para os americanos que disseram “não” ao Obama agora, ele é uma criança com o ego inflado.
Do ponto de vista republicano, a liberdade proposta pelos democratas (principalmente a esquerda do partido, representada por gente como Obama e seu séquito) é semelhante à rebeldia de filhos que exigem sair de casa, mas querem que os pais continuem a pagar suas contas. Para os republicanos, liberdade é algo que se conquista e não algo que se recebe.
Um outro erro comum é associarmos a posição republicana à postura “antiprogresso” ou a favor da pobreza da maioria. Não, para eles, é exatamente o contrário: progresso social (compreendido como uma sociedade na qual mais pessoas vivem em melhores condições) é resultado de menos constrangimento da ação livre das pessoas na busca cotidiana de seus interesses materiais. A pobreza se combate com trabalho árduo e não com ideias sobre como a riqueza é feia.
Para um republicano, ninguém tem o direito de me dizer no que gasto meu dinheiro ou se tenho ou não que ajudar os mais pobres. Ao contrário: é deixando que os não preguiçosos trabalhem em paz que teremos mais condições de ajudar a quem tem azar na vida ou é menos competente no massacre que é a vida cotidiana.
Com estas eleições, os Estados Unidos podem, finalmente, sair do “surto Obama”.
domingo, 7 de novembro de 2010
O Germe do Mal
Germinal é um filme cabeça baseado no livro homônimo de Émile Zola.
Meu primeiro contato com ele foi aos 16, 17 anos, quando tudo que você deseja na vida é ser diferente, causar impacto, fazer parte da mudança. Típico do mundo adolescente.
Hoje decidi rever o filme, pra contextualizar melhor uma aula do século 19, sobre a Revolução Industrial.
Germinal se passa em meados do século 19, quando os ideais revolucionários estão a pleno vapor - assim como a explosão das máquinas e do capitalismo.
A primeira vista, o filme prende a tenção do telespectador pelo sofrimento que é imposto à camada mais pobre da história, os trabalhadores, operários, mineiros de carvão que passam horas a fio enterrados nas minas, sujos dos pés à cabeça pelo pó fino do carvão que lhes corrói o pulmão e a vida. A história tem sua reviravolta quando chega um novato em busca de emprego. Logo, este contamina a todos com suas palavras e ideias de greve, de melhores condições de trabalho, de que o patrão deve sofrer tanto quanto seus subordinados. O germe marxista se espalha como um vírus entre os trabalhadores.
Em contrapartida, há um outro personagem, sem nome, que aparece apenas para jogar na cara dos grevistas marxistas que a luta deve se dar regada pelo sangue, destruindo a propriedade privada , o mal da humanidade. Este é o anarquista da história.
O filme causou um sentimento de asco, bem diferente daquele momento anos atrás. Um asco provocado por esse germe socialista tão comumente divulgado nas escolas, nos livros didáticos, nos palanques políticos, como sendo algo que irá mudar o mundo. Isso eu acredito: o mundo sem dúvida mudaria. O único problema está na interpretação. Ou melhor, eu diria que só não enxerga quem não quer. A mudança seria para a barbárie.
A lógica socialista diz claramente a que veio: tornar a todos iguais nivelando por baixo, às custas do sangue do opositor, do diferente, daquele que não concorda. Se não acredita, pergunte a Fidel Castro, a Hugo Chávez. Eles não mentem, não: está tudo às claras! Na lógica marxista não há lugar para a diferença: ou todos se curvam ou se curvam. Não há saída.
O filme deixa essa lógica muito clara: aqueles que não aderiram à greve foram perseguidos, chamados de traidores, maltratados e linchados. O povo pedia pão, mas se negava à trabalhar. Preferia morrer de fome à deixar de lado sua ideologia malígna. Muito bem, é essa a lógica esquerdológica estampada nas camisetas de Che Guevara que desavisados - ou não - desfilam orgulhosamente por aí.
O germe da barbárie se deu desde o início, desde a primeira linha mal traçada por Marx e Engels, que teve sua continuidade através de Lenin, Stalin, Mao Tsé-Tung, Hitler, Mussolini, Chavez, Morales, Lula, Obama.
Sim, Germinal é um filme cabeça para aqueles que não entendem nada da vida ou que não procuram saber. Para quem conseguiu tirar a venda dos olhos, é um filme que serve de alerta: não deixe que esse germe cresça dentro de você.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
A baixaria começou
Integrantes do MST agridem prefeito no interior de São Paulo
Integrantes do Movimento Sem Terra (MST) agrediram o prefeito de Borebi (SP), Antonio Carlos Vaca (PSDB), 64 anos, no início da madrugada desta segunda-feira. Ele foi socorrido a um hospital de Bauru e seu estado de saúde é estável. O grupo comemorava a vitória de Dilma Rousseff (PT) na eleição para a Presidência da República. O dirigente do MST Paulo Bernardo disse à polícia que o prefeito, ao tentar conter a comemoração, teria agredido primeiro os integrantes do movimento, que partiram para o revide. Já familiares do político e testemunhas afirmaram que Vaca tentou impedir que os integrantes retirassem as faixas de apoio ao candidato derrotado na disputa, José Serra (PSDB), que ele havia colocado na porta de sua casa.
Uma testemunha disse que, enquanto falava com os integrantes do MST, Vaca recebeu uma voadora nas costas e caiu com a cabeça no asfalto. Inconsciente, o prefeito foi levado para atendimento médico em Bauru com traumatismo craniano, passou por uma cirurgia de emergência e continua internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital da Unimed Bauru.
Pronto. A primeira demonstração de poder do governo de Dilma Roussef.
Se preparem. Eles estavam só "comemorando". Imaginem quando estiverem "contestando"...
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
GUERRA - Pondé
“DEMOCRACIA” É uma palavra quase tão gasta quanto a palavra “energia”. Quer ver?
Pode-se falar em democracia na escola (papo furado para não dar aula ou seduzir os alunos que não gostam de ter aula), democracia dos afetos (hoje transo seres humanos, amanhã, labradores, nada de “especismo”, porque cachorro é gente), democracia corintiana (dessa nem falo porque sou um palmeirense ressentido), democracia na família (mesmo que os pais paguem as contas, eles devem obedecer à base popular, isto é, os filhos), enfim, qualquer um pode inventar a sua própria democracia.
Cuba se acha democrática, quando na realidade é uma ilha sitiada por um sistema da idade da pedra. A Alemanha comunista, logo ditadura da pior espécie, se chamava “República Democrática Alemã”.
Chávez e Evo Morales (anões bolivarianos) também acham que é democrático ficar mudando a Constituição para ficarem no poder 200 anos. Não é o voto popular que garante sozinho a democracia (só pensa isso quem é analfabeto ou mentiroso). Esta é a nova esquerda que, como sempre quis, quer dominar a América Latina.
Nenhum regime de esquerda é democracia porque os esquerdinhas são essencialmente autoritários como os talebans.
Basta ver o que intelectuais de esquerda fazem no seu mundinho da universidade: destroem carreiras, inviabilizam pesquisas, aniquilam alunos promissores, constrangem moralmente a dissidência, só para perpetuar o domínio institucional. Eles são maioria absoluta e destroem toda liberdade intelectual em nome do “bem coletivo”.
Estão preparando no Brasil um dos maiores abusos em nome (adivinhe?) da democracia: o controle da mídia. E esta é uma forma de controle da cultura.
Alguns Estados se preparam para criar órgãos de controle da mídia. Claro que os que assim agem afirmam não ser intenção deles controlar a mídia, mas, como eu não acredito em Papai Noel, sei que não dizem a verdade.
O que é a democracia? Antes de tudo é uma palavra do grego arcaico. Depois, ganhou cidadania na filosofia política em geral para se referir a um sistema de governo baseado na “soberania popular”, e aí, meu amigo, a coisa vai para o brejo.
Por exemplo, eu posso ser um tonto, analfabeto de pai e mãe, e meu voto vale tanto quanto o seu, pessoa culta, esforçada para compreender o mundo e fazê-lo menos estúpido do que já é. Eis o brejo…
Logo, voto popular não basta para garantir coisa nenhuma. Todo mundo sabe que, como mostra o maravilhoso filme “Tropa de Elite 2″ (que merece um texto à parte), voto é mercadoria barata, qualquer bandido pode migrar do tráfico de drogas para o tráfico de influência (corrupção) e comercializar votos.
E, na democracia, voto vale ouro para quem o recebe e nada para quem o dá. A sobrevida da democracia depende de mecanismos finos de pesos e contrapesos que sustentam a liberdade e que vão muito além do simples voto de qualquer um. E é aí que a democracia brasileira está a um passo do abismo.
Qualquer discurso criminoso de “democratizar” a mídia através de órgãos tutelares do governo (seja ele qual for, mesmo um em que eu votei) deve ser rechaçado se não quisermos virar uma República da banana.
A mídia (TV, cinema, rádio, jornais, publicidade) deve ser absolutamente livre. Deve ter seus próprios mecanismos de autorregulação e jamais ser objeto de “fiscalização externa” (que será sempre ideológica, mesmo que contem historinhas de fadas para dizer que não é).
As melhores intenções neste caso serão sempre criminosas a serviço do “mal”. Mídia boa é mídia incômoda. Para além de qualquer crítica que se possa fazer à mídia, ela é a principal arma contra sistemas totalitários que amam a burrice pública da unanimidade.
A pior forma de controle da mídia é aquela que se diz em nome do “combate democrático aos preconceitos” ou da “democratização social” porque se faz invisível usando a palavra mágica “democracia”.
Querem uma mídia democrática? Deixem-nos em paz e aguentem o tranco. Esses órgãos de controle da mídia devem ser encarados como uma declaração de guerra.
Você tem medo da liberdade?
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
O Gato
"O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.
Mas é um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.
É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.
No passado se dizia que esse ronron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.
Tudo bobagem, despeito.
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.
( Ferreira Goullar)
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Karl Kraus ( Pondé)
Perdi alguns amigos nos últimos dias. Que triste. Por quê? Porque no dia 11/10, nesta coluna (“Vai encarar?”), disse que sou contra o aborto, e isso é imperdoável no mundo “inteligentinho”. Mas aumentei a dose de antidepressivo e acordei melhor hoje.
Valeu a pena, muita gente “me encarou”, e isso é o objetivo do colunista, não? Mas muita calma nessa hora. Nada é tão evidente assim. Muita gente acha que não é essa a função do colunista (e isso é típico da sensibilidade de classe média que domina o debate público nos últimos anos): queremos fazer e pensar o que fazemos e pensamos, mas exigimos que os outros pensem que somos “bonitinhos” em tudo o que fazemos e pensamos. A sensibilidade de classe média infantiliza o mundo.
Na realidade, hoje em dia quase todo mundo quer agradar a todo mundo. Uma praga infantil.
As crianças assim o são por “trauma” diante da própria fragilidade, como nos diz a grande escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís em seu ensaio “Contemplação Carinhosa da Angústia“. Mas um adulto o é por mera covardia e desejo de ser desejado.
Também vivo em pânico, com medo de que minha mulher me abandone e de que me achem feio. Somos miseráveis afetivos mesmo, fazer o quê…
Mas, existe luz no final do túnel. Recentemente foi lançado no Brasil, pela editora gaúcha Arquipélago, um livro fabuloso para quem, como eu, cultiva o pensamento sem medo: “Aforismos“, do jornalista iconoclasta austríaco Karl Kraus (1874-1936). Iconoclasta é alguém que tem por hábito quebrar o coro dos contentes.
Por exemplo, hoje em dia, chorar por foquinhas fofinhas, ter medo das feministas, falar que somos a pior espécie do planeta e sonhar com um mundo dominado por golfinhos ou “povos da floresta” são crenças do coro dos contentes.
Eu acho o contrário: se o mundo tivesse ficado na mão dos “povos da floresta”, estaríamos na idade da pedra e adorando árvores. Os portugueses “nos libertaram” das trevas.
Outro exemplo de crenças infantis é “um mundo sem guerras é possível”. Essa então é de doer. Lembro-me, na minha infância, de ouvir isso no concurso de Miss Universo: “World peace” era o sonho de todas elas. Não diziam coisas muito inteligentes, mas eram bonitas e isso, para nós, homens, muitas vezes basta.
Claro que ninguém normal gosta de guerra. Mas, “gosto” nada tem a ver com isso. E também não é uma mera questão de interesses econômicos e políticos do tipo paranoia foucaultiana: “Oh! O sistema! O sistema é malvado e nos controla!”. Guerras existem porque simplesmente existem razões para se odiar.
Isso é feio, mas é assim mesmo. Às vezes, não adianta “sentar e conversar”. O mundo não é o que Obama pensa que seja, quando sentado em seu gabinete chique sonha com seu mundinho cor de rosa onde todos cabem como bonequinhas cor de rosa. Às vezes, e muitas vezes, infelizmente, somos obrigados a ir à guerra e matar e sermos mortos e nada vai mudar isso.
A grande mentira dos “cor de rosa” é que, por debaixo do “amor a paz” que pregam, o que existe é a afirmação de que só o que eles odeiam é que é justo. A guerra deve ser evitada justamente porque existem razões racionais (redundância proposital) para fazermos guerras. Para algumas pessoas, em determinadas situações, o ódio é único afeto “justo”.
Por exemplo, muitos fundamentalistas islâmicos nos odeiam (nós, ocidentais) porque somos o que somos: acreditamos na democracia (para eles, um regime de “mulherzinha”), adoramos dinheiro (apesar de mentirmos sobre isso), praticamos sexo como descarga fisiológica de prazer, como gatos no telhado, enfim, porque achamos o “mundo deles” o fim da picada e o nosso mundo, legal.
Comece sua semana com duas pérolas do Karl Kraus: “Isso e, apenas isso, é o conteúdo de nossa cultura: a rapidez com que a imbecilidade nos arrasta em seu turbilhão“.
E mais uma: “Nada é mais tacanho do que o chauvinismo ou o ódio racial. Para mim, todos os seres humanos são iguais; há idiotas em toda parte e tenho o mesmo desprezo por todos. Nada de preconceitos mesquinhos!”
Acabe seu café da manhã. Coragem. Boa semana.
domingo, 24 de outubro de 2010
Ancestralidade - Pondé, 18/10/10
UM HOMEM deve reconhecer seus ancestrais. Existem várias formas de ancestralidade. Nossos autores prediletos são nossos patriarcas.
O primeiro texto que me marcou foi a Bíblia. Abraão e sua solidão diante de um Deus que armou sua tenda no deserto me deram um senso estético que nunca perdi. Seus profetas, num combate contínuo contra a estupidez do povo, fizeram de mim um cético com relação às virtudes populares.
Na medicina, Freud foi um encontro definitivo: o homem é um barco à deriva num mar de pulsões autodestrutivas. Vive como pode num mundo onde sua felicidade não parece fazer parte dos planos do Criador. O Deus do ateu Freud é arrasador. Um judeu ateu é sempre um drama maior do que qualquer ateu, porque se assemelha à agonia de um vulcão.
Já na filosofia, o viés trágico se impôs com a descoberta de Nietzsche e sua filosofia do martelo, cujo desprezo mortal pela covardia e pelo ressentimento se tornou em mim uma segunda natureza. Sua política, uma espécie de anarquismo aristocrático, é sempre perigosa para os amantes dos rebanhos.
O ceticismo dos gregos, de Montaigne e de David Hume abalou para sempre minha capacidade de fé na razão, não em Deus, como pensa a vã filosofia.
Nunca acreditei muito no ser humano: considero o otimismo, principalmente hoje em dia, um desvio de caráter. Santo Agostinho e Pascal, cristãos pessimistas, me ensinaram que o cristianismo é uma história do homem combatendo ingloriamente (e cotidianamente) sua natureza afogada no mais sofisticado orgulho e na mais profunda inveja (de Deus). Quando me perguntam qualquer coisa sobre o ser humano, antes de tudo, penso como um medieval: os sete pecados capitais estão quase sempre certos. Somos pó que fecha os olhos diante do vento.
Dostoiévski é sempre essencial. Para mim, uma de suas descobertas capitais é que, ao contrário do que diz nossa miserável ciência da autoestima, apenas quando encaramos o mal (a “sombra” de uma espécie abandonada ao próprio azar) em nós é que recuperamos a vontade de viver. Só esmagando o orgulho com a humildade de quem se sabe insignificante é que vale a pena apostar no dia a dia.
Entre Nietzsche e Dostoiévski, aprendi que o niilismo, “esse incômodo convidado para o jantar”, veio pra ficar e é apenas diante dele que vale a pena exercer a filosofia.
E o judeu Rosenzweig? Definitivo para quem pressente que a metafísica nada mais é do que pensamento mágico a serviço do medo da morte. E que não é a esperança mágica que deve nos guiar, mas a percepção de si mesmo como milagre em meio ao pó que em nós estremece. Rosenzweig pensa como o homem bíblico.
Quando “decidi” que a academia era pequena sem a mídia, os “jornalistas filósofos” passaram a marcar meu horizonte profissional. Otto Maria Carpeaux descreveu a imagem máxima da relação entre espírito e corpo: quando o primeiro se levanta, o segundo se põe de joelhos.
Nelson Rodrigues, que estava certo em tudo que falava, escrevendo uma obra entre Santo Agostinho, Dostoiévski e Freud, iluminou um fato consumado: se o mineiro for solidário apenas no câncer, então tudo é permitido.
Paulo Francis, uma eterna falta entre nós, percebeu que o medo e a mentira pautariam a vida intelectual futura e que o “bem político” seria a nova face da estupidez do pensamento público.
E finalmente a praga da “fé política”. Contra essa, Edmund Burke e Tocqueville são bálsamos essenciais. Tocqueville, principal referência para entendermos a democracia, nos alertou para a natural vocação que esta tem para uma nova forma de tirania, a tirania da maioria. Antes de tudo, a democracia fez os “idiotas” (expressão rodriguiana) descobrirem que são maioria.
Burke nos lembrou, contra os que “amam a moda”, que a sociedade é uma comunidade moral de almas, que reúne os mortos, os vivos e os que ainda não nasceram. Para Burke, é apenas neste arco de ancestralidade que o homem se faz homem, contra a banalidade do presente que nos assola.
Enfim, quem conhece sua ancestralidade, mesmo quando caminhando no vale das sombras, nunca está só.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
Tartarugas podem voar
Tartarugas podem voar
Lakposhta hâm parvaz mikonand
Bahman Ghobadi
2004
Irã-Iraque
Fazia tempo desde meu último filme iraniano. Mas algo que guardo em comum entre todos os filmes produzidos por este país é a dor, a tragédia e em alguns, uma pontinha de esperança.
A história se passa num campo de refugiados curdos - minoria étnica perseguida por Saddam Husseim - onde metade da população é formada por crianças que perderam seus pais pelas mãos do exército de Saddam. Além do campo há uma pequena vila, com moradores também desgastados pela guerra.
Quem comanda tanto a vila quanto o campo de refugiados - na fronteira entre Irã e Iraque - é um esperto garoto apelidado de Satélite, dada sua facilidade de comunicação e sua habilidade para lhidar com as antenas do vilarejo. Satélite, assim como quase todas as criaças dali, perdeu seus pais na guerra. As crianças (em sua maioria mutiladas), aos comandos do garoto, passam o dia recolhendo minas terrestres e vendendo-as para um intermediário - que por sua vez as revende para a ONU.
Dentro desse contexto, o filme retrata os dias anteriores à ocupação norte-americano ao Iraque e a queda de Sadam. Os anciãos do vilarejo compram uma parabólica para se informarem sobre o início da guerra. Satélite, com seu parco inglês, tenta traduzir os noticiários que vê. A história tem um reviravolta quando chegam ao campo de refugiados uma menina curda (Agrin) e seus irmãos - um bebê e um garoto sem braços. Satélite logo se apaixona pois enxerga na triste Agrin alguém como ele.
Ao longo do filme se descobre o passado traumático da garota e a clarividência do irmão sem braços - que prevê a guerra e o fim dela.
O filme é cru, o cenário de guerra convence com seus destroços espalhados e a metáfora da tartaruga - que se assemelha a uma mina terrestre - dão o tão real e comovente ao filme.
Lakposhta hâm parvaz mikonand
Bahman Ghobadi
2004
Irã-Iraque
Fazia tempo desde meu último filme iraniano. Mas algo que guardo em comum entre todos os filmes produzidos por este país é a dor, a tragédia e em alguns, uma pontinha de esperança.
A história se passa num campo de refugiados curdos - minoria étnica perseguida por Saddam Husseim - onde metade da população é formada por crianças que perderam seus pais pelas mãos do exército de Saddam. Além do campo há uma pequena vila, com moradores também desgastados pela guerra.
Quem comanda tanto a vila quanto o campo de refugiados - na fronteira entre Irã e Iraque - é um esperto garoto apelidado de Satélite, dada sua facilidade de comunicação e sua habilidade para lhidar com as antenas do vilarejo. Satélite, assim como quase todas as criaças dali, perdeu seus pais na guerra. As crianças (em sua maioria mutiladas), aos comandos do garoto, passam o dia recolhendo minas terrestres e vendendo-as para um intermediário - que por sua vez as revende para a ONU.
Dentro desse contexto, o filme retrata os dias anteriores à ocupação norte-americano ao Iraque e a queda de Sadam. Os anciãos do vilarejo compram uma parabólica para se informarem sobre o início da guerra. Satélite, com seu parco inglês, tenta traduzir os noticiários que vê. A história tem um reviravolta quando chegam ao campo de refugiados uma menina curda (Agrin) e seus irmãos - um bebê e um garoto sem braços. Satélite logo se apaixona pois enxerga na triste Agrin alguém como ele.
Ao longo do filme se descobre o passado traumático da garota e a clarividência do irmão sem braços - que prevê a guerra e o fim dela.
O filme é cru, o cenário de guerra convence com seus destroços espalhados e a metáfora da tartaruga - que se assemelha a uma mina terrestre - dão o tão real e comovente ao filme.
Dois Irmãos
Dois Irmãos
Dos Hermanos
2010
Daniel Burman
Argentina
Realmente nós brasileiros temos muito o que aprender com os argentinos quando o negócio é cinema. Assistindo ao ótimo "Dois Irmãos" tive a impressão que talvez nunca vamos conseguir chegar à sutileza argentina quando se trata de cinema bom e simples.
O enredo é banal, os personagens poucos, mas o filme é delicioso. A história conta a relação conturbada entre os irmãos Marcos e Suzana, moradores de Buenos Aires. Com a morte da mãe - cuidada com todo carinho e dedicação pelo filho Marcos - Suzana (solteirona e viciada em trambiques imobiliários) decide comprar uma casa no Uruguai para o irmão (também solteirão e apaixonado por teatro). A história, que poderia enveredar pelos caminhos da tragédia familiar, mergulha numa mistura de momentos alegres e hilários - como na parte em que, através dos "jeitinhos" de Suzana, ela e o irmão entram de bicões numa festa na embaixada brasileira. No Uruguai, Marcos acaba se envolvendo com um grupo de teatro que prepara uma adaptação de "Édipo Rei".
O final dessa história é de uma leveza genial que só os argentinos poderiam dar.
Dos Hermanos
2010
Daniel Burman
Argentina
Realmente nós brasileiros temos muito o que aprender com os argentinos quando o negócio é cinema. Assistindo ao ótimo "Dois Irmãos" tive a impressão que talvez nunca vamos conseguir chegar à sutileza argentina quando se trata de cinema bom e simples.
O enredo é banal, os personagens poucos, mas o filme é delicioso. A história conta a relação conturbada entre os irmãos Marcos e Suzana, moradores de Buenos Aires. Com a morte da mãe - cuidada com todo carinho e dedicação pelo filho Marcos - Suzana (solteirona e viciada em trambiques imobiliários) decide comprar uma casa no Uruguai para o irmão (também solteirão e apaixonado por teatro). A história, que poderia enveredar pelos caminhos da tragédia familiar, mergulha numa mistura de momentos alegres e hilários - como na parte em que, através dos "jeitinhos" de Suzana, ela e o irmão entram de bicões numa festa na embaixada brasileira. No Uruguai, Marcos acaba se envolvendo com um grupo de teatro que prepara uma adaptação de "Édipo Rei".
O final dessa história é de uma leveza genial que só os argentinos poderiam dar.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Difamação? Eu lhe digo o que é difamação!
"Difamações derrubam Dilma".
Este é o enunciado de uma notícia do site do Yahoo!
Não sei se dou risada ou choro.
O riso seria por ver essa mau-caráter desbarrancando de vez no gosto eleitoral.
Já o choro seria por ver como algumas notícias ainda são extremamente manipuladoras.
Quais difamações? Difamação, segundo o dicionário, é a "tentativa leviana e maliciosa de destruir o bom nome ou prestígio de alguém, alardeando a grande número de pessoas fato ofensivo à reputação". O que se disse até agora sobre a questão do aborto e Dilma foi a mais pura apresentação dos fatos como eles são: Dilma e PT sempre foram favoráveis ao aborto e nunca se preocuparam em disfarçar. A não ser agora, já que o fato é divisor de águas entre eleitores.
E agora, essa senhora, ex-guerrilheira, ex-sequestradora, se diz devota e católica...E este é o tipo de religiosidade de Dilma:
“Fui batizada na Igreja Católica, mas não pratico. Mas, olha, balançou o avião, a gente faz uma rezinha”.
Se ainda existe alguma dúvida relacionada à Dilma e seu contato com a Igreja ou crença em algo, agora já não há. Quer comprovar? Dê uma olhada nesse site e assista ao vídeo.
Agora me diga: quem difama o quê?
Este é o enunciado de uma notícia do site do Yahoo!
Não sei se dou risada ou choro.
O riso seria por ver essa mau-caráter desbarrancando de vez no gosto eleitoral.
Já o choro seria por ver como algumas notícias ainda são extremamente manipuladoras.
Quais difamações? Difamação, segundo o dicionário, é a "tentativa leviana e maliciosa de destruir o bom nome ou prestígio de alguém, alardeando a grande número de pessoas fato ofensivo à reputação". O que se disse até agora sobre a questão do aborto e Dilma foi a mais pura apresentação dos fatos como eles são: Dilma e PT sempre foram favoráveis ao aborto e nunca se preocuparam em disfarçar. A não ser agora, já que o fato é divisor de águas entre eleitores.
E agora, essa senhora, ex-guerrilheira, ex-sequestradora, se diz devota e católica...E este é o tipo de religiosidade de Dilma:
“Fui batizada na Igreja Católica, mas não pratico. Mas, olha, balançou o avião, a gente faz uma rezinha”.
Se ainda existe alguma dúvida relacionada à Dilma e seu contato com a Igreja ou crença em algo, agora já não há. Quer comprovar? Dê uma olhada nesse site e assista ao vídeo.
Agora me diga: quem difama o quê?
Vai encarar? - Pondé
SOU CONTRA o aborto. Não preciso de religião para viver, não acredito em Papai Noel, sou da elite intelectual, sou PhD, pós-doc., falo línguas estrangeiras, escrevo livros “cabeça” e não tenho medo de cara feia.
Prefiro pensar que a vida pertence a Deus. Já vejo a baba escorrer pelo canto da boca do “habitué” de jantares inteligentes, mas detenha seu “apetite” porque não sou uma presa fácil. Lembre-se: não sou um beato bobo e o niilismo é meu irmão gêmeo. Temo que você seja mais beato do que eu. Mas não se deve discutir teologia em jantares inteligentes, seria como jogar pérolas aos porcos.
Esse mesmo “habitué” que grita a favor do aborto chora por foquinhas fofinhas, estranha inversão…
Não preciso de argumentos teológicos para ser contra o aborto. Sou contra o aborto porque acho que o feto é uma criança. A prova de que meu argumento é sólido é que os que são a favor do aborto trabalham duro para desumanizar o feto humano e fazer com que não o vejamos como bebês. E não quero uma definição “científica” do início da vida porque, assim que a tivermos, compraremos cremes antirrugas “babyskin” com cartão Visa.
Agora o tema é o “retorno” do aborto. O aborto entrou na moda neste segundo turno. É claro que esse retorno é retórico. Desde Platão, sabe-se que a democracia é um regime para sofistas e retóricos. A relação entre democracia e marketing já era sabida como essencial desde a Grécia Antiga. Por que o espanto quando os candidatos, sabendo que grande parte da população brasileira é contra o aborto (talvez por razões religiosas vagas, talvez por “afeto moral” vago), se lançam numa b atalha pelo espólio do “direito à vida”?
O marketing é uma invenção contemporânea, mas a necessidade dele é intrínseca a qual quer técnica que passe pelo convencimento de uma maioria, desde a mais tenra assembleia de neandertais.
A democracia é, na sua face sombria, um regime da mentira de massa. Quando essa mentira de massa é contra nós, reclamamos.
Não há nada de evidentemente justo em termos morais ou de moralmente “avançado” na legalização do aborto. O que há de evidente em termos morais é a desumanização do feto como processo retórico (exemplo: “Feto não é gente”) e a defesa de uma forma avançada de “safe sex”: “Quero transar com a “reserva de comportamento legal” a meu favor. Se algo der errado, lavo”.
E não me venham com “questão de saúde pública”. Esgoto é questão de saúde pública. A defesa do aborto nessas bases é apenas porque o aborto legal é mais barato. Resumindo: “Safe sex, cheap babies”. E não me digam que o feto “é da mulher”. O feto “é dele mesmo”. E não me digam que “todo o mundo avançado já legalizou o aborto”, porque esse argumento só serve para quem “ama a moda” e teme a solidão.
Não pretendo desqualificar a angústia de quem vive esse drama. Longe de mim! Mas em vez de gastarmos tanta “energia social” na defesa do aborto, por que não usarmos essa energia para recebermos essas crianças indesejadas?
Vem-me à mente dois exemplos, aparentemente de campos “opostos”. Deveríamos aprender com a Igreja Católica e seu esforço de criar redes de recepção dessas crianças, aparando as mães em agonia e seus futuros filhos à beira da morte.
Por outro lado, são tantos os casais gays masculinos (os femininos sofrem menos porque dispõem de “útero próprio”) que querem adotar crianças e continuamos a julgá-los, equivocadamente, penso eu, incapazes do exercício do amor familiar.
Sou contra a legalização do aborto porque o considero um homicídio. Muita gente não entende essa implicação lógica quando supõe que seriam razoáveis argumentos como: “A legalização do aborto permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz”.
Agora, substitua a palavra “aborto” pela palavra “homicídio”, como fica o argumento? Fica assim: “A legalização do homicídio permite a escolha livre. Se sou contra, não faço. Se minha vizinha for a favor, ela faz”.
Quem é a favor do aborto não o é por razões “técnicas”, mas por “gosto” ideológico.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Patético - Pondé
O QUE é mais importante na vida: ter ou ser? O que adianta ganhar o mundo e perder a alma? Para aqueles que não creem na alma, pode ser uma boa, não? Se a vida não tiver sentido, quero passá-la num hotel cinco estrelas com uma mulher bonita do lado. E elas são caras. Amaldiçoados somos todos nós, mas é melhor ser infeliz com grana.
Sou do time de Nelson Rodrigues (em tudo): dinheiro só compra amor verdadeiro.
Uma forma fácil de você fingir que é legal é passar por alguém “superior” ao dinheiro. Eu, que sou um miserável mortal, confesso: adoro dinheiro. E confio mais em quem confessa que faria (quase tudo) por dinheiro. Desconfio de quem diz não dar valor ao dinheiro. Normalmente se trata de uma falsa santidade.
Os cínicos costumam dizer que perder a alma pode ser divertido se você tiver bastante grana. Outros afirmam que só quem pode comprar tudo o que o dinheiro pode comprar sabe o que o dinheiro não pode comprar. Lembremos a excelente campanha publicitária do Mastercard “priceless”: só quem tem Mastercard sabe o que não tem preço. Promessas de pobres sobre a própria integridade são bravatas. Quando você não tem nada, é fácil dizer que não dá valor a nada.
Diante de questões como essas, gosto de citar uma passagem (supostamente verdadeira) da vida de Napoleão Bonaparte, o cavaleiro da modernidade. Napoleão estaria conversando com o czar da Rússia sobre o futuro das relações entre a França revolucionária e a Rússia quando o czar disse (um tanto horrorizado com a “gula pelo poder” daquele falso imperador Napoleão, um reles novo rico): “Eu luto pela honra, o senhor luta por dinheiro”. Ao que Napoleão teria respondido: “Cada um luta pelo que não tem”.
Suspeito que muito do desprezo por dinheiro é na realidade falsa virtude. E falsa virtude é uma das qualidades humanas mais democráticas: todo mundo tem. É sempre chique você desprezar dinheiro e acusar de ganancioso quem não o faz. Mas a verdade é que dinheiro nunca é apenas dinheiro. Faz parte da estratégia da falsa virtude dizer que é.
Dinheiro traz consigo amigos, mulheres, poder, satisfação, emoções, restaurantes bons, reconhecimento, segurança, remédios, psicoterapia, tempo livre, cultura, arte, vida familiar estável, boas casas, lareiras, vinho francês, férias, bons hotéis, filhos felizes, mulheres generosas na cama, sorrisos largos, poesia, romances avassaladores em cenários paradisíacos, uma maior expectativa de vida.
Fala-se muito dos ganhos da ciência, mas estes só foram possíveis porque a indústria farmacêutica existe e ganha dinheiro “vendendo” mais expectativa de vida e daí reinveste na pesquisa.
Adultos infantis dizem: “Maldita seja a indústria farmacêutica!”. Quero ver quando eles precisarem de remédios. Claro que grana não impede você de ter um câncer, mas pode garantir mais acesso à quimioterapia, a melhores hospitais e a médicos mais atenciosos. Claro que você pode deprimir numa BMW, mas ainda assim você estará numa BMW, não? Coitado de você, tão triste numa BMW…
Sou do time de Nelson Rodrigues (em tudo): dinheiro só compra amor verdadeiro. Só almas superficiais não têm um preço. Só elas não sabem de nossa tragédia: sempre estivemos à venda.
Haveria algo que dinheiro não compra? Amizade sincera, fidelidade, felicidade? Uma grande desgraça na vida é que, sim, você pode ter muita grana, mas não ter nada disso. Mas dificilmente a culpa será do dinheiro. Este sempre facilita as coisas e não o contrário.
A maior parte daqueles que falam mal do dinheiro é porque simplesmente não o tem. E aí está a falsa virtude, aquela mesma que atrapalha qualquer “crítica” verdadeira a um mundo miseravelmente submetido ao dinheiro. Os que se afirmam livres do desejo pelo vil metal são os piores quando têm a chance de tê-lo. Só quem abre mão da própria vida está acima do dinheiro, o resto é conversa mole.
Dinheiro reúne em si todas as qualidades humanas. Brilha, emociona, trai, acumula, se vinga, projeta, constrói, destrói, oprime, esmaga, ergue, resolve e cria problemas, sufoca, faz respirar, faz chorar, faz promessas, mente. Cheio de paixões, patético, como você e eu.
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