Onde está Woody Allen não há espaço para mais ninguém. John Turturro assina a direção de Fading Gigolo - com o horrível título "Amantes a Domicílio" em português - mas quem realmente toma a cena e incorpora o filme é Allen. A história por trás do filme é mais interessante: Turturro comentou com seu barbeiro que adoraria dirigir Woody um dia. Eis que o linguarudo do barbeiro, que também corta as madeixas de Allen revela o segredo. Woody liga no mesmo instante para Turturro, aceitando a proposta. Eis um belo filme.
Leve, delicado, nada pretensioso. Turturro quase desaparece como ator interpretando Fioravante, o amante gerenciado por Allen. Fioravante sabe do que uma mulher gosta e precisa: uma boa conversa pra curar a solidão da vida monótona do casamento ou da viuvez.
O que mais me espantou no cinema não foi o filme em si, mas sim a reação da plateia que lotava a sessão de domingo a noite, ao se deparar com os judeus ortodoxos do filme. Por menos corriqueiro que seja se deparar com os ortodoxos aqui no interior de São Paulo, a perplexidade dos espectadores era tamanha que senti vergonha alheia. Não sabiam nem sequer qual religião era aquela ali exposta. A ignorância se completou quando ao meu lado, a mais indignadas das pessoas, ria dos cachos de cabelo dos meninos judeus, e de repente gritou de alegria ao ler a marca "Dior" em uma das vitrines pela qual passeava o personagem. E o pior: a decepção da maioria com o desfecho final do filme, que não revelarei, obvio. Quem assistir saberá. Em se tratando de Allen e Turturro, não poderia e não deveria ser diferente. Ainda bem.
Eu quero ser um gigolô de Woody Allen.
Quero dar vida às pessoas solitárias.
Quero fazer sorrir aqueles que já haviam desistido da vida.
Quero rir da cara da tradição.
Quero virar tradição.
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