domingo, 13 de julho de 2014

Marcas

The Broken Circle Breakdown
2012
Felix van Groeningen
Bélgica

Inclassificável. Dolorido. Triste. Sim, acho que é essa a melhor definição de Alabama Monroe (The broken circle breakdown). 
Este é um daqueles filmes que me fez chorar, muito, copiosamente, compulsivamente, e que deixa meus olhos rasos d´água apenas ao lembrar.
Não consigo digerir filmes assim com facilidade. Na verdade tenho uma peculiaridade bastante incômoda para a convivência em grupo: não consigo conversar ou comentar qualquer coisa após assistir filmes que me tocam dessa forma. Todas as palavras me fogem ou soam ridículas. Perco a paciência ao me perguntarem "o que achei do filme". Sobre cinema pouco se "acha", muito se sente. É coisa de pathos, feeling, do mundo inatingível. Assim me senti após Alabama Monroe. Extasiada e triste ao mesmo tempo. Como é possível fazer um filme musical, dramático e crítico ao mesmo tempo? Temáticas opostas no mundo cinematográfico, mas não na vida. Talvez resida aí a beleza do filme. 
Num ritmo assimétrico, a história do casal formado por uma tatuadora e um músico de bluegrass na Bélgica (sim, há bluegrass fora do EUA!) se desenrola da paixão inicial ao desfecho trágico. A filha do casal, com apenas 6 anos, enfrenta o cancêr. A morte inevitável chega (lembrando se tratar do cinema belga e não americano, em outras palavras, não espere por piedade. Isso é cinema para gente grande.) e com ela a sombra do fim do casamento. O enredo aparenta ser dramalhão mexicano, mas se sustenta maravilhosamente entre cenas musicais deliciosas. Sim, é possível e apenas compreensível quando vivenciado. 
Didier conhece Elise ao admirá-la através da vitrine do ateliê de tatuagem "Nunca vi tatuagens tão belas". É para o corpo de Elise que ele olha. Ele diz não saber nada tão importante que merecesse ficar marcado no corpo para sempre. Elise então - em uma das cenas mais belas do filme - afirma que coisas que deixaram de ter importância foram recobertas por outras, mais belas. Diz isso apontando para suas próprias tatuagens, nomes de antigos amores, agora invisíveis sob as tintas coloridas de belos desenhos. 
E o círculo do título original, então quebrado com a morte precoce da filha do casal, se fecha perfeitamente ao final, na derradeira tatuagem escrita na virilha de Elise: Alabama Monroe. 
A discussão religiosa também está lá. A relação ética e moral da Bélgica e EUA também grita pela boca de Didier: células-tronco, eutanásia. Mas aqui nada disso me interessa. Ficarei apenas com as marcas do corpo, que inevitavelmente marcaram a alma, mas acima de tudo estão alí, expostas a olhos nú, recobertas por novos amores e novas dores. 




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